08/05/2009 15:25
Inspirados pelos debates e encaminhamentos construídos no VII Encontro Anual da APP Bahia a FASE, o CIMI e a CPT fizeram várias reuniões em Itabuna em 2009 e assumiram conjuntamente o desafio de atuarem também como entidades responsáveis pelo Núcleo Regional Sul da APP, e de animadoras da AP – Assembléia Popular, na região cacaueira da Bahia.
FASE, CIMI e CPT já têm um longo histórico de parcerias, onde se construiu coletivamente a experiência do Fórum de Luta por Terra, Trabalho e Cidadania – Região cacaueira, alcançando e incorporando, em graus variados, dezenas de entidades, movimentos sociais, ativistas populares e sindicais de vários municípios do Sul da Bahia. Por causa desse acúmulo anterior, entendeu-se que a melhor opção para a interiorização da APP Bahia, e para aumentar a capilaridade da AP no Sul do estado, seria através da revitalização da experiência do FLTTC que sofreu refluxo nos anos de 2007 e 2008.
Assim sendo, FASE, CIMI e CPT construíram uma convocatória que foi preliminarmente debatida em evento das Pastorais Sociais da Diocese de Itabuna em março passado, onde a proposta de realizar um encontro, para debater alternativas de desenvolvimento com participação popular, não só foi aceita, mas angariou novas entidades para sua preparação e divulgação. A versão definitiva do convite para o Encontro Regional pode ser vista aqui. A idéia central deste encontro era possibilitar aos participantes acessar informações sobre projetos que vêm sendo impostos à região sem nenhuma consulta à população (caso da monocultura do eucalipto; mineração; Ferrovia Oeste-Leste; Porto Sul), para que mais pessoas tivessem condições de analisar seus riscos, prejuízos e eventuais benefícios. Visualizou-se ainda que esse acesso a informações deveria ser contextualizado com casos concretos já acontecendo na Bahia, por isso o convite a entidades e ativistas de áreas onde estas iniciativas já existem de fato. Buscava-se reunir um conjunto de dados e informações que permitisse às pessoas perceber as características que definem este tipo de modelo de desenvolvimento apoiado e estimulado pelos governos federal e baiano.
Os próximos passos foram a formulação, debate e definição da agenda e metodologia deste Encontro, o que demandou contatar entidades e ativistas de Ilhéus para fazer a exposição sobre a construção do Porto Sul; e de Caetité, para falar sobre a extração de minérios e construção da Ferrovia Oeste-Leste; bem como, com o CEPEDES, de Eunápolis, responsável pela intervenção sobre a monocultura do eucalipto e sua expansão.
No dia 25/04, superando todas as expectativas, mais de 100 pessoas, integrantes de 38 diferentes entidades populares, sindicais, sociais, e ambientais, de 12 municípios da Região Sul da Bahia, compareceram ao Encontro, numa clara demonstração de que existe interesse da sociedade civil em participar de debates, e da escolha de alternativas sobre desenvolvimento. Os expositores conseguiram trazer dados e informações sobre os grandes projetos que já vêm sendo implementados, realçando os impactos sociais e ambientais causados pela monocultura do eucalipto; e extração de minérios; e de como tudo isso pode aumentar ainda mais, com a construção da Ferrovia e do porto. Percebeu-se que estes fatos constituem um conjunto deliberado de ações que obedece os interesses das empresas e dos governos que defendem essas empresas. Trata-se de um modelo de desenvolvimento feito para atender esses interesses. Mas as pessoas presentes querem alternativas de desenvolvimento que respondam às necessidades da maioria da população da região, da Bahia e do Brasil.
O plenário reuniu pessoas e experiências reveladoras da sociobiodiversidade existente no Sul da Bahia. Os povos indígenas compareceram em número expressivo, trazendo as angústias e esperanças dos Tupinambás de Olivença; Tupinambás da Serra do Padeiro; e Pataxós Hã Hã Hãe. Deram depoimentos importantes sobre suas lutas pela demarcação de suas terras e reconhecimento de seus territórios, além de exporem impactos que vêm sendo trazidos pelas propostas de construções de barragens em suas terras. Agricultores familiares e sem-terra da região de Mascote falaram sobre o avanço da Veracel que ocupa terras com sua monocultura de eucalipto, e impede a reforma agrária. Moradores de comunidades situadas na área onde o Governo da Bahia pretende construir o Porto Sul, em Ilhéus, falaram sobre as ameaças que vão destruir seus modos de vida tradicionais e impedir a continuidade do turismo, além de comprometer remanescentes de Mata Atlântica que conseguiram sobreviver até hoje.
Ao término do encontro, as pessoas presentes comprometeram-se a dar continuidade, revitalizada e renovada, à experiência do Fórum de Luta por Terra Trabalho e Cidadania – Região cacaueira (FLTTC), sendo que novas entidades assumiram o compromisso de se somarem à FASE, CIMI e CPT na animação deste espaço plural. Foi agendada uma reunião para o dia 16/05, já com a presença e participação da CTB Itabuna; Pólo Sindical Sul FETAG Ba.; MNU; Quilombo; ARES Camacan; PJ; Ação Ilhéus.