08/06/2011 12:13

O relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), publicado no final de maio de 2011, constitui mais uma prova inequívoca da inconsequência das negociações internacionais e da absoluta ineficiência dos mecanismos de mercado criados como solução para a crise climática.

Afinal, segundo o relatório da AIE, as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) voltaram a subir vertiginosamente de 2009 para 2010, depois de uma leve queda de 2007 para 2008, ano de profunda crise econômica global, somente comparável ao crash de 1929. O ano de 2010 foi recordista em emissões: 30,6 Gigatoneladas de CO2 foram lançados na atmosfera!

O relatório foi lançado às vésperas da rodada de negociações sobre o clima que acontece de 6 a 17 de junho em Bonn, na Alemanha. É uma das últimas reuniões antes da próxima Cúpula do Clima, a COP-17, que vai ser realizada em Durban, África do Sul. Na pauta, um novo acordo para o clima, que substituirá o Protocolo de Kyoto a partir de 2012. No primeiro dia desta rodada a diretora do secretariado do clima da ONU, Christiana Figueres, já admitiu que um acordo em 2012 para o segundo período do protocolo será impossível.

Nas negociações, o foco dos Estados e das grandes corporações na fixação ou sequestro de Carbono, bem como nos  novos mecanismos de mercado em clima como soluções para as mudanças climáticas, mantém velada a urgência e a necessidade de redução radical da queima de combustíveis fósseis. É a única possibilidade efetiva de enfrentamento do aquecimento global.

Em sentido oposto, os Estados e grandes corporações petroleiras buscam formas cada vez mais arriscadas de extrair as últimas reservas de combustíveis fósseis do planeta, seja nas geleiras dos polos, seja em grandes profundidades nos oceanos, desenhando o sinistro cenário climático de aumento de mais de 2 graus Celsius na temperatura média, comprometendo profundamente a vida no planeta. A previsão de novas termoelétricas a serem concluídas até 2020 completam o alerta do relatório da AIE, desvelando que estamos ainda muito distantes de uma transição para as sociedades pós-petroleiras.

Na avaliação dos cientistas e técnicos responsáveis pelo relatório, não temos tempo a perder na construção do mercado de Carbono e no aprimoramento de duvidosos mecanismos de REDD e MDL que não apontam para a transição energética. Também não há solução tecnológica possível, seja na geoengenharia, seja na nanotecnologia, onde o objetivo é manter o modelo de produção, circulação e consumo, ambientalmente e socialmente injusto.

O modelo econômico global segue em expansão desenfreada, e aposta na crise climática como mais um nicho de mercantilização. A despeito do vocabulário esverdeado de Cancun e da Rio+20, o relatório da AIE demonstra que a economia continuará cinza enquanto as emissões não forem reduzidas nos próprios países e complexos corporativos onde são geradas. A dívida climática e ambiental do Norte com o Sul será cobrada em alguma noite das gerações futuras.