06/05/2006 14:13

Fausto Oliveira

As monoculturas de eucalipto vêm despertando cada vez mais a revolta de populações do meio rural brasileiro. Além do notório caso do Espírito Santo – onde indígenas sofrem há 40 anos nas mãos da empresa de papel Aracruz Celulose – a região sul da Bahia começa a se mobilizar para combater especificamente o Deserto Verde. No dia 1º de maio, centenas de pessoas foram às ruas de Santa Luzia, cidade no sul da Bahia próxima de Ilhéus, para protestar contra a plantação da empresa Veracel.

Os movimentos tiveram apoio de várias entidades não governamentais, entre elas a FASE Bahia. A população fez circular um panfleto em que explicava suas razões para ser contra a Veracel. Como qualquer outra grande empresa, a Veracel argumenta que gera empregos, riquezas e desenvolvimento para a região onde se instala. No caso de indústrias de papel e celulose e suas extensas monoculturas de eucalipto, os benefícios são ridículos frente os monumentais prejuízos sociais e ambientais.

Entre outras informações, o documento assinado pela população de Santa Luzia dizia o seguinte: a monocultura de eucalipto expulsa gente do campo para viver vidas miseráveis nas periferias urbanas; as monoculturas aumentam a concentração de terra; as monoculturas reduzem violentamente a biodiversidade, destróem o que restou de Mata Atlântica, seca rios e outras fontes de água; as monoculturas abusam do agrotóxico e isso faz as pragas se concentrarem nas plantações familiares.

Por fim, além de todo o desequilíbrio biológico e do desastre social que vem junto, o povo de Santa Luzia apontou uma verdade que derruba todos os argumentos de empresas como a Veracel e a Aracruz: a indústria de celulose cria apenas um emprego por 185 hectares de área ocupada, devido à alta mecanização de seu processo produtivo. Diante disso, alguém ainda pode acreditar quando estas empresas dizem estar desenvolvendo o país? Pondo na balança, o que se vê é um custo descomunal para benefícios insignificantes.

Mas o povo de Santa Luzia, dando uma prova de sua consciência política, levou adiante sua denúncia. Mostrou em seu documento público que as milionárias empresas de celulose ainda contam com ajuda do poder público. O governo federal aplica dinheiro do BNDES em empreendimentos da Aracruz. E o da Bahia dá subsídios a empreendimentos da Veracel. Tudo a preço de gordas contribuições financeiras às respectivas campanhas eleitorais.

As muitas promiscuidades entre a coisa pública e os donos do capital privado são conhecidas no Brasil e sempre foram criticadas. No caso das monoculturas de eucalipto produzidas por empresas como a Aracruz e a Veracel, a relação promíscua deixa um rastro de danos que a sociedade brasileira não quer mais suportar. Casos como a ação das mulheres da Via Campesina no laboratório da Aracruz Celulose no Rio Grande do Sul, e, agora, o 1o de maio em Santa Luzia, são a prova disso.