06/07/2020 13:56
O teto de vidro, que se ergueu no país com a eleição de Jair Bolsonaro, estaria trincado e seu governo desmoronando lentamente? Talvez isso explique seu aparente silêncio dos últimos 20 dias? Não sabemos ainda! Sabemos apenas que além da perversa crise econômica que se abate sobre boa parte da população (mais de 12 milhões de desempregados segundo o IBGE), a previsão do PIB para 2020 é de um tombo de 6% ou mais. Temos aí dois ingredientes básicos para adicionar mais um tempero à bancarrota da política econômica em curso, até o final de seu governo.
Sabemos ainda que o país também atravessa uma crise política que mais se assemelha a uma guerra fratricida¹ entre os principais pilares do mainstream da política local que deram sustentação à eleição de Bolsonaro. O resultado parece ser um “todos contra todos” no patamar de cima, desenrolando-se nos noticiários um cabo de guerra diário, especialmente contra o Legislativo e o Judiciário, patrocinado pela “tropa de choque digital” do chamado Gabinete do Ódio² e seus asseclas de plantão contra a democracia. Não sabemos no que isso vai dar, pois a propulsão ao autoritarismo por esses comandos é mais do que impulso. No entanto, o estrago já está feito, pois, no dia-a-dia o povo é quem paga esse pato.
Há que se atentar ao fato de que há aí forte reação do Legislativo e Judiciário que poderá fazer descer ainda mais ao fundo a real compreensão sobre o que, como e quem verdadeiramente elegeu a chapa Bolsonaro-Mourão. É aguardar para ver os desdobramentos das investigações impetradas pelo Superior Tribunal Federal (STF) contra a tropa de choque digital e também do Ministério Público que chegou bem perto do senador Flavio Bolsonaro, filho 01 do presidente, com a prisão de seu ex-assessor, Fabrício Queiroz.
O caos dentro do caos
Como se não bastassem as crises econômica e política que paralisam o país e o jogam no abismo de 2021 e 2022, sabemos também que o Brasil – sob o governo Bolsonaro –atravessa uma terrível crise sanitária que já tirou a vida de mais de 64 mil pessoas. Uma marca dessa crise é o desprezo da política do governo brasileiro pelos procedimentos básicos de proteção contra o novo coronavírus. Nos primeiros casos de contaminação, Bolsonaro profetizou que seria apenas uma gripezinha e isso foi a senha principal que resultaria no modo como a saúde coletiva passaria a ser tratada durante a pandemia. Hoje, três meses após os primeiros casos morte confirmada pela Covid-19, alcançamos a triste marca de mais de 1,5 milhão de infectados.
Esse mesmo governo (não é brincadeira!) acabou de vetar a obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção individual em órgãos e entidades públicas, em estabelecimentos comerciais, industriais, templos religiosos, instituições de ensino e mesmo em lugares fechados em que haja pessoas reunidas. Esse tipo de manifestação do governo só joga ainda mais a população na direção do vírus e da morte.
Enquanto isso, as forças econômicas que deram sustentação eleitoral, e a mantem ainda hoje, se refestelam na crise: dados do IBGE (Índice de Gini³) indicam que a concentração de riquezas se ampliou durante a pandemia. Apesar de estarem mais ricos, a postura das elites econômicas brasileiras, antes conhecidas por seu apego às bases que sustentaram e sustentam a escravatura na história do trabalho no país, hoje assume uma face ainda mais horrenda na pandemia porque, em nome da economia girando, com sucesso força o fim do isolamento social.
No entanto, também que há quem resista e se coloque contra esse teatro de horrores. Internacionalmente, no dia 28 de junho, ocorreu o ato mundial Stop Bolsonaro, que teve manifestações presenciais e virtuais em pelo menos 50 cidades de 23 países. Esse ato denunciou o que foi chamado de “descaso do governo Bolsonaro em relação à pandemia do novo coronavírus”, bem como os grupos fascistas que estão atentando contra a democracia no país.
No Brasil, organizações da sociedade civil, movimentos sociais, partidos políticos e profissionais da comunicação comprometidos com a democracia, dentre outros, vem se manifestando contra essa política do governo brasileiro. A sociedade civil brasileira está agindo, realizando pedidos de impeachment com campanhas e ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pela cassação da chapa Bolsonaro-Mourão, com mulheres unidas para “derrubar Bolsonaro”, com frentes e coalizões pela democracia e, durante essa semana, com uma ação de unidade nacional que é a campanha pelo “Fora Bolsonaro”.
A campanha nacional contará com atos massivos e simbólicos em todo o país (10/07), Plenária Nacional pelo Fora Bolsonaro (11/07) que articula organizações e entidades que reconhecem a inviabilidade da permanência desse governo. É uma campanha que considera a possibilidade de superação da crise sanitária, econômica, ambiental e social, mas a condiciona à saída do governo Bolsonaro, Mourão e Guedes.
Como se vê, o país vive mesmo uma ebulição social em diferentes caminhos que indicam mais do que uma insatisfação contra o “teto de vidro” do governo. Não sabemos mesmo é se esse “teto de vidro” vai aguentar e até quando!
[1] Guerra ou conflito em que os habitantes de um mesmo país ou os membros de um mesmo povo se matam uns aos outros.
[2] Grupo que coordena ações em redes sociais do presidente e influencia fortemente suas opiniões.
[3] Mede a concentração de renda.