Yuri Rodrigues e Grazielle Azevedo
04/08/2025 17:09
O VIII Congresso Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa aconteceu entre os dias 21 e 25 de julho de 2025, em Manaus, no Brasil e contou com o tema “Educação Ambiental e Ação Local: respostas à emergência climática, justiça ambiental, democracia e bem viver”. Este é um evento bienal que reúne agentes de educação ambiental da CPLP e Galiza para debater e fortalecer a educação ambiental em contextos lusófonos. Fazem parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) países como Brasil, Portugal, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique.
A abertura do Congresso foi marcada pela presença ilustre da Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, que enfatizou a relevância da cooperação e apontou a educação ambiental como elemento central no enfrentamento da crise climática e suas interseccionalidades, ao destacar que: “Acima de nós está o enfrentamento da mudança do clima, acima de nós está a defesa da democracia, acima de nós está o combate à desigualdade, ao racismo, ao machismo, à homofobia, isso é educar para a sustentabilidade”.
Centro TIPITI em defesa da agroecologia e justiça climática
A FASE Amazônia, representada pelo educador Yuri Rodrigues, esteve presente no congresso com o objetivo de apresentar as ações desenvolvidas pelo Centro de Educação e Cooperação Socioambiental TIPITI (CECSA), vinculado ao edital de Chamamento Público Nº 2/2023 do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, por intermédio do Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA.
O Centro Tipiti carrega em sua trajetória a marca da luta dos agricultores e agricultoras familiares, assim como o compromisso firme no enfrentamento às ameaças que avançam sob os territórios tradicionais no Nordeste Paraense. O centro fica localizado no município de Abaetetuba e foi concebido no final da década de 1980 a partir da mobilização do movimento dos trabalhadores(as) rurais, contando com o apoio de organizações não governamentais, como a FASE Amazônia, e da cooperação internacional. Sua criação surgiu como resposta à ausência de assistência técnica adequada à realidade da agricultura familiar na região, um desafio que compromete a sustentabilidade produtiva e a preservação dos recursos naturais.
Ao longo dos anos, o Centro TIPITI consolidou-se como um espaço de referência na promoção de tecnologias socioambientais adaptadas à realidade amazônica, fortalecendo a autonomia das comunidades e reafirmando seu compromisso com a construção de um modelo de desenvolvimento pautado nos princípios da agroecologia, da justiça social e da sustentabilidade.
A partir de 2023, com a aprovação no edital do FNMA/MMA, o Centro TIPITI intensificou suas ações abrangendo 12 municípios do nordeste paraense, com foco na formação de lideranças comunitárias em educação socioambiental. As ações fortalecem a atuação de multiplicadores(as) de tecnologias sociais e de sistemas produtivos fundamentados na agroecologia. São direcionadas, prioritariamente, a comunidades tradicionais e povos indígenas, com atenção especial à participação de mulheres e jovens. O projeto também contempla a realização de atividades específicas para a formação de professores(as) e estudantes das redes públicas de ensino.
Junto aos 12 municípios envolvidos, está sendo construído de forma participativa um diagnóstico socioambiental da região, com a contribuição de mais de 90 organizações e a participação direta de mais de 130 pessoas. Esse processo tem proporcionado uma compreensão mais aprofundada das realidades sociais, ambientais, econômicas, culturais e educacionais locais. Além de traçar esse panorama, o diagnóstico tem orientado a elaboração de estratégias e ações que serão desenvolvidas ao longo do segundo semestre de 2025 e do primeiro semestre de 2026. Ele também servirá de base para a consolidação do Projeto Político Pedagógico e para a definição de estratégias de ação e sustentabilidade do Centro TIPITI.
Articulação em rede dos CECSA’s no Brasil
Os Centros de Educação e Cooperação Socioambiental surgem com objetivo de impulsionar as transformações culturais necessárias para o fortalecimento de processos educativos voltados à transição para sociedades sustentáveis, promovendo uma nova cultura da Terra, dos corpos e dos territórios. Esses espaços atuam como núcleos de cooperação, articulação e desenvolvimento de ações estratégicas voltadas à formação e ao fortalecimento de organizações e pessoas engajadas em temas como mudanças climáticas, agroecologia, economia solidária, educação socioambiental, comunidades e cidades sustentáveis, consumo e produção responsável, gestão da água.
A oportunidade de participação em atividades específicas para reunir os CECSA’s durante o Congresso permitiu a troca de experiências e o fortalecimento de articulações entre os centros de diferentes regiões do Brasil e de outros países. Foi possível observar que, apesar das formas próprias de organização de cada centro, todos utilizam a educação socioambiental como instrumento de defesa dos direitos territoriais, proteção aos modos de vida tradicionais, e reafirmam a agroecologia como principal solução para o enfrentamento das mudanças climáticas.
Os CECSA’s integram atualmente a política nacional de educação ambiental e sua visibilidade tem sido ampliada por meio de uma pesquisa lançada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), que busca mapear os Centros de Educação Ambiental em todo o país, identificando suas condições atuais e as ações que desenvolvem. Durante as atividades do congresso, o MMA compartilhou essa iniciativa com os participantes, reforçando a importância do envolvimento dos centros nesse processo de levantamento e articulação nacional.
Embora os Centros de Educação Ambiental no Brasil tenham conquistado avanços significativos e reconhecimento institucional, ainda enfrentam desafios importantes, especialmente no que diz respeito à garantia de sua continuidade e sustentabilidade. Essa preocupação foi amplamente compartilhada por grande parte dos centros, em especial pelos que integram o edital FNMA/MMA. Como resposta a esse cenário, representantes desses centros articularam uma reunião com Marcos Sorrentino, Diretor do Departamento de Educação Ambiental e Cidadania do MMA. O encontro teve como propósito discutir caminhos para a manutenção das ações desenvolvidas, o fortalecimento da Rede Nacional de Centros de Educação Ambiental e refletir sobre como a FASE pode reafirmar, cada vez mais, o Centro TIPITI como espaço de referência em educação socioambiental no nordeste paraense — tanto nos territórios quanto no âmbito institucional junto ao Governo Federal.
*Educadores da FASE Amazônia