FASE Pernambuco
06/10/2025 17:09

Nos dias 16 e 17 de setembro, pescadoras artesanais e lideranças comunitárias se reuniram no Recife para o “Encontro com Pescadoras: Direitos das Mulheres e Justiça Climática”, promovido pela FASE em parceria com a Articulação Nacional de Pescadoras/PE e a Coalizão Global pelas Florestas. 

Ao longo de dois dias, as participantes refletiram a partir da relação corpo e território, partilhando experiências de como as mudanças no clima afetam diretamente suas vidas e porque são elas as mais vulneráveis nesse cenário. Foram debatidas as injustiças socioambientais, os impactos das falsas soluções climáticas e o papel do feminismo popular na construção de alternativas. O encontro foi conduzido pelas educadoras e coordenadoras das regionais FASE Amazônia e FASE Pernambuco

As rodas de conversa revelaram que, para as mulheres, a crise climática não é uma abstração: significa a perda de territórios pesqueiros, maior insegurança alimentar, sobrecarga de trabalho e violências agravadas por um modelo de desenvolvimento excludente. “Quando vamos para maré pescar, não encontramos o insumo que encontramos antes. Hoje, por exemplo, não encontramos mais o marisco e o cavalo marinho. Nós também somos proibidas de entrar nas praias pelos empreendimentos, hotéis, restaurantes… E isso tem causado problemas de saúde mental, porque pescar também é terapia para nós. Quando somos proibidas de ir em busca do nosso sustento, ficamos ansiosas”, relata Eduarda Semeão, pescadora de São José da Coroa Grande.

Mirando na COP 30, o encontro também apresentou às participantes a Cúpula dos Povos, articulação da sociedade civil, com protagonismo das organizações e movimentos populares, para pressionar e convencer o governo brasileiro a liderar a proposição de metas mais ousadas para a redução da temperatura global e da promoção da justiça climática. O debate também focou na incidência local necessária para que governantes estaduais e municipais se responsabilizem com medidas concretas de enfrentamento à crise climática, bem como na importância de eleger, no ano que vem, representantes comprometidos(as) com a defesa inegociável da vida em todas as suas formas.

Como encaminhamento, as mulheres acordaram de levar o debate sobre a Cúpula dos Povos, justiça climática e as soluções que vêm dos territórios a seus pares nas suas comunidades, associações e casas. Também foram provocadas a articularem atividades que dialoguem com a COP 30 localmente, fazendo coro às iniciativas de incidência e mobilização política que serão realizadas em novembro.

“As mulheres não esperam uma solução cair do céu, nós temos resistido. Estamos sempre buscando conhecimento e alternativas para diminuir esse impacto causado em nossas vidas”, complementa a jovem Eduarda Semeão, que também compõe a Associação de Mulheres Pescadoras do Abreu do Una – São José da Coroa Grande.

Em Pernambuco, mulheres pescadoras seguem construindo propostas que vão da defesa da pesca artesanal até a denúncia das desigualdades de gênero e raça no enfrentamento da crise climática.