Suzana Devulsky e Gabriela Polydoro
27/03/2025 10:09
Na semana que antecedeu o Dia Mundial da Água, celebrado no dia 22 de março, movimentos sociais e organizações da sociedade civil se organizaram em torno da pauta. A FASE esteve presente em atividades na região amazônica e no Rio de Janeiro, além de ter lançado o curta-documentário “Caminho das Águas: das nascentes às torneiras”, reforçando a urgência de se encontrar alternativas para garantir um futuro com águas acessíveis para todas as pessoas.
No estado do Pará, a FASE Amazônia participou de ações em Santarém e na região do Baixo Tocantins, áreas de atuação da FASE. Em Santarém, uma caminhada e ato cultural, iniciativa do Movimento Tapajós Vivo e do Grupo de Teatro Chico Mendes, percorreu as ruas com intervenção artísticas e manifestações culturais. O ato fez denúncias das violações do direito à água e defendeu as propostas de proteção dos territórios, além de denunciar os impactos da Cargill na destruição da praia da Vera Paz há 22 anos. Os participantes também reforçaram a necessidade de proteger o Rio Tapajós que vem sendo ameaçado pelo agronegócio.
“O ato foi muito importante para a mobilização por direitos e para a organização popular. Estar junto aos movimentos que protagonizaram o ato foi valioso para a resistência no atual momento em que querem transformar o Tapajós em uma esteira de escoamento de soja”, conta Pedro Martins, educador da FASE Amazônia.
Já na região do Baixo Tocantins, a FASE Amazônia esteve presente ao longo de toda a programação da Semana pré-Grito das Águas, que mobilizou as comunidades da Ilha do Capim, Rio Caratateua, Igarapé Vilar e Igarapé São José em atividades de formação e resistência com um grande círculo de diálogos interculturais. A iniciativa, que chegou à sua terceira edição com o tema central “Por territórios livres e justiça socioambiental na Amazônia”, foi organizada em parceria com a Universidade de Brasília (UNB) e movimentos locais, promoveu reflexões sobre a importância da água como bem comum, elemento essencial para a vida e identidade dos povos das águas e das florestas e as ameaças aos modos de vida tradicionais. Diante do cenário de intensificação das crises climáticas e das disputas por territórios na Amazônia, o Pré-Grito das Águas se fortalece como uma voz coletiva que ecoa a urgência da justiça socioambiental e a necessidade de políticas públicas que respeitem os direitos dos povos tradicionais.
- Oficina de Comunicação Popular Ribeirinha: Água, Território e Mudanças Climáticas
- Oficina Educar para coabitar com/no campo, nas águas e florestas
Grazielle de Azevedo, educadora da FASE Amazônia, falou da importância da Semana e do Grito das Águas, em sua sexta edição, no próprio dia 22 de março: “O Sexto Grito das Águas representa esse momento de luta, mas também de resistência das comunidades tradicionais ribeirinhas e quilombolas das Ilhas de Abaetetuba. São comunidades que historicamente têm seus direitos violados e que vêm resistindo frente ao avanço do capitalismo na região. Durante toda a semana estivemos envolvidos em atividades de preparação para o dia 22 de março, o Dia Mundial das Águas, em uma parceria com o Grupo de Pesquisa em Educação, Saberes e Decolonialidades (GPdes) da Universidade de Brasília. Esse grupo já vem colaborando há três anos nessa região, desenvolvendo em parceria com os territórios, formações com crianças, professores, juventude, adolescentes e lideranças comunitárias. Inicialmente, essas atividades aconteciam apenas na Ilha do Capim, mas, neste ano, ampliamos as formações para as comunidades do Igarapé Vilar e do Igarapé São José, que fica localizado na Ilha Xingu. A FASE se somou a esse movimento, fortalecendo os processos formativos e a preparação para esse momento tão importante, que é o Grito das Águas.”
- VI Grito das Águas
No Rio de Janeiro, onde a FASE tem sua atuação mais focada no território urbano, voltada para o direito à cidade, educadores participaram da manifestação contra a privatização dos serviços de água no estado. O ato, organizado pela Rede de Vigilância em Saneamento e Saúde, da qual a FASE é parte, foi realizado no dia 20 de março, em frente à sede da empresa Águas do Rio, atualmente a principal responsável pelos serviços de água em toda região metropolitana do Rio de Janeiro.
Na ocasião, movimentos populares e sociedade civil se manifestaram para a reivindicação do direito à água para favelas e periferias do estado, além de denunciarem problemas relacionados ao abastecimento e à privatização da água. Os manifestantes destacaram as questões da tarifas sociais altas, a falta de acesso a saneamento adequado aos serviços de saneamento em comunidades, assim como a frequente falta de água em vários bairros do Rio de Janeiro.
De acordo com o educador da FASE RJ, Bruno França, com a perspectiva de abertura de capital do que ainda resta da CEDAE (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro), os abusos nas cobranças e má qualidade nos serviços, problemas que já estão acontecendo em áreas onde a distribuição de água é controlada pela empresa Águas do Rio, tendem a se agravar. “É essa empresa que está de olho no nosso bem vital que é a água, e isso não é à toa. Eles sabem da importância desse recurso, e de como que isso vai ser ainda mais importante em um futuro muito curto”, explica.
Para Bruno, que também integra a Rede de Vigilância em Saneamento e Saúde, o saldo do ato foi positivo, com a presença de pessoas e organizações relevantes para o debate: “O ato marca um processo da Rede de Vigilância Popular em Saneamento e Saúde de levar para as ruas uma insatisfação que tem sido generalizada da população carioca. Uma insatisfação que tem sido discutida, debatida e monitorada pelos membros da rede de diversas formas, que sai do lugar de apenas denúncia para colocá-la como uma cobrança efetivamente”.
Por fim, pensando em uma incidência política em nível nacional, a FASE publicou diversos conteúdos sobre água em suas redes sociais ao longo da semana que culminou no lançamento, no dia 22 de março, do curta-documentário “Caminho das Águas: das nascentes às torneiras“, no qual apresenta denúncias e apresenta soluções possíveis para um futuro com águas limpas, abundantes e acessíveis para todas e todos.
*Comunicadora e estagiária da FASE, respectivamente