17/07/2020 15:16
FASE Bahia¹
Desde o início da pandemia no Brasil, meados de março, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes áreas tiveram que se reinventar. Na FASE, isso não foi diferente e o home office surgiu como a grande saída para algumas funções. Mas como fazer educação popular nesses tempos? Como fazer assessoria técnica rural sem ir a campo? Na Bahia, a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), bem como os convênios com outros organismos que financiam as atividades da unidade tiveram que ser reorientados e aditivados, a exemplo do contrato com CAR SDR/Bahia Produtiva, levando-se em conta a nova dinâmica de trabalho e o remanejamento ou mudanças para uma ação não presencial.
Fernando Oiticica, educador da FASE na Bahia, explica que praticar educação popular requer presença física, construção coletiva, observação de questões sociais, culturais e econômicas das famílias e comunidades. “As atividades virtuais com a utilização das redes sociais, plataformas de videoconferência e WhatsApp foram nossa saída, mas a surpresa ficou por conta da inabilidade de parte da equipe na utilização das mídias digitais e no baixo alcance do sinal de internet no campo, o que limita a qualidade das ações”. Paulo Demeter, educador voluntário da FASE no estado, pondera que essa mudança de forma de atuação foi muito rápida e inesperada. “Em um primeiro momento, o isolamento se impôs com cada educador e educadora ficando em sua residência e a comunicação se dando de forma online. Depois, com a realização de reuniões virtuais”, analisa.
Os educadores, a partir do planejamento e distribuição de responsabilidades, têm buscado o aperfeiçoamento da utilização das mídias sociais e a construção tem sido coletiva, analisada e complementada por cada educador. “Esse novo método de trabalho mostrou para a equipe que podíamos fazer mais na interlocução de nossas ações. Possibilitou também a nossa inserção com maior ênfase nas questões de solidariedade e busca de soluções para mitigar os problemas das famílias em situação de vulnerabilidade social”, conta Oiticica.
Paulo ressalta que a equipe acompanhou a mobilização das entidades e coletivos envolvidos com a temática do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), e vem informando Sintraf’s, associações comunitárias e cooperativas sobre a aprovação da legislação que permite a utilização de recursos do PNAE para aquisição de alimentos de agricultores familiares e sua destinação às famílias de estudantes da rede pública. “Neste trabalho, integrantes da FASE mantém interlocução com o Conselho Municipal de Alimentação Escolar de Presidente Tancredo Neves, por exemplo, bem como pessoas que atuam nos setores de merenda escolar em outros municípios. Outra frente de atuação vem sendo a de coletar, sistematizar e socializar informações às famílias agricultoras com as quais a FASE se relaciona, sobre o acesso à renda básica emergencial”.
Do outro lado da tela
Para Paulo essa agilidade na relação online varia de acordo com o município e o grau de acesso à informação em cada região. “A existência ou não de casos de pessoas atingidas pela Covid-19, bem como a maneira mais ou menos severa com que cada prefeitura implanta e regula as medidas de distanciamento social também conta nessa questão. Alguns municípios suspenderam as feiras semanais, o que impactou muito a comercialização”.
Os agricultores e agricultoras, principalmente as lideranças, estão surpreendendo na maneira de se comunicar, apesar da instabilidade da internet. Cícera, agricultura familiar da comunidade Riachão do Meio, conta que a dificuldade é vender a produção. Além disso, a ela diz que está sentindo falta da assistência técnica, do aconchego, do olhar no olho, de estar perto das pessoas e sentir a força para dar ânimo necessário para o dia a dia de trabalho.
“A pandemia está se estendendo a cada momento e não sabemos até quando vai durar. Precisamos erguer nossa cabeça e, com apoio mesmo que distante, ver como o prejuízo pode ser menor. Está sendo difícil. Agora, no inverno, seria o momento de colheita das frutas e não temos ânimo para plantar e colher. O cacau, o cupuaçu, a graviola e a acerola estão sendo perdidas, não podemos vender. O contato pelo celular é importante para dar força e continuar trocando informações. Isso vai passar”, explica a agricultora.
[1] Equipe da FASE na Bahia com edição de Rosilene Miliotti, jornalista da FASE.