20/08/2012 10:48
A região do semi-árido enfrentou mais um período de estiagem prolongada entre os anos agrícolas de 2011 e 2012. O fenômeno não pode ser classificado como inesperado, pois tais situações são previsíveis, e já se tem razoável conhecimento científico que aponta para a ocorrência cíclica desses episódios. O que falta mesmo aos governos é colocar em prática medidas concretas – permanentes e estruturais – de convivência com a seca, ao invés de insistir nas falsas soluções de “luta contra a seca”.
No semi-árido da Bahia, a FASE atua principalmente nos territórios do Sisal e do Portal do Sertão, onde seus técnicos tentam se somar a outras entidades parceiras que comungam da concepção de “convivência” com a seca. Trata-se de pessoal engajado em ações como as construções de cisternas de placa, que asseguram o consumo humano. Quando possível, outras alternativas de armazenamento de água da chuva para viabilizar a produção são colocadas em prática, seja com a construção de cisternas adicionais, seja com barragens subterrâneas, aguadas ou pequenos açudes.
Tais iniciativas se dão em sintonia com trabalhos regulares de formação política e de fortalecimento da organização comunitária e sindical dos agricultores familiares. Através de participação em lutas concretas, lideranças e ativistas de base constroem a consciência do direito a ter direitos. Passam a analisar as causas determinantes de suas dificuldades, e percebem a força de sua organização para viabilizar vitórias na defesa de seus direitos e na promoção de melhorias nas políticas públicas existentes em seus municípios e comunidades.
Medidas emergenciais precisam se conectar a ações estruturais
Em conjunto com os parceiros atuantes no semi-árido, a FASE entende que medidas emergenciais só têm sentido quando se conectam a ações estruturais, que apontem para a elevação da capacidade de autonomia das famílias agricultoras. Medidas emergenciais têm de contribuir para uma maior sustentabilidade da atividade agrícola e pecuária na Caatinga. Melhorias nas propriedades familiares, construção de equipamentos de armazenagem e de distribuição de água precisam alcançar o maior número possível de pessoas, deixando de se concentrar em poucas propriedades. Acredita-se muito mais na multiplicação de pequenas obras do que na realização de grandes projetos que acabam concentrando renda, riqueza e privilégios nas mãos de grandes proprietários.
Financiamentos: práticas mitigam os efeitos mais agudos da estiagem
Através do Projeto AMAs, o técnico agropecuário Francisco Carvalho, um dos responsáveis pelos trabalhos de assessoria que a FASE realiza no Sisal, tem acompanhado famílias agricultoras de comunidades alcançadas pela intervenção educativa da FASE, em seus esforços para acessar e aplicar corretamente recursos disponibilizados pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Trata-se de financiamentos emergenciais, para viabilizar a adoção de práticas que mitiguem os efeitos mais agudos da estiagem.
Em comunidades de São Domingos, agricultores familiares acompanhados pela FASE aplicam esses recursos na ampliação ou na limpeza de aguadas existentes em suas propriedades, para terem condições mais seguras e duráveis de armazenarem água quando voltar a chover na região. Existem também casos de agricultores que prepararam e efetuaram plantios de palma forrageira em suas áreas. A palma é uma planta que tolera períodos de estiagem e serve para alimentar os rebanhos de ovinos e caprinos, normalmente trabalhados por agricultores familiares no semi-árido baiano.
Registram-se ainda situações em que agricultores que acessaram o crédito emergencial do BNB utilizaram parte dos recursos para aquisição de rações ou grãos de milho a preços subsidiados, como alternativa capaz de evitar a venda de seus rebanhos devido à falta de condições de providenciar a alimentação.
De acordo com Francisco Carvalho, a assessoria técnica da FASE já viabilizou a elaboração de 51 projetos, apresentados perante a agência do BNB de Conceição do Coité, sendo que 20 deles já foram contratados e liberados. Essas ações da FASE Bahia beneficiam agricultores familiares de comunidades do município de São Domingos, onde o Projeto AMAs se desenvolve, em parceira com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais.