25/10/2010 15:01
No meio rural, as mulheres exercem um papel de importância fundamental e única. São elas que, em geral, buscam uma maior diversidade nas práticas de plantio. Ao decidir utilizar a terra para cultivar uma variedade de hortaliças, frutas, flores e plantas medicinais, as agricultoras quase sempre são as responsáveis por um processo que vem ganhando força, a transição agroecológica. Na prática, trata-se da aplicação de saberes tradicionais para uma agricultura livre de agrotóxicos e em harmonia com o meio ambiente. Nesse processo, a manipulação de remédios caseiros em âmbito familiar e comunitário sofre uma especial tentativa de invisibilização. É por essa razão que mulheres de diversas organizações do campo da agroecologia se reúnem esta semana em Lagoa Seca, na Paraíba, para o “Encontro Nacional Mulheres, Agroecologia e Plantas Medicinais”.
À frente deste encontro está uma grande rede de organizações sociais, cuja ênfase na importância do papel político da mulher é muito grande: a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). A Fase e muitas outras importantes organizações participam da ANA, na luta pela transição agroecológica e pelo reconhecimento dos direitos e do trabalho da mulher no campo. Uma das questões que aproximam o papel da mulher agricultora e a agroecologia é justamente a manutenção do conhecimento sobre as plantas medicinais.
Milhares de agricultoras brasileiras são guardiãs de um conhecimento tradicional acerca de propriedades de plantas comuns nos biomas e ecossistemas brasileiros. A qualidade, o valor medicinal e a função para a saúde humana e animal destas plantas são informações que precisam ser reconhecidas e fortalecidas. Apoiar este conhecimento significa, também resistir a uma clara tentativa de marginalização do saber tradicional das mulheres camponesas e sua medicina tradicional. Todos sabem do forte interesse da indústria farmacêutica na biodiversidade brasileira, e na substituição dos remédios caseiros tradicionais por remédios sintéticos.
Por isso, a defesa do conhecimento tradicional é também uma forma de apoiar a autonomia das mulheres camponesas, a independência de suas comunidades e, no horizonte, a soberania dos povos rurais contra mais esta apropriação dos recursos naturais e culturais pelo grande capital. No encontro de Lagoa Seca, as mulheres vão fazer um resgate e valorização deste conhecimento, trocando experiências e se articulando umas com as outras em torno deste tema. A luta pela agroecologia não é apenas a defesa da pequena produção familiar de alimentos saudáveis e com respeito ao meio ambiente. É também a afirmação de uma cultura própria do meio camponês e de sua relação tradicional com a terra, incluindo-se aí a medicina que, por séculos, manteve viva a humanidade.