Julia Tetê e Marina Malheiro
25/09/2024 15:45
Dos dias 17 a 19 de setembro, a FASE Bahia, em conjunto com a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), reuniu mais de 40 pessoas no território do Vale do Jiquiriçá para um seminário sobre agroecologia e segurança alimentar e nutricional (SSAN). O evento contou com a participação de agricultores, agricultoras, artesãs, jovens, representantes de organizações, secretarias municipais e órgãos estaduais, como os Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (SINTRAF) de Mutuípe e Laje, e o Serviço Territorial de Apoio à Agricultura Familiar (SETAF) do Vale do Jiquiriçá.
Rosélia Melo, coordenadora da FASE Bahia, abriu o seminário destacando a importância do cuidado com a terra:
“Iniciamos nosso seminário falando sobre terra. Terra no sentido da vida, da produção de alimentos, do fortalecimento da agricultura familiar, e a gente precisa entender o seguinte, que para terra continuar sendo toda essa prosperidade que a gente colocou em nossas apresentações, nós temos que cuidar dela. E uma das formas mais prósperas de cuidar da terra é praticando agroecologia. Então, por isso, nós trazemos esse seminário sobre agroecologia e segurança alimentar e nutricional, iniciando com esse enfoque sobre a importância da terra, para produção e para vida.”
A agroecologia, prática que une ciência, movimento social e agricultura, se destaca como um caminho para equilibrar os direitos sociais, econômicos, ambientais e culturais com o direito à vida e a preservação da natureza. Ela se diferencia pelo respeito aos saberes tradicionais e pelo incentivo ao bem viver.
Durante o encontro, Jenner Campos, representante do SETAF Vale do Jiquiriçá, lembrou a importância da resistência da agricultura familiar frente às adversidades políticas recentes:
“Todos nós passamos por um processo de quatro anos onde houve um destroço da Agricultura Familiar. Primeiro um Governo Federal que acabou logo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que é o Ministério que cuida da Agricultura Familiar. Então, houve um retrocesso. E o governo do estado assumiu isso, a Bahia bancou isso, porque sabe a importância da agricultura familiar na produção de alimentos saudáveis para se colocar e contrapor ao agronegócio, que produz de forma irresponsável, usando agrotóxicos e contaminando todo mundo. Assim, a gente deve pensar que a agroecologia é também um processo político.”
Ao longo dos três dias de seminário, foram abordadas diversos temas essenciais para o fortalecimento da agroecologia. Nos dois primeiros dias, as discussões giraram em torno de teorias e princípios da agroecologia, das diferenças entre esse modelo e o agronegócio, e da relevância da agroecologia no contexto das eleições municipais. Além disso, falo-se das diretrizes e estratégias da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e do papel dos conselhos de segurança alimentar na fiscalização e execução de políticas públicas voltadas à produção e distribuição de alimentos saudáveis para reduzir a pobreza extrema e as vulnerabilidades sociais.
Um dos destaques foi a troca de experiências práticas, como o passo a passo para construir uma composteira doméstica e a organização de bancos de sementes crioulas, essenciais para a conservação da biodiversidade e da soberania alimentar. Luciene Cirqueira, guardiã de sementes, compartilhou sua experiência na conservação e produção dessas sementes, que são símbolos de resistência e autonomia para os agricultores familiares.
O terceiro dia do seminário foi marcado por uma animada feira agroecológica, na qual os participantes tiveram a oportunidade de trocar sementes crioulas, reforçando o valor da diversidade agrícola e da preservação de saberes tradicionais. Entre as variedades estavam sementes de abóbora, cenoura, pimentas, milho e feijão.
A realização do seminário é parte de um esforço contínuo para fortalecer a agroecologia e a agricultura familiar no Brasil, especialmente em um momento em que as eleições municipais colocam em pauta a importância de políticas públicas que incentivem a produção sustentável de alimentos e a redução das desigualdades sociais. A FASE, por meio do projeto ATER Biomas, segue promovendo esses espaços de diálogo e formação, fundamentais para o desenvolvimento rural sustentável e a segurança alimentar no país.
*Comunicadora FASE Bahia e Estagiária da Comunicação, sob supervisão de Suzana Devulsky, respectivamente.