12/05/2014 14:15

Nota de falecimento

A Fase – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – compartilha o profundo pesar da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e de grande parte da sociedade brasileira diante do falecimento de Dom Tomás Balduino. Dom Tomás pertencia ao campo de uma Igreja libertadora com o qual a Fase se identificou e ao qual deve muito.

A trajetória de Dom Tomás na resistência à ditadura, no processo de criação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da CPT, e sua atuação destacada à frente das duas instituições tornaram-no merecedor do nosso mais profundo respeito e admiração. Por tudo isso, a morte de Dom Tomás nos afeta e nos faz solidários com a CPT, o CIMI, os dominicanos e todas e todos que lutaram a seu lado.

Saudações fraternais,

Letícia Tura
Evanildo Barbosa
Diretores executivos da Fase

Histórico de Dom Tomás*

Dom Tomás Balduino morreu aos 91 anos em decorrência de uma trombo embolia pulmonar, às 23h30 do último 2 de maio, na cidade de Goiânia. Em nota, a CPT lembrou o histórico de Dom Tomás ressaltando que ele “lutou por toda sua vida pela defesa dos direitos dos pobres da terra, dos indígenas, das demais comunidades tradicionais, e por justiça social”.

“Dom Tomás Balduino, o bispo da reforma agrária e dos indígenas, nos deixa seu exemplo de luta, esperança e crença no Deus dos pobres. Ficamos, hoje, todos e todas um pouco órfãos, mas seguimos na certeza de quem Dom Tomás está e estará presente sempre, nos pés que marcham por esse país e nas bandeiras que tremulam por esse mundo em busca de uma sociedade mais justa e igualitária”, destacou o texto.

Nascido em Posse, Goiás, em 31 de dezembro de 1922, Dom Tomás é filho de José Balduino de Sousa Décio, goiano, e de Felicidade de Sousa Ortiz, paulista. Seu nome de batismo é Paulo, Paulo Balduino de Sousa Décio. Compôs uma família de onze filhos, três homens e oito mulheres.

Fez o Seminário Menor – Escola Apostólica Dominicana – em Juiz de Fora (MG). E também os estudos secundários no Colégio Diocesano, dirigido pelos irmãos maristas, em Uberaba. Cursou filosofia em São Paulo e Teologia em Saint Maximin, na França, onde também fez mestrado em Teologia.

Lecionou filosofia em Uberaba e Juiz de Fora no início dos anos 50. Em 1957, foi nomeado superior da missão dos dominicanos da Prelazia de Conceição do Araguaia, no Pará, onde viveu de perto a realidade indígena e sertaneja. Para desenvolver um trabalho mais eficaz, fez mestrado em Antropologia e Linguística, na UnB, concluído em 1965.

Também estudou a língua dos indígenas Xicrin, do grupo Bacajá, e Kayapó. Para melhor atender a região da Prelazia, que abrangia todo o Vale do Araguaia paraense e parte do baixo Araguaia mato-grossense, fez curso de piloto de aviação. Amigos solidários da Itália o presentearam com um teco-teco com o qual prestou inestimável serviço junto a povos indígenas. Ajudou, ainda, a salvar perseguidos pela ditadura.

Em 1965, ano em que terminou o Concílio Ecumênico Vaticano II, foi nomeado Prelado de Conceição do Araguaia. Lá viveu, de maneira combativa, os primeiros conflitos com as grandes empresas agropecuárias que se estabeleciam na região. Em 1967, foi nomeado bispo diocesano da Cidade de Goiás. Nesse mesmo ano foi ordenado bispo e assumiu o pastoreio da Diocese, onde permaneceu durante 31 anos, até 1999 quando, ao completar 75 anos, apresentou sua renúncia e mudou-se para Goiânia. Seu ministério episcopal coincidiu, a maior parte do tempo, com a ditadura civil-militar (1964-1985).

Dom Tomás foi presidente do Cimi, de 1980 a 1984, e da CPT de 1999 a 2005. A Assembleia Geral da CPT, em 2005, o nomeou Conselheiro Permanente. Durante as comemorações dos seus 90 anos, a CPT homenageou-o dando o seu nome ao Setor de Documentação da Secretaria Nacional, que passou a se chamar “Centro de Documentação Dom Tomás Balduino”.

Foi designado, em 2003, membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), cargo que deixou por sentir que pouco ou nada conseguia contribuir para mudanças. Foi também nomeado membro do Conselho Nacional de Educação. Dom Tomás recebeu da Universidade Católica de Goiás (UCG), em 2006, o título de Doutor Honoris Causa. Em 2012, a Universidade Federal de Goiás (UFG) também lhe outorgou esse mesmo título.

O bispo também foi reconhecido internacionalmente. Em 2008, por exemplo, recebeu em Oklahoma City (EUA), da Oklahoma City National Memorial Foudation, o prêmio Reflections of Hope. A organização considerou que as ações de Dom Tomás são exemplos de esperança na solução das causas que levam a miséria de tantas pessoas em todo o mundo.

*Informações da CPT.