Elisa Martins
05/12/2023 16:08

No dia em que a cientista política e ecologista MAUREEN SANTOS conversou com a revista Ciência Hoje, a sensação térmica no Rio de Janeiro, cidade onde a pesquisadora vive, era de 52,4 oC. As altas temperaturas expõem a dimensão de uma crise que já é real. Segundo a professora de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e coordenadora da Plataforma Socioambiental do BRICS Policy Center e do Núcleo de Políticas e Alternativas da ONG FASE, as metrópoles se transformaram em verdadeiras ilhas de calor, com menos áreas verdes e sem políticas públicas que deem conta da magnitude do problema.

Essa crise climática, que alguns pesquisadores já chamam de ‘ponto de ebulição’, volta a ser discutida na 28ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), em Dubai, a partir do dia 30 de novembro. O encontro cria expectativas, não por milagres, ressalva Santos, mas por acertos importantes ainda pendentes e esperados, como a definição do fundo de perdas e danos a países menos desenvolvidos e a possibilidade de anúncios de metas mais ambiciosas para redução das emissões de gases de efeito estufa. “Será preciso fazer mais. E não pode ser com soluções que olhem de cima para baixo, como se o Sul global pudesse oferecer todas as respostas”, afirma. Em paralelo, corre um debate essencial sobre justiça socioambiental. “Existe um eixo de desigualdade na questão ambiental no qual há uma população que tem acesso a um ambiente ecologicamente equilibrado, e outra que não tem. E essa escolha é política”, diz Santos, que discute amplamente o tema na entrevista a seguir.

CIÊNCIA HOJE: O que a onda de calor que assolou o Brasil nos últimos dias e a frequência com que fenômenos assim têm ocorrido dizem sobre o momento climático que vivemos?

MAUREEN SANTOS: Quando comecei a trabalhar com esse tema, lá em 2008, falávamos muito de futuro. O ano de 2030 parecia distante. Mas os fenômenos já estão acontecendo, e com eventos distintos e extremos. Não há mais dúvidas nem desculpas, nem pelo lado da política, nem da própria população. A crise climática não está sendo levada a sério. E os governos já não estão minimamente preparados para os eventos que se repetem todos os anos, imagine para esses que ocorrem agora com mais frequência e de forma difícil de prevenir. Temos uma infraestrutura urbana que privilegia a concentração nas grandes metrópoles, aliada a uma especulação imobiliária gritante e à falta de espaços verdes. Junte a isso o asfalto, o trânsito pesado, bairros cada vez mais adensados, tudo isso acumula muito mais calor. E faltam, ainda, políticas urbanas capazes de enfrentar essas questões.

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*Jornalista do Ciência Hoje