Comunicação FASE
01/12/2025 15:46
A Cúpula dos Povos reuniu mais de 25 mil participantes entre os dias 12 e 16 de novembro, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. A programação da Cúpula foi construída coletivamente para gerar convergências e enlaces entre diversos povos de diferentes territórios e países, através de oficinas, plenárias, feiras, intervenções artísticas, audiências públicas e manifestações promovidas por organizações e movimentos sociais. Diferentes vozes ecoaram juntas na luta por uma transição justa, popular e inclusiva, que garanta os direitos das populações mais afetadas pela crise climática, das mulheres, dos povos indígenas, comunidades quilombolas, da população negra e dos defensores e defensoras de direitos humanos e da natureza. Da Amazônia para o mundo, por justiça climática.
O processo da Cúpula dos Povos mostrou o papel central dos movimentos sociais, organizações e redes da Amazônia, do Brasil, da América Latina e do mundo em um trabalho coletivo por compromissos reais e por políticas climáticas que protejam os territórios e promovam justiça social e ambiental.
A Cúpula culminou em uma marcha com mais de 70 mil pessoas e a entrega da sua declaração ao presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, com as principais denúncias e demandas das mais de mil organizações articuladas em torno da Cúpula dos Povos, resultado dos grupos temáticos dos seis eixos de convergência. As principais reivindicações giraram em torno do financiamento climático sem geração de dívidas para o Sul Global e uma transição justa que vá além da descarbonização, incorporando soberania alimentar, direitos territoriais e condições dignas de trabalho.
FASE na Cúpula dos Povos
A FASE esteve presente na construção da Cúpula dos Povos desde o início de seu processo, fazendo parte da sua comissão política, da elaboração metodológica, captação de recursos e mobilização. Esteve presente nos seis eixos temáticos de convergência e atuou em diversos grupos de trabalho de preparação para a iniciativa. Durante os cinco dias de Cúpula dos Povos, a equipe da FASE apoiou na infraestrutura e na alimentação dos participantes, além de participar da coordenação de plenárias e de organizar 14 atividades enlaçadas, construídas em conjunto com diferentes organizações e movimentos.
Barqueata e abertura
As águas da Baía do Guajará, em Belém, receberam um dos momentos mais simbólicos da Cúpula dos Povos: a Barqueata de abertura, que reuniu cerca de 200 embarcações e 5 mil pessoas de 60 países em defesa da Amazônia.
A delegação da FASE esteve presente no ato, que saiu da Universidade Federal do Pará (UFPA) e de outros portos, seguindo até a Vila da Barca, território ribeirinho marcado pela ausência de saneamento e pela resistência comunitária diante da especulação imobiliária.
Em seguida, aconteceu a cerimônia de abertura no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, onde foi a sede oficial dos eventos da Cúpula. Sara Pereira, coordenadora da FASE Amazônia, junto com demais organizações da Cúpula, deu as boas-vindas às delegações dos territórios, comunidades e movimentos sociais.
Alimentação
A alimentação da Cúpula foi fornecida pela Cozinha Solidária da Cúpula dos Povos, processo que representou uma conquista histórica para os movimentos sociais que defendem a soberania alimentar e a agroecologia. A Cúpula dos Povos realizou a maior entrega de produtos agroecológicos já registrada: 86 toneladas de alimentos vindos de agricultores familiares, camponeses e comunidades tradicionais, via chamada especial do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Letícia Tura, diretora executiva da FASE, e Jaqueline Felipe, educadora popular da FASE Amazônia, estiveram junto com redes agroecológicas, movimentos sociais e organizações sindicais, como a ANA, MTST, MST, MCP e MAB, que na construção dessa iniciativa.
Plenárias dos eixos de convergência
As plenárias foram resultado de meses de debates entre as organizações da Cúpula. A FASE participou dos seis eixos temáticos, em alguns na construção metodológica e coordenações dos grupos temáticos.
Os eixos da Cúpula dos Povos foram:
Eixo I – Territórios e Maretórios vivos, Soberania Popular e Alimentar
Eixo II – Reparação histórica, combate ao racismo ambiental, às falsas soluções e ao poder corporativo
Eixo III – Transição Justa, Popular e Inclusiva
Eixo IV – Contra as opressões, pela democracia e pelo internacionalismo dos povos
Eixo V – Cidades justas e periferias urbanas vivas
Eixo VI – Feminismo popular e resistências das mulheres nos territórios
Atividades enlaçadas
- A Terra também é nossa: mobilizações de povos e comunidades tradicionais pela proteção jurídica e gestão dos seus territórios
A atividade abordou as mobilizações de povos e comunidades tradicionais para garantir a proteção jurídica e gestão dos seus territórios, reforçando que a terra também lhes pertence e que precisam ter autonomia sobre seu uso e preservação. Pedro Martins, educador da FASE Amazônia, participou da atividade, realizada em parceria entre a FASE, o MIQCB, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o CENSAT Água Viva, a ANA Amazônia e a Global Forest Coalition.
