24/01/2008 15:06

O contraponto de Davos e do Fórum Social Mundial frente ao furacão financeiro

No dia 26 de janeiro, enquanto se mobilizam no mundo inteiro os movimentos sociais que lutam pela superação da hegemonia neoliberal e pela abertura de caminhos alternativos aos rumos desastrosos da globalização capitalista, os representantes do capital financeiro e das transnacionais, bem como muitos dos seus prepostos e porta-vozes nos governos e organismos financeiros multilaterais, estarão em Davos, encerrando a reunião anual do Fórum Econômico Mundial (iniciada no dia 23). Este ano eles estão lidando com uma pauta bem diversa daquela prevista pelos organizadores desse fórum de reflexão e articulação dos detentores do poder econômico e político em escala mundial. O tema agendado era “competir colaborando”, mas a verdade é que depois de dois dias terríveis para as bolsas em todo o mundo, o Fórum de Davos será marcado pela sombra da recessão nos EUA, provocada pela crise do crédito imobiliário de alto risco. Segundo o mega-investidor (e especulador) George Soros, esse “furacão financeiro” assinala o fim de uma era de expansão do crédito baseada no dólar como moeda de reserva internacional. Segundo ele, “trata-se de um furacão maior do que qualquer outro ocorrido desde o fim da Segunda Guerra Mundial”. Com seu habitual realismo e franqueza brutal, Soros desfaz as ilusões dos fundamentalistas de mercado, ressaltando o fato de que os mercados tendem para o desequilíbrio e que, deixados à própria sorte (isto é, sem a intervenção das autoridades financeiras) “tendem a extremos de euforia e desespero”. Evidentemente essa crítica, de quem conhece por dentro o funcionamento do sistema, não incorpora uma visão crítica sobre o pano de fundo da euforia anterior, a saber a barbárie capitalista, com a sua seqüência de guerras, violações generalizadas de direitos, destruição de países inteiros e desastres ambientais que ameaçam a própria sobrevivência do planeta.

É interessante notar que o atual pessimismo (ou melhor, realismo) contrasta com o otimismo que reinou em Davos em 2007. Evidentemente essa percepção pendular da situação econômica mundial não pode ser explicada apenas pelo imediatismo e falta de perspectiva histórica dos donos do grande capital. O capitalismo liberal globalizado está levando às últimas conseqüências a irracionalidade inerente a um sistema em que “tudo que é sólido desmancha no ar”. Infelizmente não são apenas os lucros dos grandes bancos norte-americanos e europeus que estão se desmanchando nessa crise. Nos EUA, as primeiras vítimas foram famílias que acreditaram na viabilidade da aquisição da casa própria através do crédito imobiliário. A população negra foi grandemente atingida pela crise do setor imobiliário.

O Fórum Social Mundial representa a alternativa a essa marcha da insensatez. E, por isso mesmo, tem de percorrer um caminho longuíssimo e bastante árduo de acúmulo de forças. Não podemos desperdiçar as oportunidades – como a que, infelizmente se oferece com este novo “furacão financeiro” – de ampliar a consciência social de milhões de pessoas em todo o mundo acerca do verdadeiro significado do chamado desenvolvimento e do impacto destrutivo dessa verdadeira gangorra de crises e crescimento econômico vertiginoso que caracteriza a acumulação de capital na atual globalização neoliberal.