01/12/2022 17:36
*Paula Schitine e Júlia Motta
A série “Olhar Nativo – Na luta em defesa do bem viver” foi realizada por jovens quilombolas, ribeirinhos, agroextrativistas e indígenas de comunidades de Barcarena, no Pará, que participaram da oficina de audiovisual realizada pela FASE em parceria com a Negritar filmes e produções.
As atividades aconteceram com o apoio de facilitadores da área audiovisual. “Uma equipe de jovens negros comunicadores, a NEGRITAR, atuou como facilitadora da primeira oficina de produção de vídeos em aparelhos celulares, no âmbito do Projeto “Fortalecendo capacidades locais frente aos riscos naturais e antrópicos no Baixo Tocantins”, lembrou o coordenador adjunto da FASE Amazônia, João Gomes
Segundo ele, a segunda foi ministrada por jovens que foram capacitados na primeira. A FASE Amazônia teve o papel de mobilização de jovens nos diferentes territórios tradicionais, articulando a produção dos vídeos à realidades da juventude rural.
O resultado foi a produção de cinco curtas-metragens sobre comunidades da Amazônia. Os vídeos relatam as culturas e hábitos de diversos povos e seus territórios, que apesar de diferentes, enfrentam a mesma luta de resistência contra os grandes projetos de destruição de seus modos de vida.
João Gomes também ressalta a importância social e política dessas ações locais: “Este mergulho na história tem por objetivo entender quais são os processos de lutas e resistências atuais frente ao avanço dos mega-empreendimentos de infraestrutura e logística que estão ameaçando os modos de vida e os territórios tradicionais”, justifica
A jovem Graziele Azevedo, de 24 anos é ribeirinha da comunidade Ilha do Capim e estudante de mestrado na Universidade de Brasílisia. Ela participou da primeira oficina de produção audiovisual e da produção da série ‘Vozes em defesa dos territórios tradicionais’, no município de Abaetetuba, e hoje ela se tornou uma multiplicadora e formadora para outros jovens em outras oficinas. Grazielle conta que nunca tinha tido um contato tão próximo com uma produção audiovisual, apesar de valorizar esta linguagem. “Sempre gostei muito de fazer vídeos e fotos mas não numa perspectiva de usar esses elementos como forma de mostrar a cultura do meu território, as vozes do meu território. E a FASE proporcionou essa experiência pra nós das juventudes das comunidades ribeirinhas, quilombolas e despertou esse olhar para a questão audiovisual e a oportunidade de mostrar o nosso potencial”, comemora. “A gente tem de contar a nossa história a partir do nosso olhar, a partir das nossas vozes. E não deixar que os outros contem ou falem por nós. Então tem sido um aprendizado muito grande tanto para o nosso território e uma contribuição e retorno positivos”, conclui a estudante
As Produções
1. Aldeia Yetá – O primeiro vídeo da série mostra as tradições da pintura, da pesca e das danças do povo Aikewaka, da Aldeia Yetá. Com foco na pesca, um integrante da comunidade conta sobre o processo da atividade e o depois, com comemorações pela volta dos que foram trazer o peixe e festa para a distribuição do pescado com a comunidade.
2. Bom Remédio – Na segunda produção, conhecemos a comunidade quilombola e ribeirinha de Bom Remédio, localizada na Ilha de Abaetetuba, às margens do rio Assacu. Tendo como modo de sustento o açaí e a pesca, a comunidade é formada por pescadores e lavradores. Hoje, o território se encontra ameaçado pelos grandes projetos, como o do Porto da Cargil, que está sendo construído perto da comunidade e pretende explodir as pedras da beirada, que não só protege a ilha, como também é berço marinho, onde os peixes, que são a renda da comunidade, se reproduzem.
3. Abacatal – “Educação é um direito, Abacatal merece mais respeito!”. Com esse grito de protesto, a comunidade quilombola de Abacatal luta há três meses por educação digna em seu território. A Escola Manuel Gregório Rosa Filho, que tem 13 funcionários e 77 alunos, enfrenta a grande dificuldade de falta de compromisso do prefeito da cidade, que não paga os professores há quase de três meses.
4. Pirocaba – No quarto vídeo da série, a comunidade ribeirinha Pirocaba, também localizada em Abaetetuba, conta sua história. São cerca de 241 famílias que vivem em harmonia em seu território, tendo como atividades de sobrevivência a pesca, a agricultura, o artesanato e o agroextrativismo. A comunidade também sofre com o avanço dos grandes projetos. Recentemente, seu rio foi contaminado por um navio que afundou na Vila do Conde, e a construção do Porto do Cargil também é outra ameaça. Diante disso, um Protocolo Comunitário de Consulta, protegido por lei, foi criado para organizar a defesa da comunidade.
5. Ilha do Capim – No quinto e último vídeo da série, viajamos para a Ilha do Capim para conhecer a comunidade agroextrativista que vive no território há mais de 245 anos. Em harmonia com a natureza e com os animais, tendo mais de 80% de sua floresta nativa preservada, a comunidade desenvolve atividades baseadas no conhecimento tradicional, como a produção de mel, a pesca e o artesanato. As mulheres são a grande liderança território, conservando saberes ancestrais, lutando pela preservação e contra os grandes projetos destruidores.
Cinema Ribeirinho
Durante a exibição e debates dos primeiros vídeos, o cineasta local Luiz Arnaldo, classificou a iniciativa como inovadora e nomeou o estilo como “Cinema Ribeirinho”, por se tratar das vozes de povos invisibilizados propositadamente para facilitar o avanço dos megaeempreendimentos em seus territórios.
De acordo com João Gomes, a FASE tem o papel de facilitadora e o objetivo da oficina é “estimular a criatividade no uso dos celulares para fazer avançar a luta em defesa dos territórios tradicionais e da Amazônia”, conclui.
Os vídeos já estão disponíveis no canal da FASE no youtube, é só acessar a playlist
https://www.youtube.com/@ONGFase](https://www.youtube.com/@ONGFase
*Paula Schitine é jornalista e Júlia Motta estagiária da comunicação da FASE