05/12/2019 15:57
Ouça a entrevista de Guilherme Carvalho¹:
O aumento dos índices de desmatamento da Amazônia não é novidade para ninguém. O mundo observa com atenção o avanço das queimadas e da derrubada das árvores naquela que é a maior floresta tropical do planeta. Esta semana, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou números que mostram um crescimento de 29,5% na área desmatada entre agosto de 2018 e julho de 2019 em relação ao período anterior.
Os dados divulgados são do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), que mede com maior precisão as taxas anuais, diferentemente do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), responsável pelos alertas mensais.
O coordenador do programa da FASE na Amazônia, Guilherme Carvalho, analisou com preocupação a confirmação da ampliação do desmatamento na região e enxerga dificuldades para mudança no panorama na gestão de Jair Bolsonaro. “Está todo mundo sem muita esperança de que esse quadro vai ser revertido porque esse é um governo que tem estimulado as forças interessadas na apropriação de mais e mais territórios na Amazônia e o desmatamento é uma forma de se apropriar desses territórios. Além disso, o desmatamento tem avançado sobre as terras indígenas com as invasões de terras quilombolas”, exemplificou.
O quadro atual da Amazônia aponta para uma dificuldade no reflorestamento quase incontornável, de acordo com o que afirmam os estudiosos. “Hoje, pesquisadores estão dizendo que já estamos próximos, em determinadas partes da Amazônia, de uma situação de irreversibilidade, que se nada for feito de forma emergencial, como aqui na parte oriental da Amazônia, no Pará, principalmente, determinadas situações não têm mais como ser revertidas”, alertou Carvalho.
O especialista lembrou que o desmatamento da floresta afeta não só a biodiversidade da região, mas altera o regime de chuvas em outras regiões do Brasil, como o Sul e o Sudeste, o que pode representar uma situação de calamidade.
O caráter destrutivo da gestão do Palácio do Planalto em diversos setores das políticas públicas chama atenção do especialista em Amazônia. “Digo sempre que é o ‘governo da morte’ porque todas as políticas centrais têm a morte como um elemento estruturante. É a política para o armamento da população, a liberação para os policiais matarem, a reforma da Previdência que vai ser baseada no Chile e vai matar velhos porque eles não terão condições de sobreviver com R$ 400, uma política voltada para não demarcar terras indígenas e quilombolas, novas áreas protegidas. Se você pegar as principais políticas do governo Bolsonaro, ele se centra na morte, no estímulo aos torturadores e tudo mais”, comentou o membro da FASE.
Outro alerta feito por Guilherme se deu em relação ao processo de desertificação do cerrado brasileiro, vegetação característica da região Centro-Oeste do país e que influencia as bacias hidrográficas. “Precisamos dizer sobre a situação da Amazônia relacionada também ao Cerrado, que está passando por um processo brutal de destruição. Muitos de nossos rios da Amazônia nascem no Cerrado, assim como os de vocês do Sudeste. Se o Cerrado continuar a ser destruído, nós aqui na Amazônia vamos sofrer muito e vocês aí também”, avisou.
[1] Publicado originalmente no site do programa Faixa Livre.