Suzana Devulsky
19/06/2024 16:16
A FASE Rio de Janeiro está realizando, ao longo do mês de junho, o ciclo de oficinas da formação “Injustiças Socioambientais, Saneamento, Bens Comuns e Tecnologias Sociais de Água e Saneamento”, que tem o objetivo de discutir a questão do saneamento ambiental na relação com o território, as desigualdades e o uso de tecnologias sociais, além de fortalecer a democratização das políticas públicas de saneamento básico, controle e participação social. As oficinas estão abertas a representantes de instituições, organizações, coletivos, grupos e moradores locais, estudantes, pesquisadores e sociedade civil em geral.
A formação faz parte do projeto “Água para quê e para quem?”, desenvolvido pela FASE, em parceria com o Laboratório de Estudos de Águas Urbanas -LEAU/UFRJ, desenvolvido no bairro São Bento, especificamente nas comunidades de Novo São Bento e Vila Alzira. Entre as atividades do projeto, também está prevista a capacitação de mulheres e jovens desses territórios para a instalação de tecnologias sociais de captação de águas de chuva para moradores locais. Os encontros da oficina acontecem na sede da Associação Mulheres de Atitude e Compromisso Social- AMAC, em Vila Alzira.
A abertura da formação, que teve como tema “Injustiças Ambientais, o processo de urbanização da Baixada Fluminense e da cidade de Duque de Caxias”, ocorreu no dia 10 de junho, e teve a facilitação de Aércio Barbosa de Oliveira, coordenador da FASE Rio, e da historiadora Marlucia Santos, diretora do Museu Vivo do São Bento.
Na primeira parte, os participantes puderam conhecer a história de ocupação da região, desde seus primeiros habitantes, responsáveis pela existência do Sambaqui do São Bento. Foram exibidas imagens da região em diversos períodos para exemplificar as mudanças na paisagem natural e urbana. A professora Marlucia Santos explicou a configuração geográfica da região e como as interferências humanas fizeram com que hoje a área sofra com desastres frequentes de inundações. Depois de um intervalo para o café-da-manhã, foi a vez de Aércio Oliveira introduzir o tema da segregação socioterritorial e tecer críticas à política habitacional do país, historicamente sequestrada pelos interesses do capital privado.
As/os Agentes de Desenvolvimento Local e os representantes do Conselho Popular do Projeto contribuíram para a divulgação no território e também participam dos encontros de formação. Marcela Paulina, agente comunitária de saúde, foi uma das escolhidas para integrar o Conselho do Projeto e contou que está animada com o que está por vir.
“Eu sou muito apaixonada pela história do nosso território. A aula de hoje na questão de história pra mim foi profunda, porque a gente sabe muito pouco, né? E quanto mais informação melhor, saber como foi fundado, como foi o acesso a água aqui, o porquê da falta de água no município, como tudo isso impacta no saneamento básico, que é um problema muito grande nas comunidades habitadas desordenadamente, como o governo diz, mas fecha os olhos para nós”, compartilhou.
Marcela acredita que a formação fará com que a população se torne mais atuante em relação ao próprio território.
O bairro São Bento está às margens do Rio Iguaçu, área onde estão localizados polderes e diques construídos na década de 50 para proteção na bacia do Rio Sarapuí. Para a região, estavam previstas no ano de 2010 as obras do Projeto Iguaçu , criado pelo Governo Federal em parceria com o estado, para recuperar as margens dos rios e controlar as enchentes. O objetivo era recuperar os diques e polderes e realocar as famílias destes locais para um condomínio habitacional no mesmo bairro. No entanto, após a conclusão das obras, as unidades habitacionais foram entregues aos moradores de outras localidades pela Prefeitura de Duque de Caxias.
Selecionada para ser agente comunitária do projeto, Ingrid contou que se surpreendeu ao ver imagens antigas da região, antes da urbanização.
“A gente sabia que isso aqui era um rio, mas não sabia a quantidade de água. O homem tornou a quantidade de água muito grande. Era muita água. Se não tivesse essas casas, isso aqui seria água pura. Hoje, a gente ainda vive em volta dos rios, mas eles não são tão limpos como eram. Muitas vezes quando tem enchente a gente bebe água de esgoto”.
A expectativa de Ingrid é que o projeto seja uma oportunidade de ampliar experiências e aprender cada vez mais.
Este projeto foi possível graças ao apoio recebido da Fundação Tinker.
*Comunicadora da FASE