10/12/2010 14:19
Ainda não terá sido desta vez que os líderes das maiores economias do planeta (o Brasil incluído) despertaram para a gravidade do problema climático. Encerrou no dia 10 a COP 16, isto é, a 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, e apesar dos muitos alertas, o mundo sai dali sem um acordo que permita frear o aquecimento global. As implicações dessa omissão política mundial já são conhecidas: o desequilíbrio climático que já se verifica em todo o mundo deixará mais e mais vítimas entre os povos da humanidade e as demais espécies que compõem a vida no planeta.
Chuvas intensas, secas prolongadas, vendavais severos, nevascas inesperadas, subida do nível do mar. Tudo isso já está se tornando a cada ano mais comum, e as conseqüências, sejam elças imediatas ou não, se fazem sentir. Perdas de safras agrícolas, desabastecimento de água, má qualidade do ar, extinção de espécies e outros impactos já possíveis de perceber são uma amostra do que poderá ser o futuro na Terra caso conferências como a COP 16 não firmem um acordo que vincule o desenvolvimento das economias do mundo a um novo padrão de menor impacto ambiental.
Mas não se trata apenas de preservar matas, rios, oceanos e geleiras como se fossem um museu natural isolado da vida das sociedades. A vida dos povos do mundo se dá no mesmo âmbito natural ameaçado pelo modelo de desenvolvimento predatório. Exatamente por isso, os efeitos que já se sentem na vida cotidiana recaem com mais severidade sobre aqueles que sempre foram mais vulneráveis a tudo. Agora, que a intensidade dos eventos climáticos se torna mais forte, serão eles os que mais sentirão se nada for feito. A desigualdade na distribuição dos impactos climáticos é uma realidade que dá um conteúdo de injustiça a um problema que, apesar de ser de todos, afeta uns mais que outros.
Daí que tantos movimentos sociais e organizações se pautem pela Justiça Climática, uma luta pela distribuição equânime das responsabilidades acerca do problema climático, de modo a desfazer a desigualdade na distribuição dos efeitos perversos. Isso somente acontecerá com um novo padrão global de produção e consumo, razão pela qual a disputa em torno da questão do clima é dura e encarniçada. Não basta acreditarmos que a boa vontade e a tecnologia vão dar conta do problema, se o problema se apresenta de maneiras diferentes para partes mais ou menos privilegiadas da comunidades mundial.
É esta luta que se trava pelos governos de alguns poucos países e muitos movimentos e organizações em conferências como a COP 16. Realizada em Cancun, no México, esta conferência é mais um capítulo de uma história recente, uma história de omissão e descaso, de forças que agem ocultas por detrás de chefes de Estado. Mas também uma história de avanços sociais, de construção de uma nova democracia mundial, a duras penas, é verdade. A fim de contribuir com essa construção, facilitando o entendimento de um assunto complexo e cheio de detalhes, a Fase republica uma série de informes enviados por companheiras e companheiros que estiveram em Cancun assistindo de perto mais esse capítulo da história do mundo.