- Financiamento climático e Indicadores de Adaptação Climática (GGA): o papel da sociedade civil global nessas agendas
Realizada pela FASE, Instituto Pólis, ABONG, INESC, Plataforma Dhesca, Plataforma Global pelo Direito à Cidade, HIC, Misereor, COP das Baixadas (SP), Frente Periférica por Direitos e Klima Bündnis (Alemanha), a iniciativa abordou o papel da sociedade civil nas pautas de financiamento climático e indicadores de adaptação climática (GGA). Evanildo Barbosa, diretor executivo adjunto da FASE, participou da mesa, que contou com a participação de Yuri Rodrigues, educador da FASE Amazônia, e coordenação de Aercio B. de Oliveira, coordenador da FASE RJ.
- Tribunal Popular em Defesa da Amazônia
Realizada pela FASE junto ao MAM, Gesterra, SDDH, AIAAV e CCFD, a atividade consistiu em um tribunal simbólico que julgou o Governo do Estado do Pará e as mineradoras Imerys/Artemyn, Hydro, Vale e Belo Sun pelos graves e sucessivos crimes socioambientais cometidos. Essas empresas, com o aval do Estado, contaminaram as águas, o ar, o solo, além de poluírem e aterrarem rios e igarapés, provocando danos irreversíveis à humanidade e ao planeta. João Gomes, coordenador da FASE Amazônia, e Guilherme Carvalho, educador da FASE Amazônia, estiveram presentes na atividade para destacar a realidade vivenciada pelos territórios impactados.
- O direito à cidade e justiça climática na Panamazônia no contexto dos eventos extremos
O debate abordou a necessidade de políticas urbanas e territoriais na Panamazônia e contou com as falas de representantes da FASE, Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP), Observatório das Cidades, Vilas e Territórios Amazônicos (Amazonicidades), Red de la Ciudad parala Vida en la Panamazônia e Fundação Heinrich Boll. A iniciativa contou com a presença de Yuri Rodrigues, educador da FASE Amazônia.
- A vida das mulheres no enfrentamento à crise climática – impactos e resistências
A atividade foi realizada pela FASE junto aos parceiros Avuar Social, We World e a Coalizão Mundial de Florestas, com o objetivo de debater os impactos da crise climática na vida das mulheres e as diversas formas de resistência construídas por elas em seus territórios. Clara de Lima, educadora da FASE RJ, Cidinha Moura, coordenadora da FASE MT, e Roselia Melo, coordenadora da FASE BA, participaram da iniciativa, contribuindo com uma reflexão sobre como eventos climáticos extremos, desigualdades socioeconômicas e a intensificação de conflitos por terra e recursos afetam de maneira desproporcional as mulheres.
- A captura privada do interesse público pelas políticas de transição energética
A iniciativa compôs as atividades do Eixo 3 – Transição Justa, Popular e Inclusiva, e foi realizada pela FASE junto aos parceiros RBJA, JNT, CosmoPolíticas, Fundação Rosa Luxemburgo, Aliança Volta Grande do Xingu, Justiça Global, MAM, AIDA, PUC no Clima, Articulação ANTINuclear Brasileira, Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, GT sobre Utilidade Pública na América Latina e Coalizão Terra é para plantar e pra proteger. A FASE foi representada por Julianna Malerba, assessora do Núcleo de Políticas e Alternativas da FASE (NUPA).
- Roda de Conversa – Fundos Comunitários da Amazônia Brasileira como formas de organização político-financeira dos territórios para os territórios, frente aos desafios de uma transição justa aos povos
O Fundo Dema esteve presente na iniciativa sobre fundos comunitários, ocorrida na Cúpula dos Povos junto a outros representantes da Rede de Fundos Comunitários da Amazônia. A atividade, que contou com a presença de Graça Costa, presidente do Comitê Gestor, abordou a contribuição dos fundos comunitários ao protagonismo das populações que promovem justiça climática e socioambiental.
Marcha Global pelo Clima
No dia 15/11, mais de 70 mil pessoas percorreram cerca de 5 km pelas ruas de Belém durante a Marcha Global pelo Clima, organizada pela Cúpula dos Povos. A mobilização reivindicou a proteção dos territórios e destacou a cooperação internacional como caminho essencial para enfrentar a crise climática. A delegação da FASE, de todas as suas unidades, esteve presente no ato para apoiar e fortalecer essa luta.
Banquetaço
No dia 16/11, a Cúpula dos Povos encerrou suas atividades, na Praça da República, com um poderoso instrumento de luta e solidariedade: o Banquetaço. A ação contou com a participação de grupos apoiados pela FASE e o Fundo Dema. A iniciativa nasceu, em 2019, como uma resposta direta aos ataques às políticas públicas de SAN, como o PAA (Programa de Aquisições de Alimentos). Na Cúpula dos Povos, o Banquetaço celebrou também a diversidade da cultura alimentar da Amazônia e seus Povos frente o modelo destrutivo do agronegócio.
Campanha Justiça Climática: as soluções vêm dos territórios
A participação da FASE em debates sobre a agenda climática faz parte da campanha “Justiça Climática: as soluções vêm dos territórios”, realizada pela FASE no contexto da COP30 e da Cúpula dos Povos, que reafirma que as soluções já existem: vêm das práticas populares, saberes tradicionais e resistência coletiva na cidade, no campo, na floresta e nas águas.
Não há justiça climática sem soberania dos povos.












