Isabelle Rodrigues
05/12/2024 13:56
Entre os dias 14 e 16 de novembro, o Rio de Janeiro foi palco de debates sob a perspectiva das vozes da sociedade civil durante as discussões do G20. A FASE esteve presente ativamente na Cúpula do G20 Social e na Cúpula dos Povos Frente ao G20, eventos paralelos à reunião oficial dos líderes de estado. Essas iniciativas reuniram organizações, movimentos sociais e coletivos para discutir temas como justiça climática, financiamento sustentável, segurança alimentar e reformas na arquitetura financeira global.
Sociedade civil em foco
A FASE organizou a oficina “Financiamento para Justiça Climática”, realizada na Cúpula do G20 Social, em parceria com o Brics Policy Center e o Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio. Na atividade, foi apresentado o policy brief “Fostering Climate Justice Finance in G20 Countries”, elaborado por FASE, BRICS Policy Center, Instituto Tricontinental, MST, International Association for Popular Cooperation, Rede Brasileira de Justiça Ambiental, CooperAcción, Grupo de Justicia Fiscal e IRI PUC-Rio.
A oficina trouxe os temas da taxação global justa e dos fundos climáticos liderados pelas comunidades como aspectos centrais de suas recomendações, além de explorar as possibilidades em curso que envolvem o financiamento para a justiça climática e como podemos encaminhar esse debate nas nossas agendas, unindo as perspectivas acadêmica e da sociedade civil. Maureen Santos, coordenadora do Núcleo de Políticas Alternativas da FASE (NuPA) e da Plataforma Socioambiental do Brics Policy Center, alertou que “quase 90% dos recursos anunciados pelos países desenvolvidos para financiamento climático se traduzem em dívidas para o Sul Global”.
Um dos pontos abordados foi sobre como transformar as iniciativas de financiamento para que elas tenham uma dimensão de cooperação internacional, não de dívida, para que elas possam romper com as situações de desigualdades que estão presentes nos territórios. “É fundamental o debate sobre a taxação de grandes corporações e bilionários. Não há financiamento climático sem justiça ambiental”, afirma Maureen.
A FASE também esteve presente na mesa “A Democracia e a participação social como instrumentos de enfrentar a crise socioambiental, climática, energética e civilizatória”, realizada pela Comissão Socioambiental do Conselho de Participação Social da Presidência da República durante a Cúpula do G20 Social.
A atividade contou com a participação de Maria Emília Pacheco, integrante do Núcleo de Políticas Alternativas da FASE (NuPA), que abordou o debate da agroecologia como solução não apenas como modo de produção, mas pelo modelo político de organização social e de proteção à natureza. “O país que está apresentando ao mundo a proposta de uma Aliança Global contra a Fome e contra a Pobreza precisa se debruçar sobre suas próprias contradições, porque a cada dia há um estímulo de crescimento do agronegócio, dos monocultivos, do desmatamento, da exploração mineral. Nós precisamos fazer uma inversão de prioridades”, alerta Maria Emília em relação às contradições das políticas globais apresentadas pelo G20.
Alternativas e perspectivas populares
Nos dias 14 e 15 de novembro, a FASE esteve presente na Cúpula dos Povos Frente ao G20, um espaço construído ao longo de 2024 por movimentos sociais do Brasil e do mundo e organizações da sociedade civil. A iniciativa teve o objetivo de democratizar o debate econômico e político e também expor as contradições do próprio G20. Além disso, amplifica as vozes dos povos contra as falsas soluções de desenvolvimento que, na verdade, mais beneficiam o capitalismo e aprofundam a miséria, a fome e a destruição da natureza, o que impacta de formas diferentes em diferentes povos e países.
O primeiro dia de atividades aconteceu na Associação Brasileira de Imprensa (ABI-RJ), com quatro plenárias: “Justiça socioambiental e crise climática”; “Lutas antipatriarcais e antirracistas no enfrentamento às desigualdades”, “A luta anticapitalista e a governança mundial” e “Internacionalismo e a soberania dos povos”. Já o último dia contou com a marcha “Pela vida acima do lucro: povos e natureza não estão à venda”, em Copacabana, no Rio de Janeiro.
A participação da FASE nesse processo se deu ao longo da construção, o que teve extrema importância para os debates pautados pela organização no contexto do G20.“A atividade da Cúpula dos Povos Frente ao G20 vem de um trabalho árduo ao longo desse ano e o grande ganho de hoje foi ver essa diversidade e essa potencialidade que é estarmos unidos. A FASE acompanhar esse processo é fundamental para entender o poder e a soberania dos povos”, afirma Clara de Lima, educadora da FASE Rio.
*Coordenadora de Comunicação FASE Nacional