08/06/2020 10:42

Rosilene Miliotti e Evanildo Barbosa¹

Desemprego, fome, problemas de saúde desde a falta de saneamento básico até o precário acesso à saúde hospitalar, eis o caos no Brasil! A pandemia jogou luz sobre muitos dos problemas cotidianos da maioria de nossa população. Entretanto, essas questões não têm origem no isolamento social como querem alguns, mas, em nossas enormes desigualdades que se mostraram ainda mais dramáticas nesse momento.

Em meio a tantas desigualdades, mesmo assim vimos emergir um intenso movimento de solidariedade popular no Brasil. A FASE, assim como diversas organizações da sociedade civil, movimentos sociais, grupos e coletivos preocupados com os direitos e com o bem-estar das populações mais vulneráveis passaram a se mobilizar com ações humanitárias, de proteção e com oferta de informação de qualidade para enfrentar os efeitos do novo coronavírus.  

Desde metade de março, nossos escritórios no Rio de Janeiro, Pernambuco, Mato Grosso, Bahia, Pará e Espírito Santo estão fechados, mas, operando em home office. Nem por isso, o trabalho parou nesses escritórios e nos Fundos SAAP e DEMA. Novas parcerias foram realizadas, outras foram consolidadas, recursos foram remanejados e ou captados para apoio emergencial às famílias e comunidades nesses estados.

Educadores e educadoras da FASE se mobilizaram, respeitando as normas da Organização Mundial de Saúde (OMS), visando proporcionar ajuda humanitária aos grupos, famílias e movimentos sociais com os quais trabalha. O resultado (até meados de maio) apresenta uma onda generosa de solidariedade e de aprendizado popular-comunitário: milhares de cestas de alimentos e kits de higiene e limpeza foram doadas, outros milhares de máscaras distribuídas, importantes apoios financeiros feitos diretamente a grupos comunitários, produtos agroecológicos doados, além de agricultores familiares diretamente apoiados nessas compras, dentre outras ações que mobilizaram próximos de R$ 260 mil, em pouco mais 5 semanas, em diferentes regiões do Brasil.

Territorialmente, essas ações chegaram a quase 220 comunidades e/ou grupos com quem já trabalhamos. Apoiamos lideranças e seus trabalhos de luta pela moradia, ações com crianças, grupos de juventudes, quilombolas, mulheres e seus grupos, catadoras, pescadoras, trabalhadores e trabalhadoras informais, agricultoras e agricultores familiares, populações indígenas, pessoas de Terreiros, dentre outros segmentos sociais afetados pela pandemia.

Para além das doações de itens básicos durante a pandemia, a FASE tem fortalecido a agricultura familiar e o comercio popular local, tem apoiado o trabalho na área de comunicação visando orientar sobre a prevenção à Covid-19 e tem apoiado famílias no cadastramento para o acesso ao auxílio emergencial, do Governo brasileiro.  

Tamanha solidariedade não poderia se realizar sem o apoio dos educadores e educadoras da FASE e sem o apoio das organizações parceiras, nacionais e internacionais, que sustentam e apostam no trabalho dessa organização que vai fazer 60 anos de atuação na defesa dos direitos e da transformação social no Brasil.  

Enorme também tem sido a solidariedade entre as mulheres da FASE e as mulheres dos grupos e comunidades envolvidos nessas ações. O significado dessa solidariedade é duplo: de um lado, temos as mulheres de organizações como a FASE que se mobilizam e estão agindo para recepcionar e oferecer ajuda humanitária e, de outro lado, temos as mulheres das comunidades e da militância social que estão a organizar e a oferecer apoio direto em suas comunidades. Um exemplo de trabalho conjunto, de luta e de resistência em tempos difíceis que devemos seguir nessa missão, apesar das violações e das desigualdades em curso no país!

Seguimos! Se puder, continue em casa. Cuide-se e cuide do outro, só assim iremos passar por essa tormenta.

[1] Jornalista e diretor adjunto da FASE.