Maria Rita Schmitt Silva
16/06/2025 11:50
Enquanto o agricultor e agrofloresteiro José Leal da Silva Neto coloca suas botinas para nos mostrar a floresta que plantou, conta um pouco de sua história e de suas motivações para o reflorestamento de quase 5 hectares de terra, com foco principalmente nas áreas de proteção permanente ao redor das inúmeras nascentes localizadas em sua propriedade. Seu José Leal e sua esposa moram na Comunidade Boa União, em Lambari D’Oeste (MT), e fazem parte de uma das 15 famílias beneficiadas neste município pelo projeto da FASE MT – “Quintais Produtivos para Recuperação das Áreas Degradadas em Mato Grosso”, iniciado em 2023 em parceria com o CTA (Centro de Tecnologias Alternativas).
No início do ano, educadoras populares da FASE MT estiveram em Lambari D’Oeste, mais especificamente nas comunidades rurais São José do Pingador, Boa União e Sarizal, distribuindo mudas de espécies nativas e frutíferas produzidas no viveiro do CTA e nos viveiros comunitários espalhados pelas comunidades participantes do projeto, sob os cuidados atentos das guardiãs e guardiões da biodiversidade.

Entrega de mudas na propriedade da agricultora Dalva, na comunidade Boa União. | Foto: Maria Rita Schmitt Silva
Entre uma muda e outra que é descarregada, José compartilha suas observações sobre as mudanças no ciclo das chuvas, sobre o aumento do calor e sobre a importância do reflorestamento para a preservação das águas: “Na situação que tá, só não enxerga quem não quer. O que era antes e o que é hoje… A causa do sumiço da água é o assoreamento de pecuária, lavoura. Vai aterrando e a água vai desaparecendo”. Quando perguntado se “a coisa tem jeito”, diz que acha que sim – com a conscientização de outras pessoas, da comunidade, a partir de com projetos como esse, a tendência é melhorar. Segundo ele, as leis também ajudam nessa parte, uma vez que forçam o produtor a se adequar, e que essas mudanças precisam acontecer rapidamente, já que a degradação ambiental segue a passos largos. Sobre a escassez de chuvas, comenta que “esse ano teve menos frutas por conta disso, modificou todas as espécies. No sítio, muitas espécies de árvores nativas não deram sementes. A escassez de água modifica e interfere na quantidade de sementes, até na manga. O ciclo modificou, o tempo mudou”.
Por último, seu José mostrou na prática, apontando para sua agrofloresta – cheia de árvores antigas, grandes, com mais de 30 anos de vida – como os agricultores familiares são protagonistas no movimento de retomada de saberes ancestrais para a restauração de áreas degradadas e para produção de alimentos: “Aqui nós temos uma Agrofloresta que tem muita espécie, todo tipo de mata nativa, igual os cupuaçus. Eu gosto de colher semente – onde eu vejo uma árvore com semente, eu colho”. O reflorestamento a partir da muvuca de sementes vem sendo experimentado pela FASE MT em diversos ambientes (áreas mais alagadas, solos arenosos, pedregosos, com e sem irrigação) com resultados positivos, demonstrando a importância da construção de conhecimento acerca da coleta, conservação e beneficiamento dessas “cápsulas de vida” que carregam consigo a esperança de dias com temperaturas mais amenas, chuvas regulares, nascentes abundantes e comida saudável no prato.

Entrega de mudas na propriedade do agricultor José Leal, na comunidade Boa União. | Foto: Maria Rita Schmitt Silva
*Comunicadora da FASE MT