26/11/2010 14:20
Começou no dia 25 e vai até o 29 um evento de máxima importância para a articulação de atores sociais da Amazônia. É o 5º Fórum Social Pan-Amazônico. Talvez este seja o evento político de maior peso na agenda de todos os movimentos e organizações que se preocupam em defender uma Amazônia viva agora e para sempre. Isto porque, além da parcela brasileira destes atores sociais, o encontro recebe participantes dos países vizinhos que também são parte da Amazônia: é a Pan-Amazônia em movimento, que não se deixa constranger por fronteiras políticas e nem pela agenda dos desenvolvimentos nacionais. É esse ritmo político regional, de forte base cultural e profundamente enraizado nos povos, que a cidade paraense de Santarém recebe por estes dias.
De um ponto de vista da organização, o 5º Fórum Social Pan-Amazônico é dividido em quatro eixos: “Em Defesa da Mãe Terra”; “Poder para os Povos da Pan-Amazônia: autonomia e territórios”; “Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais”; e “Culturas, Comunicação e Educação Popular”. Em cada um destes eixos, atividades acontecem e geram muita discussão e organização política para enfrentar os dilemas atuais dos povos pan-amazônicos. E eles não são poucos. (Clique aqui para ver a programação)
Desde a apropriação do território pelo capital nas mais variadas formas até questões locais e pontuais, a agenda da Pan-Amazônia é sempre cheia. Em termos gerais, há um grito permanente que clama pela manutenção das condições de vida dos povos. Os povos não aceitam que seus lugares, suas rotinas de vida, suas culturas e tradições, suas fontes de água e alimentação, sua floresta e seus animais, que sua vida, enfim, seja transformada em mercadoria. Não aceitam isto sob nenhuma hipótese.
Não obstante, é exatamente disso que se trata quando o Brasil e os países vizinhos discutem projetos tresloucados como a usina de Belo Monte. Ou quando empresas como a Vale ou a Alcoa praticamente desfazem a natureza em suas atividades de mineração e siderurgia. Ou quando a Cargill constrói um porto hidroviário para exportação de soja sem qualquer amparo legal. Ou quando milhares de trabalhadores migram a Porto Velho a fim de ganhar a vida na obra das hidrelétricas do rio Madeira e fazem subir os níveis de doença e prostituição. Ou ainda quando, vendendo uma idéia que brilha como campeã do “ambientalismo”, empresas e governos apóiam as florestas artificiais de eucalipto em lugar das floresta nativa, essa sim rica em biodiversidade.
Não. Os povos da Pan-Amazônia defendem seu direito a viver em suas terras tradicionais como sempre viveram. E seu conhecimento de mundo e da vida é experimentado pelo tempo. Quando eles dizem que o respeito à Mãe Terra deve ser mantido, sabem do que falam. São eles os primeiros a sofrer as mudanças nos rios, no solo, no regime de chuvas, na disponibilidade de alimento. E advertem que sua defesa da Pan-Amazônia viva é uma defesa de toda a humanidade, pois a morte da grande floresta e seus recursos seria a perda definitiva de um dos grandes equilíbrios mundiais em termos de clima e qualidade ambiental. Já se notam os efeitos da crise climática, portanto é sábio ouvir os povos da Pan-Amazônia. Ouvir, por exemplo, sua menifestação em forma de versos, publicados em 2009 quando se realizava o quarto Fórum.
“ Somos os povos das florestas,
dos rios, das chuvas,
dos povoados, das aldeias, das cidades,
dos quilombos, dos assentamentos,
dos nove países que
compartem a Pan-Amazônia.
Somos muitas vozes
falando centenas de idiomas,
mas fazendo o mesmo chamado:
é preciso deter a máquina que empurra
o planeta e a humanidade para o abismo.
Dar fim ao sistema que transforma
a natureza e as pessoas em mercadoria
e sobrevive às custas da exploração
e humilhação de bilhões de seres humanos.
Dizemos que é tempo
de libertar o trabalho e a imaginação
para reinventar a Terra
e fazer dela a casa comum
onde todos e todas
vivam com justiça e liberdade.”