19/10/2016 18:01
Com o objetivo de apoiar experiências produtivas agroecológicas de grupos e organizações de mulheres, o Fundo Autônomo de Mulheres Rurais da Amazônia ‘Luzia Dorothy do Espírito Santo’¹ está com edital² aberto. O período para o envio de propostas pode ser feito até o dia 7 de novembro de 2016. De forma a chamar a atenção à questão da qualidade da alimentação familiar, o edital se volta à temática agroecológica e da segurança alimentar, destacando dois focos: a dimensão da segurança alimentar e nutricional; e o enfrentamento às situações de violência contra as mulheres no campo.
A Região de abrangência priorizada é a do Baixo Amazonas, com participação dos seguintes municípios paraenses: Santarém, Alenquer, Almeirim, Aveiro, Belterra, Mojuí dos Campos, Nova Canaã, Oriximiná, Faro, Terra Santa, Juruti, Óbidos e Monte Alegre. As propostas devem ser encaminhadas por associações de mulheres legalmente constituídas a mais de um ano e devem incorporar pelo menos cinco núcleos familiares. O teto máximo para apoio é de R$ 10.000 por projeto, considerando que cada um deverá disponibilizar 10% do valor de seu orçamento para a cobertura de despesas administrativo-financeiras do Fundo de Mulheres, além da contrapartida de 20% do valor total do projeto.
Fundo Autônomo de Mulheres Rurais da Amazônia
Criado em 2014, o Fundo Autônomo de Mulheres Rurais da Amazônia ‘Luzia Dorothy do Espírito Santo’ é um fundo especificamente voltado ao fortalecimento de projetos coletivos de mulheres da região do Baixo Amazonas. Ele busca promover a autonomia das mulheres e suas organizações por meio do apoio a iniciativas produtivas e de articulações políticas coletivas.
O processo de criação do Fundo começou em 2003 e foi desenvolvido com a participação coletiva das mulheres cuja metodologia é pautada na sensibilização e empoderamento das mulheres, para que elas se sintam parte integrante do Fundo. Na época, foram realizados três encontros em Santarém com representantes de organizações, sindicatos, movimento e grupos de mulheres indígenas, quilombolas, ribeirinhas, artesãs e agricultoras. Foi durante esse processo que as mulheres intitularam o Fundo como ‘Luzia Dorothy do Espírito Santo’, em homenagem a essas três grandes lideranças que protagonizaram uma história de luta e coragem em defesa da floresta e dos povos da Amazônia.
História das mulheres que dão nome ao fundo
Luzia de Oliveira Fati foi uma líder sindical que sempre esteve comprometida com a causa da justiça socioambiental. Sua trajetória é pautada na luta por uma sociedade justa, democrática e igualitária. Foi a primeira mulher a presidir o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém. Também ajudou na fundação do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Belterra. Entre 2005 e 2012, atuou no Instituto Sócio Ambiental de Santarém (ISAN), que depois passou a ser denominado Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA). Vítima de um infarto fulminante, Luzia Fati faleceu aos 42 anos, no dia 4 de março de 2013, em Macapá (AP), lugar em que a época residia.
Já Dorothy Stang, popularmente conhecida como Irmã Dorothy, religiosa norte-americana naturalizada brasileira, foi brutalmente assassinada em 12 de fevereiro de 2005, aos 73 anos, no município de Anapu (PA), localizado na região da Transamazônica. Ela atuou por aproximadamente três décadas junto aos trabalhadores e trabalhadoras rurais da região do Xingu. Sua militância aguerrida em defesa da democracia no campo incomodava os latifundiários da região, tanto que dois deles, Vitalmiro Bastos de moura, o ‘Bida’, e Regivaldo Pereira Galvão, o ‘Taradão’, chegaram a cumprir as promessa de ceifar a vida desta grande mulher, ordenando a seus capangas a brutal execução de Irmã Dorothy.
Maria do Espírito Santo também foi vítima da violência e da impunidade no campo. Esta mulher foi defensora da Amazônia e de seus povos. Juntamente com seu companheiro, José Cláudio, enfrentava a exploração madeireira no Sudeste do Pará, com frequentes denúncias de serrarias, carvoarias e de transportes clandestinos espraiados pela floresta, além de ações de latifundiários contra as famílias assentadas e pequenos agricultores. Pelo incomodo que causava aos madeireiros, latifundiários e posseiros, em 24 de maio de 2011, o casal extrativista foi covardemente assassinado em uma emboscada no meio da floresta, a 50 quilômetros do município de Nova Ipixuna, no Pará.
[1] Com informações do site do Fundo Dema.
[2] Lançamento do edital ocorre pela parceria entre o Fundo Luzia Dorothy do Espírito Santo, que integra o Fundo Dema, e a Fundação Ford.