21/03/2013 09:54
Após receber um grupo de Moçambique no ano passado, em Mato Grosso, agora uma equipe da FASE visita o país africano. Trata-se de uma parceria de intercâmbio que tem como centro a experiência de resistência ao agronegócio no Brasil, com o fortalecimento das práticas agroecológicas e da segurança alimentar. Fátima Mello, do Núcleo de Justiça Ambiental e Direitos; Sério Schlesinger, consultor da FASE; e Vilmon Ferreira, técnico da FASE Mato Grosso, visitam localidades como as províncias de Nampula e Niassa. Estas são regiões do Corredor de Nacala, no qual se tenta implantar o programa ProSavana.
Como comentou Fátima em seu perfil no Facebook durante a viagem, o intercâmbio é um espaço de trocas e aprendizagem. Ela escreveu: “Aprendendo muito, conhecendo pessoas lindas, e vendo na prática que a retórica da cooperação e investimentos do Brasil em Moçambique está se traduzindo no risco de expulsão de comunidades de seus territórios para a expansão das empresas do agronegócio brasileiro”.
Este intercâmbio é parte do projeto “Monitoramento, Pesquisa, Incidência e Networking Sobre Cooperação e Investimentos do Brasil em Moçambique”, que a FASE realiza em parceria com a Oxfam, e em contato com a União Nacional de Camponeses (UNAC) de Moçambique. A visita compreende entrevistas com alguns órgãos responsáveis pelo programa, como Ministério da Agricultura e FAO, e também organizações sociais, que contribuem na coleta de informações sobre violações de direitos e impactos socioambientais.
Mais sobre o ProSavana
ProSavana é um programa de parceria entre os governos do Brasil, de Moçambique e do Japão, a ser implantado no Corredor de Desenvolvimento de Nacala. É inspirado no programa Proceder (Programa de Cooperação Japão-Brasil para o Desenvolvimento dos Cerrados), implantado na década de 1970 por brasileiros e japoneses no Cerrado.
O que quer o Brasil com o ProSavana? Leia o artigo de Fátima Mello.
Em nota divulgada recentemente, a UNAC condena o programa, “caracterizado pela reduzida transparência e exclusão das organizações da sociedade civil em todo processo”. Segundo a organização africana, o programa apresenta problemas como: não ser transparente com a base, ou seja, os camponeses; a necessidade de reassentamento e expropriação de terra; e a ida de camponeses brasileiros do agronegócio às localidades, para empregarem moçambicanos.
Leia artigo de Fátima Mello, do Núcleo Justiça Ambiental e Direitos da FASE [Visita à Moçambique: país de lideranças fabulosas]
Mais sobre a Cooperação do Brasil com a África
Leia o relatório da FASE sistematizado pelo consultor Sérgio Schlesinger que suscita um debate sobre as tendências, motivações, contradições e estratégias brasileiras no crescente papel de cooperação e de investimentos internacionais do Brasil nos países do Sul, em especial na América Latina e África. No documento ele afirma que: “Junto com a exportação do modelo de monocultivos de larga escala para produção de agrocombustíveis, o Brasil também vem exportando políticas públicas na área de segurança alimentar e de produção de alimentos, gerando contradições em sua atuação externa e reproduzindo fora do país conflitos históricos existentes na sociedade brasileira entre a agricultura familiar e camponesa e a agricultura industrial voltada ao mercado externo”.
Acesse aqui o estudo completo: