Maria Rita Schmitt Silva
05/06/2025 17:25

Durante os dias 15, 16 e 17 de maio, a equipe da FASE Mato Grosso esteve com o Centro de Tecnologia Alternativa (CTA) no PA Floresta, situado no município de Araputanga (MT), para realização de uma oficina de restauração a partir da prática de demarcação das curvas de nível em uma área extremamente suscetível à voçorocas, algumas já em processo de formação. A oficina foi realizada em conjunto com as agricultoras e agricultores envolvidos no projeto “Quintais Produtivos para Recuperação de Áreas Degradadas no Mato Grosso”. As voçorocas são crateras no solo, iniciadas a partir da erosão do mesmo, causadas pelo impacto da água da chuva em áreas desmatadas e com solos compactados – como a água não consegue infiltrar no solo, acaba escorrendo superficialmente de forma a criar fluxos intensos de água e terra. Um dos efeitos da erosão nessa região já podem ser observados a partir da diminuição do volume de água nos Rios Verde e Vermelho, que sofrem com o assoreamento. 

Crédito: Alessandro de Souza

A atividade aconteceu na propriedade do Sr. Antônio Alves de Castro e da Sra. Eva Alves de Castro e contou com a participação de aproximadamente 20 pessoas no total, agricultoras e agricultores moradores do P.A Floresta e do P.A Rio Vermelho. O projeto contempla 34 famílias nessa região (Comunidade das Botas) e busca a recuperação das áreas degradadas a partir da implantação de quintais produtivos, proteção de APP’s, sistemas agroflorestais e de outras metodologias e ferramentas que garantam a soberania alimentar das famílias ao mesmo tempo em que revertem o cenário de desmatamento, tão comum no estado do Mato Grosso. 

De acordo com a Sra. Eva, o projeto é essencial para que a erosão seja contida e que a área ao redor do córrego seja preservada. A problemática das voçorocas não se restringe às cercas da propriedade: toda a região é montanhosa e possui declives acentuados (acima de 45º) e um histórico uso do solo para pastagem de gado, que impede a formação de vegetação mais espessa – e consequentemente com raízes mais profundas – e compacta o solo. A necessidade de intervenções referentes à erosão do solo surgiu a partir da observação dos educadores populares, técnicos e agricultores durante a execução do projeto na região. 

A intervenção foi realizada de forma conjunta, uma vez que os educadores populares da FASE e os técnicos do CTA mostraram para os participantes como as curvas de nível poderiam ser obtidas a partir da utilização da “mangueira de pedreiro” e de um Teodolito caseiro, tecnologias sociais e acessíveis que podem ser replicadas nas comunidades, fortalecendo a autonomia dos agricultores na construção de soluções para problemáticas do território. De acordo com o educador popular da FASE Robson Prado, a perspectiva da atividade era de “alinhar técnicas sociais e ambientais”, ou seja, abordar a problemática das voçorocas a partir de intervenções físicas (plantio de mudas e de sementes, cercamento da área para evitar o pisoteio do gado, estabelecimento das curvas de nível e plantio de capim Vetiver) e sociais (oficinas e trocas de saberes com os agricultores em busca da construção do conhecimento agroecológico nesse contexto).  A partir da demarcação das curvas de nível com o auxílio do teodolito caseiro, fez-se a construção de “terraços”, cujo objetivo é o de fazer a água perder a velocidade, aumentando assim a taxa de infiltração no solo. 

É importante lembrarmos que essa ação permite a oportunidade de recuperação inicial da área, com a demarcação das curvas de nível e o engajamento da comunidade. Agora, o desafio é dar continuidade ao trabalho, garantindo que as técnicas aplicadas sejam mantidas e ampliadas para outras áreas degradadas da região.

*Comunicadora da FASE MT