20/04/2023 16:54

*Júlia Motta

No dia 22 de Abril é celebrado o Dia Internacional da Terra, dedicado à reflexão sobre o meio ambiente e as ações humanas que levam à destruição da natureza, ao aquecimento global e, atualmente, às mudanças climáticas. Criada em 1970 durante um protesto ambiental nos Estados Unidos, a data se torna cada vez mais importante diante das previsões catastróficas para o futuro.

Para Samis Vieira de Brito, educador popular da FASE Amazônia, a terra é um bem comum de toda a Humanidade, com forte relação com o território. “As plantas, as sementes, as águas, as florestas, a biodiversidade e todos os recursos naturais, inclusive os saberes ancestrais de comunidades e povos tradicionais, são essenciais para manutenção da vida humana”, afirma.

Por outro lado, as políticas públicas, principalmente durante os últimos quatro anos, favoreceram o aumento do desmatamento, avanço do garimpo ilegal, genocídio das comunidades indígenas, liberação de agrotóxicos e outros crimes ambientais. A visão da terra como mercadoria, reforçada pelo sistema capitalista, ameaça a existência no planeta, conforme pesquisas científicas.

Terra envenenada, pessoas envenenadas

A liberação desenfreada do uso de agrotóxicos é uma das principais ameaças à Terra e a nós seres humanos. “Só no governo Bolsonaro foram mais de dois mil registros de agrotóxicos no país, implicando na contaminação do meio ambiente e das pessoas”, diz Fran Paula, educadora da FASE no Mato Grosso, agrônoma e especialista em agrotóxicos.

Ela também expõe outros perigos na utilização dessa substância: “Os agrotóxicos violam direitos humanos de populações rurais, comunidades quilombolas e populações indígenas onde, muitas vezes, é utilizado como arma química para expulsão dessas comunidades do seu território”.

O papel das cidades na luta pela terra

Sarah Vidal, educadora da FASE Pernambuco, destaca a importância das cidades quando se fala em meio ambiente. Apesar de lugares urbanos, as cidades, principalmente as grandes metrópoles, precisam se aproximar do debate sobre preservação da natureza. Em Recife, Sarah participa de projetos de instalação de hortas urbanas. “Está cada vez mais nítido o esgotamento do nosso planeta, e as cidades têm um papel nessa luta dentro da perspectiva de serem mais justas, igualitárias e que dialoguem com nossos biomas”, declara.

Além da preservação ambiental, Sarah destaca dois outros papéis importantes das hortas nas cidades: “A agricultura urbana garante a segurança alimentar e nutricional das populações periféricas, e também proporciona o encontro da comunidade e a troca de experiência. É nessa convivência que há o diálogo sobre o direito à cidade”.

Em defesa da Reforma Agrária

De acordo com Samis, para avançar na luta pela defesa da terra, é preciso priorizar medidas que coloquem os povos originários e tradicionais no centro do debate. “São eles os verdadeiros guardiões e guardiãs da biodiversidade”. Nesse sentido, o educador defende que a autonomia dos povos para decidir sobre seus próprios sistemas alimentares é questão prioritária, “contribuindo para defesa de seus territórios e de sua identidade cultural”.

Sarah reforça a importância de uma urbanização sustentável, no sentido ambiental mas também social, com moradia digna, saneamento e acesso à água. A educadora defende a divulgação de outras bases de desenvolvimento, “que sejam sócio e ambientalmente justas”, como a agroecologia, que segundo ela, deve ser entendida enquanto “movimento, ciência e prática”.

Outro ponto de destaque é a reforma agrária. Para Samis, é vital “constituir políticas públicas que priorizem e garantam a democratização do acesso à terra, promovendo a justiça ambiental”. Sarah também defende a medida, e afirma: “eu não acredito num planeta ambientalmente justo e equilibrado sem acesso à terra”. Fran alerta sobre a urgência desse movimento e para a retomada de políticas públicas que garantam a proteção do meio ambiente e das pessoas. E espera que o novo governo “apresente novas demandas que garantam a saúde da população e a promoção da agroecologia”.

*Júlia Motta é Estagiária de Comunicação da FASE