07/07/2022 16:30

 

 

 

*Ana Vitória Batista

Nos dias 01, 02 e 03 de julho, 32 moradoras do PAE Lago Grande estiveram reunidas para concluir o Programa de Formação Mulheres e Agroecologia, promovido pela FASE Amazônia, em parceria com a Feagle, entidade que representa os moradores e as comunidades. Repletos de dinâmicas, momentos de estudo e de debate, os três dias de encontro contaram com a participação de mulheres das regiões Arapiuns, Arapixuna e Lago Grande, que compõem o Projeto de Assentamento Agroextrativista.

Primeira iniciativa voltada especificamente para as mulheres agricultoras do local, o programa trouxe, neste módulo, uma discussão sobre a participação das mulheres na construção social de mercados e novas economias. Nos módulos anteriores foram trabalhados temas diversos, como superação da violência, soberania alimentar, manejo, uso da biodiversidade e cuidados em saúde. Essas questões são de grande importância para as agricultoras do PAE Lago Grande, visto que elas são as detentoras de conhecimentos e habilidades necessárias à produção de alimentos agroecológicos.

Neste momento do programa, as participantes, em pequenos grupos, leram textos relacionados à temática central do módulo a partir de subtemas como sustentabilidade da vida humana, tempo dedicado ao trabalho, divisão das tarefas domésticas e como o capitalismo afeta essas mulheres.

Com isso, as comunitárias do PAE Lago Grande afirmaram que tinham seu tempo limitado devido ao grande número de tarefas domésticas, ter que cuidar de seus filhos e ainda ajudar os maridos no trabalho da roça. Vanessa, moradora da comunidade São Geraldo, região do Lago Grande, por exemplo, discutiu com seu grupo a respeito da economia feminista como uma forma de superar a pouca valorização do trabalho das mulheres em relação ao dos homens. Segundo ela, o público feminino é sempre visto como dotado de capacidade inferior e de fragilidade

Também sobre isso, dona Erolina, moradora da comunidade Murui, região do Lago Grande, disse: “a gente como necessita, a gente se sujeita a trabalhar, lavar uma louça. Mesmo que eu trabalhe num escritório, mas eu não ganho aquilo que eu precisava ganhar”, conclui.  Por outro lado, dona Delma e suas companheiras de estudo afirmaram que há formas de mudar esse cenário. Uma delas é educar seus filhos e filhas desde cedo para que auxiliem nas tarefas de casa e dialogar com os maridos, para que ajudem também. Além disso, Janete, que reside na comunidade Terra Preta dos Vianas, também no Lago Grande, afirmou que essa realidade está mudando também devido ao conhecimento que elas têm agora sobre seus direitos, através de momentos de estudo como aqueles do Programa de Formação Mulheres e Agroecologia.

Promoção de intercâmbio

Primeira iniciativa da FASE Amazônia voltada especificamente para as mulheres do PAE Lago Grande, o Programa de Formação Mulheres e Agroecologia possibilitou, neste encontro de três dias de culminância e encerramento, um intercâmbio entre as regionais do Pará e do Mato Grosso.

Isso foi possível porque, segundo a educadora da FASE Jaqueline Felipe dos Santos, as mesmas estratégias de atuação aplicadas no PAE Lago Grande são desenvolvidas também em outras regiões: “a gente tem um coletivo de mulheres que a gente tem uma rotina de reuniões, de planejamento e de pensar estratégias de atuação com as mulheres”.

Assim, estava presente na atividade a educadora da FASE Mato Grosso, Kézia Cristina. Ela, que é engenharia agrônoma, trabalha acompanhando grupos de mulheres associados à Associação Regional das Produtoras Extrativista do Pantanal. Ela afirmou sobre essa oportunidade: “eu tô gostando, conhecendo novas pessoas, trocando experiências, saberes, é sempre bom”.

Educadora da FASE Mato Grosso, Kézia Cristina (ao centro) participa do intercâmbio de saberes.

Junto com ela, veio a agricultora Sueli dos Santos, de Mirassol d’Oeste, que integra o grupo de mulheres Margarida Alves. Ela trabalha, em seu grupo, com o babaçu, retirando seu óleo e produzindo derivados. Sueli conta que esse intercâmbio foi uma grande oportunidade para ela, que sonhava em viajar de avião e diz: “foi um prazer imenso conhecer aqui o PAE Lago Grande, foi mais um aprendizado, muito bom, muito importante”, destacou.

Sueli dos Santos, que nunca havia viajado de avião, se apresenta para as mulheres do Pará.

As participantes do Programa de Formação Mulheres e Agroecologia receberam a tarefa intermódulos de multiplicar as informações obtidas na formação, compartilhando-as com as mulheres de suas comunidades que não puderam estar presentes.

Sobre isso, a educadora da Fase Amazônia, Sara Pereira diz: “esse é o pontapé de um trabalho que vai continuar e uma sementinha que está sendo plantada junto com as mulheres aqui”. Ela ainda ressalta que se trata de uma experiência muito rica, diversa e potente, mostrando que as mulheres do PAE Lago Grande, articuladas, ainda têm muito a crescer e avançar.

Festa de formatura

Após os estudos e reflexões, no sábado (2), as mulheres estudantes do PAE Lago Grande tiveram algumas horas para se prepararem para a sua formatura, em uma noite cultural cheia de brincadeiras, danças, e com direito a desfile na passarela.

Todas muito bem arrumadas e animadas, elas desfilaram na passarela, receberam os certificados do Programa de Formação e, depois, jogaram bingo, cantaram e dançaram. Dona Arlete, que foi uma das formandas, disse, sobre esse momento: “eu me senti muito valorizada, é uma força para as mulheres, então foi uma coisa que eu gostei demais”.

*Ana Vitória Batista é comunicadora popular colaboradora da FASE.