29/05/2013 12:47
O 7º Encontro Nacional do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN) ocorrerá em Porto Alegre, entre os dias 4 e 6 de junho. Com o tema “Que alimentos (não) estamos comendo?”, o objetivo será fazer uma leitura crítica do atual sistema alimentar. Os debates levarão em conta os alimentos como patrimônios culturais, refletindo sobre diferentes perspectivas: produção, processamento, abastecimento e consumo.
De acordo com Vanessa Schottz, da Secretaria Executiva do FBSSAN e da FASE, a questão alimentar não está restrita a manutenção da vida com seu papel biológico. A comida tem relação direta com as dinâmicas econômica, social e ambiental. “Vivenciamos o domínio das grandes corporações do ramo alimentício. Então, durante o Encontro, buscaremos identificar novos temas e questões que precisam entrar na agenda política quando o assunto é alimentação”, explicou.
O evento reunirá cerca de 130 pessoas de diferentes campos de conhecimento – Saúde, Nutrição, Direitos Humanos, Agroecologia, Reforma Agrária, Direito das Mulheres, Educação Popular, Indígenas, dentre outros.
A preparação está sendo realizada com uma série de encontros e seminários regionais que aconteceram em abril e maio. Essa dinâmica foi importante, ressalta Vanessa, para reunir propostas que reflitam as realidades de cada estado.
Crise alimentar ou sistema alimentar em crise?
Essa questão dá título a primeira mesa de debates do Encontro. Os participantes vão analisar os impactos do agronegócio – que concentra terras e tem como base o uso de venenos – na garantia do Direito Humano à Alimentação. Vanessa afirma que o papel do Estado para garantir este direito também estará em pauta.
Outro painel vai abordar o abastecimento alimentar relacionado à promoção da saúde, à preservação ambiental e ao valor dos mercados institucionais como políticas públicas. “Hoje vivemos a especialização da produção, ou seja, cada local volta seu cultivo, muitas vezes, para apenas um alimento. Isso tem a ver com a competitividade dos mercados e vai totalmente contra a diversificação dos alimentos, tão importante para a soberania e a segurança alimentar de cada país”, garantiu Vanessa.
A programação conta, ainda, com um terceiro painel. Este colocará em questão o próprio conceito de alimento. Em tempos do uso indiscriminado de agrotóxicos e de artificialização, o desafio será provocar reflexões, por exemplo, sobre o sentido das palavras “qualidade” e “saudável”. O Brasil é campeão mundial no uso de venenos agrícolas desde 2008, segundo a Campanha contra os Agrotóxicos e pela Vida. No país, até mesmo a tradicional combinação “arroz e feijão” já se encontra ameaçada pela transgenia.
Alimento como patrimônio imaterial
Regina Miranda, nutricionista do Fórum Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Fesans/RS), ressalta que, mais que discutir o alimento como patrimônio imaterial, os organizadores do Encontro também tiveram o cuidado de guardar na prática uma coerência com a proposta. “Nosso cardápio terá comida de influência indígena, negra e portuguesa. Também vamos ter as culinárias alemã e italiana, fortes no Sul do país”, contou.
As especificidades alimentares foram consideradas. Haverá alimentos para pessoas que não podem comer glúten, açúcar ou lactose. Para aquelas que não comem carne, serão servidos nutritivos pratos vegetarianos ou veganos. A elaboração do cardápio, relata, foi fruto do trabalho coletivo de nutricionistas que integram a comissão organizadora local. Já as sacolas ecológicas, que serão distribuídas aos participantes, foram confeccionadas pelo grupo de economia solidária Cáritas Paróquia Nossa Senhora da Piedade, da cidade gaúcha de Novo Hamburgo.
Além disso, os alimentos do Encontro serão agroecológicos. Eles foram adquiridos na Loja da Reforma Agrária, que fica no Mercado Público Central de Porto Alegre. “Sem agrotóxico, outros químicos ou sementes transgênicas. Acreditamos que a agroecologia é o modo adequado de produção, já que recupera, promove e mantém o equilíbrio com a natureza. Parte do princípio de que os seres humanos têm o direito de se alimentar adequadamente, e nem por isso precisam pagar caro”, afirma Regina, que também integra a Emater/RS.
Na programação do 7º Encontro Nacional do FBSSAN somam-se a estes painéis e plenária várias oficinas com temas como o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan); a agricultura urbana; produção artesanal e familiar de alimentos; a regulação da publicidade infantil; dentre outras. E, na tentativa de estabelecer diálogos com o poder público e ampliar os debates à população de Porto Alegre, a Roda de Conversa “Patrimônio Alimentar e Resistência Cultural: dimensões estratégicas de luta pela comida” foi marcada para o próximo dia 4, às 18h30, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
(Adaptação da reportagem de Gilka Resende, do FBSSAN)