23/07/2012 10:52
Desde que começou a atuar no semi-árido, a FASE Bahia procura incorporar concepções e metodologias construídas ao longo de décadas por entidades e organizações presentes no bioma da caatinga – que defendem a convivência em vez do enfrentamento da seca.
No território de identidade do Sisal, onde a FASE atua em diversos municípios, a técnica agropecuária Andréa Almeida constatou que várias famílias ainda não tinham adotado todas as medidas preventivas possíveis que lhes auxiliariam a superar dificuldades, em caso de ocorrência de novas estiagens. Respeitando a concepção da “convivência com o Semi-árido”, a assessoria técnica da FASE partiu do pressuposto de que a ocorrência de estiagens mais agudas é um fenômeno cíclico, recorrente. Ou seja, estiagens vão atingir a região sempre, regularmente. Mudam apenas a intensidade e a duração. Por isso, a adoção de medidas preventivas é necessária e insubstituível.
Assim sendo, a assessoria técnica da FASE – juntamente com outras entidades parceiras que atuam no local – vêm construindo conhecimentos em eventos de formação como “oficinas temáticas” e “laboratórios”, onde se trabalham alternativas tecnológicas baseadas na concepção da convivência. Trata-se de princípios como: armazenamento de água para consumo humano e dessendentação de animais; formação de estoques de alimentos para consumo humano e para nutrição animal; procedimentos para evitar perda de água por evaporação e/ou erosão; e aumento da biodiversidade com espécies nativas e adaptadas ao clima vigente. Manter e ampliar a Segurança Alimentar e Nutricional das famílias é um dos critérios que orienta a escolha de alternativas.
Durante recente visita da coordenação estadual ao Sisal, registrou-se um bom exemplo de convivência com o semi-árido. Na propriedade do jovem AMA Fabiano, em Casinhas, no município de Araci, técnicos da FASE orientam coletivamente o plantio de palma forrageira para que se reservem alimentos à grande quantidade de caprinos criada no local. A palma forrageira é uma espécie que tolera períodos prolongados de estiagem e possui razoáveis níveis de nutrientes essenciais à alimentação de animais como caprinos. Fabiano percebeu a relevância das orientações técnicas socializadas pela FASE e incorporou os procedimentos, ampliando reservas de forragem – de maneira a enfrentar períodos de estiagem prolongados como o que passa a Bahia desde fins de 2011. A atual seca é classificada como a mais severa dos últimos 40 anos.
Outra experiência gratificante que a FASE pode registrar é o pomar da AMA Gildete, da comunidade de Mombaça, em Serrinha, onde foram feitas podas de graviola e de outras fruteiras. O pomar conseguiu atravessar o período de seca e vai sobreviver.
Vale a pena mencionar também que graças à organização sindical e associativa de famílias agricultoras acompanhadas pela FASE, a comunidade de Saco do Moura conseguiu realizar uma reunião com a Companhia de Ação e Desenvolvimento Regional (CAR), vinculada ao governo da Bahia. Na ocasião, o gerente regional de Serrinha Sr. Domingos Magalhães Neto informou que serão construídas 37 cisternas de consumo – equipamento fundamental para viabilizar a sobrevivência das famílias durante períodos de estiagem. Essas famílias são acompanhadas pelos AMAs da comunidade.
Como se sabe, existem movimentos sociais populares em toda a região do nordeste, comprometidos com estratégias de convivência e integrando a Articulação do Semiárido (ASA), que defendem a construção de cisternas de placas de concreto como alternativa mais indicada para a garantia de água para consumo nas comunidades – periódica e regularmente – submetidas a estiagens.