Paula Schitine
24/05/2024 18:29

O Seminário “Enfrentando Violências, construindo horizontes” foi realizado no Rio de Janeiro, de 21 a 23 de maio.  Nesse encontro estiveram reunidas 30 educadoras populares da FASE que atuam em diversas regiões do país realizando trabalho junto a mulheres do campo, das florestas, das águas e das periferias urbanas e periurbanas.

Maiana Maia em momento de reflexão. Foto: Paula Schitine

Maiana Maia, assessora do Núcleo de Políticas e Alternativas da FASE (NuPA), e uma das facilitadoras do seminário explica que o principal objetivo foi realizar um debate que nos ajude a trazer à tona qual a nossa perspectiva sobre as violências contra as mulheres e seus efeitos na vida delas, e quais os caminhos para seu enfrentamento e resistência. “Ao longo desses três dias, pudemos alinhar uma memória coletiva sobre o que tem sido ao longo das últimas décadas o trabalho da FASE com mulheres e assentar um plano de ação para os próximos anos que traga ainda mais densidade à nossa atuação nessa causa”, detalha.

“Nosso objetivo foi desenhar, à luz dessa trajetória e dos próximos passos que queremos trilhar, novos horizontes por onde seguiremos fortalecendo a auto-organização e a autonomia econômica de mulheres, numa aliança sensível e comprometida com as lutas das mulheres no enfrentamento às desigualdades estruturais que seguem ao longo do tempo reproduzindo violências e violações de direitos sobre seus corpos e territórios”, completa a educadora.

 

 

Violências e seus enfrentamentos

Ao longo dos três dias, as educadoras da FASE puderam compartilhar relatos de vivências percebidas durante o trabalho de assistência ao público das formações e campo de atuação.

Nos trabalhos em grupo foram identificadas várias expressões de violências que impõem obstáculos contra a cultura política antidemocrática, misógina e racista que rege nossa sociedade. “O silenciamento, seja pela desqualificação da voz e do trabalho das mulheres, seja pela expressão máxima da barbaridade feminicida, entre tantas outras formas históricas e atualizadas de violência contra as mulheres, opera tentando empurrá-las de volta aos lugares de opressão que historicamente foram demarcados e a demovê-las das múltiplas resistências individuais e comunitárias, onde elas vêm tecendo ao longo dos tempos um amplo arco de lutas por direitos e por transformações societárias profundas”, explica Maiana Maia.

Taciana Gouveia. Foto: Paula Schitine

Provocando o grupo à reflexão, a coordenadora do Fundo SAAP, Taciana Gouveia, foi responsável pela condução de alguns dos trabalhos onde as educadoras puderam se debruçar sobre os desafios no trabalho com as mulheres para os próximos anos. E foram convidadas a dialogar sobre quais enfrentamentos a FASE pode atuar, seja individualmente ou através de redes.

Participação e novos caminhos

As participantes se sentiram realizadas em participar do seminário e poder retomar com força a causa da defesa dos direitos das mulheres na FASE. Até o meio do próximo ano estão programadas oficinas nas seus regionais (Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Pará, Pernambuco e Rio de Janeiro) e um Seminário Nacional para sistematizar o aprendizado acumulado nessas formações.

Segundo Maria Emília Pacheco, assessora do NuPA, este é um marco histórico para a FASE, pois a organização sempre foi incentivadora das causas feministas e que agora pode vislumbrar um novo horizonte de trabalho na direção da defesa das mulheres como sujeitas de direito. “Depende de nós agora que a gente consiga fazer interagir as ações no curso da história das estratégias  dos trabalhos”, declara.

A coordenadora da FASE Bahia, Rosélia Melo lembrou o último encontro realizado em 2018. “Foi gratificante ver que muitas coisas que discutimos tiveram andamento e um tratamento diferenciado”, recorda. “Mas, para mim, o ensinamento maior nesses três dias de atividades foi que a gente tem feito um bom trabalho mesmo com as dificuldades que enfrentamos. A gente tem se dedicado cada vez mais na questão da causa das mulheres, e apesar de a gente se sentir fragilizadas e às vezes impotente em tratar temas como a auto-organização das mulheres, a invisibilidade do trabalho e principalmente a violência, a gente já consegue visualizar vários resultados, e vários trabalhos sendo feito em cada canto onde a FASE, seja com recursos próprios,  ou com parcerias, articulações. Então, para resumir, acho que pra mim um ensinamento que fica é esse, avançamos mas ainda temos muitas coisas a alcançar”, conclui.

 

*comunicadora da FASE