Maria Rita Schmitt Silva
06/06/2025 12:05

Tendo as chuvas de verão como cenário otimista, a produção de mudas para serem utilizadas no projeto “Quintais Produtivos para Recuperação de Áreas Degradadas em Mato Grosso” segue a todo vapor. Visando a recomposição da vegetação nativa em conjunto com a inserção de espécies frutíferas que possibilitem a obtenção de renda por parte dos agricultores, mais de 14 espécies vem sendo cultivadas no viveiro do Centro de Tecnologia Alternativa (CTA), localizado em Pontes e Lacerda (MT), e nos viveiros comunitários construídos nas comunidades nas quais residem as 80 famílias beneficiárias do projeto.

Créditos: Maria Rita Schmitt Silva

No viveiro do CTA, são mais de 3.000 tubetes semeados, cultivados e transportados para as comunidades do entorno. A tarefa não é fácil, e começa na identificação das espécies-chave melhor adaptadas para cada território, passando pela coleta de sementes, quebra de dormência das mesmas – se necessário, semeadura, cuidados no desenvolvimento das plântulas, irrigação programada (principalmente nos dias muito quentes), controle de insetos ou fungos, e entrega das mudas em locais de difícil acesso, ainda mais no período de chuvas intensas na região – que vem causando danos como enchentes, desabamento de pontes e interdição de estradas. 

Dentre as espécies cultivadas no viveiro, temos a copaíba, o jacarandá, a cerejeira, o baru, a moringa, o mogno, os ipês verde, amarelo e roxo, a garapeira, o manduvi, a canafístula, o mulungu, o araticum, o pau brasil e a pata de vaca. Essas “árvores do futuro” possuem incríveis atributos relacionados à produção de matéria orgânica, ao potencial agroextrativista, à produção de alimentos para seres humanos e para outros animais, além de serem essenciais para produção de mel e para manutenção de outros serviços ecossistêmicos, como a proteção dos mananciais e contenção de erosão. Um detalhe importante é que as mudas estão sendo cultivadas em tubetes biodegradáveis, que não agridem o solo e não produzem resíduos, eliminando a necessidade do uso de saquinhos de plástico e facilitando o desenvolvimento das raízes das plântulas, uma vez que não “sufocam” as mudas. 

De acordo com Saguio Moreira, coordenador da iniciativa, agora o projeto “Quintais Produtivos para Recuperação de Áreas Degradadas em Mato Grosso” adentra sua segunda fase de plantio, aproveitando o período de chuvas na região (geralmente de novembro à março) para colocar no chão as mudas produzidas durante os meses de agosto e setembro. Saguio também exaltou a qualidade das mudas produzidas nos tubetes biodegradáveis: “As mudas estão excelentes. Do jeito que ela sai do viveiro ela já pode ir para o berço em campo”. 

O técnico do CTA, Alessandro de Souza, um dos responsáveis pela coleta de sementes, manutenção do viveiro e acompanhamento das famílias apoiadas pelo projeto, contou um pouco sobre o trabalho que vem sendo realizado: “É um alívio. O tempo está ótimo para plantar. Depois de seis meses de seca, agora temos uma média de 20mm de chuva diária em alguns lugares, e estamos conseguindo plantar tanto por sementes quanto por mudas. A gente também faz o papel de animar os agricultores, de falar “vamos plantar!”. Em relação a que espécie vai aonde, depende: se for uma área que vai enxurrada, que alaga, colocamos buriti, sangra d’água, mulungu… Se for uma área mais seca, colocamos as espécies que aguentam mais. Estamos plantando para restauração de áreas degradadas, mas com foco principalmente nas nascentes, com o objetivo de manter o curso d’água vivo”. 

As mudas e sementes são distribuídas para os agricultores que, em regime de “muxirum” (mutirão), são responsáveis pelo plantio e pelos cuidados com elas, reforçando o protagonismo dos povos do campo no processo de recuperação das áreas degradadas aliado à construção da soberania alimentar no território. 

*Comunicadora da FASE MT