12/12/2011 11:26

A FASE lamenta o falecimento na sexta-feira, 9 de dezembro, da professora Ana Clara Torres Ribeiro, presidenta do Conselho Deliberativo da FASE entre 1992 e 2001. Ana Clara era socióloga, doutora em Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo e professora titular do Ippur/UFRJ.

Na comemoração dos 50 anos da FASE realizada em outubro, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Ana Clara foi convidada a resgatar memórias da FASE na década de 90. Ao lembrar os desafios daquela época, pontuou as dificuldades enfrentadas por reflexos da crise dos anos 80 e também pela imposição da pauta neoliberal, “que atingiu profundamente as instituições de militância”, conforme as palavras de Ana.

Em nossa comemoração, Ana destacou que as responsabilidades da presidência do Conselho da FASE não poderiam ser assumidas sem confiança política e jurídica na instituição e nas pessoas que a põe em marcha. “Quer dizer, foram as pessoas que efetivamente, por sua qualidade, construíram a FASE. Então, existe uma qualidade institucional, mas ela não existe sem as pessoas. Eu comecei a recordar essas pessoas (que compunham a diretoria e a assessorava) e achar tudo isso muito importante”, declarou.

Em sua última participação em atividades da FASE, Ana recordou que no difícil período de reestruturação da década de 90 foram necessários “cortes na carne”, com demissão de técnicos, redução do número de diretores, fechamento de escritórios, com “custos sociais e políticos”, maiores ou menores dependendo da área afetada. “Uma parte da FASE sobreviveu, mas com dificuldade e com muita dor…”, destacou, voltando à história para comentar o papel da FASE enquanto ONG: “A FASE não nasceu uma ONG. Ela pode até ser uma excelente ONG, mas ela não nasceu assim. E é muito difícil transformar uma instituição em outra coisa. Ela é muito grande, muito complexa, muito enraizada para ser uma ONG. Não dá pra competir com outras que já nasceram ONGs e são leves, eficientes e pós-modernas”. Ana refletiu sobre a forma institucional da FASE, acreditando ser esta uma questão que “não está resolvida até hoje” e que dificulta a sobrevivência com financiamentos via projetos. Problematizou também a questão do financiamento público. E seguiu: “Creio que a FASE sempre fez muita diferença, inclusive no universo das ONGS, ao dizer o que não é uma boa ONG e o que pode ser uma boa ONG. Não é à toa sua importância na Abong. E esse é um novo papel que a acabou exercendo nos períodos seguintes”.

Neste mesmo dia em que foi homenageada por colaborar com a construção da nossa história e nos honrou com seu aguçado olhar sobre o passado, Ana Clara não deixou de nos brindar com sua percepção sobre o futuro: “Eu penso que o grande desafio da FASE é “herdar sua herança”, como acaba de ser levantado aqui. Não deixar dispersar esta herança legitimando outras instituições, acumular esta herança e traçar seu futuro. A FASE não vai virar uma prestadora de serviço. Existem outras mais eficientes para isso. Não vai ser uma instituição de pesquisa. Existem outras mais eficientes para isso. Ela tem que herdar a sua tradição militante. E é como entendo a comemoração dos 50 anos. Para juntar isso tudo, dar perfil nesta história toda, coerentemente encontrar os meios para o futuro e ser realmente herdeira. É aí que está o grande enigma de agora e o grande desafio, mas também a grande possibilidade de conservar a FASE nos anos que virão”.

Lembramos trechos da participação de Ana Clara neste momento importante da nossa história como forma de, mais uma vez, agradecer pela atenção e tempo dedicado à construção da FASE. Todos e todas lamentamos seu falecimento e prestamos solidariedade à família e aos amigos neste momento de luto.