Comunicação FASE
26/11/2025 14:00
Os desafios do financiamento climático e a lógica de investimento — e não de doação — prevista no Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF) foram o centro do debate realizado no dia 18 de outubro, na Casa das ONGs, em Belém. Organizado pela FASE e parceiros, o encontro reuniu representantes de organizações da sociedade civil, lideranças indígenas e pesquisadores para discutir os impactos do novo modelo de financiamento.
O painel “Justiça Climática, Financiamentos e Direitos Humanos: desafios e articulações possíveis” foi mediado por Pedro Martins, educador da FASE Amazônia, e contou com as participações de Mário Nicássio, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Graça Costa, do Fundo Dema, Maria Beatriz, da Plataforma Socioambiental do Brics Policy Center (PUC-Rio), e Carolina Alves, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), entidades que organizaram o debate em parceira com a Fase.
Pedro Martins alertou que o modelo proposto pelo TFFF representa uma inflexão na política de financiamento climático. “Esse mecanismo de investimento vai mudar nossa forma de ver o financiamento climático. Ele traz muitos desafios e riscos para as comunidades tradicionais”, afirmou. Segundo ele, ao contrário de doações, o aporte dos países será tratado como investimento, o que implica retorno financeiro futuro. “O país que colocar recurso vai querer retorno”, disse.
Maria Beatriz reforçou que os impactos das mudanças climáticas recaem de forma desproporcional sobre populações vulneráveis e apontou a responsabilidade histórica dos países desenvolvidos. “Se os países ricos são responsáveis pela crise, a maior parte do dinheiro tem que vir deles”, defendeu. Ela também expressou preocupação de que o modelo gere novas dívidas aos países em desenvolvimento. “Precisamos saber quanto, de onde, para quem, como vai chegar e quem vai administrar. Vai chegar na ponta ou enriquecer mais uma empresa?”, questionou.
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A representante do Fundo Dema, Graça Costa, destacou a importância da participação das comunidades tradicionais na definição e no acompanhamento da aplicação dos recursos. Para ela, a transparência e o controle social são fundamentais para evitar distorções.
Já Mário Nicássio, da etnia Wapichana e representante da Coiab — organização responsável pelo Fundo Podáali — afirmou que ainda há lacunas significativas na proposta do novo fundo. Ele lembrou que 20% dos lucros devem ser destinados às comunidades indígenas, mas não há previsão de participação direta nos órgãos de governança. “Precisamos de acesso direto aos fundos, com capacitação própria, desburocratização e reconhecimento dos nossos fundos”, afirmou.
Carolina Alves, do Inesc, arrematou o debate, ressaltando que a discussão central é sobre quem vai pagar a conta. “Queremos um financiamento que combata as desigualdades históricas. Que o Norte Global se responsabilize pelo que fez ao Sul Global. É isso”, concluiu.



