17/10/2019 12:09

Daniela Meirelles¹

O petróleo que mancha as praias nordestina é “misterioso” e danoso como toda exploração petroleira costuma ser.

“Misterioso” porque ninguém sabe (ou diz) de onde vem, de quem é, porque veio, quem se responsabilizará, como sairá, até quando e quais são os impactos. De tão “misterioso”, sugere especulações diversas de diferentes lugares e fontes. Do mundo petroleiro, sempre são poucos os que sabem.

Danoso porque a única coisa que sabemos é que a exploração de petróleo gera danos. Assim reconhecem as próprias petroleiras.

Segundo o IBAMA, já são 178 pontos de áreas poluídas, mais de 130 mil toneladas de óleo, 2 mil quilômetros de extensão, 72 municípios em 9 estados onde as manchas chegam de surpresa há mais de 1 mês e estão causando terror. Sobre a fauna afetada, foram contabilizados até agora 29 animais – 2 aves com óbito, 1 ave viva, 11 tartarugas marinhas vivas, 15 tartarugas marinhas com óbito. 

Duto, plataforma, navio tanque, navio fantasma, navio naufragado, lavagem de tanque, barris de lubrificantes, refinarias… as possibilidades da sua origem são tantas quantas são o metabolismo petroleiro: amplo, geral e irrestrito. Está no mar, na terra, no ar, no campo, nas cidades, nos combustíveis, nos plásticos, descartáveis, alimentos, fármacos, cosméticos. Conhecidos por meios oficiais ou extra oficiais, licenciados ou não, tecnologias modernas ou defasadas, para o mundo petroleiro o rigor não é exatamente condição, vale mais avançar ilimitadamente.

Foto: Instituto Verde Luz/Instagram

PDVSA, Petrobrás, Shell… qualquer petroleira pode ser responsável já que todas, seja de onde for, têm histórico de contaminações em territórios nacionais ou internacionais. Na Venezuela, no Brasil, na Holanda e em todos os lugares onde se explora o petróleo, acontecem derramamentos, explosões e vazamentos. A depender da dimensão, não dá para não noticiar. Assim está concebida a exploração petroleira: de grande risco e pouca contingência.

Ainda que as petroleiras invistam bilhões em pesquisas nas Universidades, há uma clara limitação técnica para o que chamam de imprevisibilidade. Sempre que acontece um desastre nestas proporções, argumenta-se por problemas técnicos para solucioná-lo, como se a técnica fosse um sujeito oculto, sem responsável. Mas quando encontram uma tecnologia capaz de extrair petróleo a 7 mil metros de profundidade, arrota-se o orgulho e logo põe sua assinatura na tal tecnologia.

O petróleo, serve em primeiro lugar para fazer a guerra. Não é à toa que as primeiras acusações expressas pelo irresponsável governo brasileiro tenham recaído justo sobre aqueles que já estão sob sua mira, a Venezuela, ainda que o trânsito de navios petroleiros na costa brasileira seja de diversas nacionalidades. Mas sabe-se que a gana petroleira gera uma energia bélica, uma disputa pelo controle, pelo acesso, dinheiro e poder. Neste caso, a busca é pelo gatilho.

Limpeza da praia em Piaçabuçu (PE). Foto: Ascom prefeitura Piaçabuçu

A falta de informações está também diretamente relacionada ao desmonte das esferas de controle, monitoramento e fiscalização ambiental, como é o caso, ainda em 2017, da Coordenação Geral de Petróleo e Gás do IBAMA (CGPEG), que era responsável pelos licenciamentos dos empreendimentos de petróleo e gás no mar brasileiro e primava por uma cobrança exigente às empresas. Agora, no atual governo, há uma clara política anti ambiental de sucessivos desmontes, desconstruções, deslegitimações e perseguições. Enquanto o governo federal lava as mãos, sobra para as prefeituras limparem a sujeira.

Os impactos são vários e de longo alcance. Intoxicação e morte de animais, sufocamento de corais, irritação na pele, problemas respiratórios, neurológicos, câncer. Comprometimento do turismo e da pesca artesanal, este último responsável pelo abastecimento de 70% do pescado consumido no Brasil, mas que ainda assim não tem o seu território reconhecido e é o primeiro a amargar com todos os desastres petroleiros.

E enquanto o petróleo vazado ajudava a manchar ainda mais o quadro ambiental do país, o governo, na contramão, realizava mais um leilão ofertando 36 novos blocos de exploração no mar na 16ª Rodada de Licitações.  Nesta hora, as transnacionais são bem vindas e arremataram a maior parte dos blocos (11 de um total de 12 vendidos). Ainda bem, ao menos, que ninguém quis e poupou os campos do Nordeste, interessados que estão nos blocos do Pré-Sal que serão leiloados em novembro.

De todos os lados, mandamos a nossa solidariedade aos nordestinos e clamamos por NEM UM POÇO A MAIS!

 

[1] Daniela Meirelles, educadora do programa da FASE no Espírito Santo e Campanha Nem Num Poço a Mais.