Maria Rita
27/11/2024 15:50
Em novembro, a FASE iniciou uma nova etapa do projeto “Quintais Produtivos para Recuperação das Áreas Degradadas em Mato Grosso”. Educadoras e educadores populares da FASE e do CTA (Centro de Tecnologia Alternativa), em conjunto com as agricultoras e agricultores do Assentamento Sadia Vale Verde, aproveitaram o início da época chuvosa para colocarem mãos e sementes na terra. O mutirão “É tempo de plantar” foi divulgado para os beneficiários do projeto e aconteceu em dois dias, sendo o primeiro na casa da agricultora Berenice e o segundo na casa da agricultora Ednalva. O objetivo da ação, segundo o educador Robson Prado, foi o de potencializar o plantio das roças já
implementadas no fim do ano passado e de preencher as falhas que aconteceram por conta da situação crítica de escassez hídrica que a região do sudoeste mato-grossense vem enfrentando.
O mutirão iniciou-se com a preparação da muvuca de sementes de diversas espécies arbóreas, como aroeira, louro preto e branco, paineira, ipê verde, angico, moringa e cedro. As sementes foram misturadas e receberam um carinho especial ao serem peletizadas/preparadas com esterco curtido e água, facilitando a homogeneização da muvuca e garantindo que as porções para o plantio contivessem sementes de diferentes pesos e espessuras. Após a preparação da muvuca, realizou-se uma conversa inicial com todos os presentes para determinação do “plano do dia”, que consistia na distribuição das sementes nas entrelinhas das roças, que já continham mudas de aroeira, cumbaru, angico,
guariroba, entre outras, além de culturas agrícolas como mandioca, cana de açúcar, quiabo e feijão. Já na propriedade da agricultora Berenice, foi realizado o plantio de mudas de espécies nativas e o plantio de mandioca em fileiras triplas, mescladas com feijão de porco,um excelente adubo verde.
Ao observar a área de plantio, a agricultora Ednalva compartilhou seu sonho: “Estamos pensando que isso aqui vai virar um pomar com árvore nativa. Aqui tem de tudo!”. Os mini canteiros que receberam a muvuca, cheios de diversidade, exigem cuidado, atenção e demandam manejo, implicando na necessidade de mão de obra futura para garantir a seleção das plantas que brotarem, e aquelas que estiverem mais saudáveis e melhor adaptadas poderão se desenvolver até se tornarem árvores adultas. Esse processo faz parte das práticas empregadas em Sistemas Agroflorestais Agroecológicos, que buscam “copiar” aquilo que a natureza faz, ou seja, espalha muitas sementes e aguardar – as que encontrarem um ambiente propício prosperam e passam a espalhar sementes também. Outra prática “copiada” é a poda constante das árvores, o que libera a entrada da luz solar e fornece matéria orgânica para o solo. A diferença das áreas com e sem vegetação arbórea é apontada pela agricultora Ednalva: “Olha lá, aquela área dos cumbarus. A gente vê que onde tem árvore, a terra é diferente, é mais fofa, por causa das folhas”. Foi realizado também o coroamento das mudas, que consiste em limpar ao redor do canteiro para que as mesmas não sejam abafadas pelo crescimento do capim. Esse processo é muito importante para o desenvolvimento das plantas e facilita a visualização das mesmas em campo.
Outra atividade realizada durante o mutirão foi o transporte das mudas cultivadas nos viveiros para a área externa, iniciando o que é chamado de processo de aclimatação, que consiste em expor aos poucos as condições “reais” – sol, calor, chuva, vento – que as plantas irão encarar no campo, para que elas estejam fortalecidas o suficiente e consigam sobreviver. Os viveiros construídos durante o projeto servem de base para produção da “matéria prima” da agrofloresta, e possibilitam que as agricultoras e agricultores envolvidos tenham autonomia no plantio e possam dar continuidade a atividade após o fim do projeto, até mesmo gerando renda a partir da venda das mudas no médio e longo prazo.
A missão de plantar árvores já virou rotina, e qualquer balde velho agora se transforma em sementeira. A agricultora Ednalva compartilhou que a lida no viveiro envolve toda a família, e que seus netos ajudam enchendo as sacolinhas e plantando: “Agora eles já veem uma semente no chão e falam – Ó vó, tem que plantar”.
Enquanto passava mudinhas de Pata de Vaca, Moringa e Primavera das bandejas para os saquinhos cheios de terra adubada com esterco de gado, a agricultora Meire – que participou com entusiasmo e dedicação no mutirão – elogiou o projeto: “É uma maravilha. Às vezes com esse projeto a gente pode incentivar o pessoal a plantar pelo menos uma árvore na porta de casa, não sei como aguentam sem. Sem contar o benefício né, as folhas vão cair e adubar tudo que tá em volta. É muito bom esse envolvimento da FASE, do CTA e de todos os parceiros com o assentamento”.
*Colaboradora da FASE Mato Grosso