28/01/2010 21:49
A luta da sociedade paraense contra a permissão para a Usina Hidrelétrica de Belo Monte continua forte. Na semana passada, houve uma vitória parcial que deu mais ânimo a todos os que questionam o descalabro deste projeto: a Justiça suspendeu a licença ambiental do projeto porque somente uma parte das audiências públicas devidas foram realizadas até agora. Não obstante, o Ibama já havia licenciado a obra. A suspensão era uma decisão judicial provisória, e os grandes interesses por trás de Belo Monte rapidamente se mobilizaram para derrubá-la. Mas segue a intenção e a disposição do povo do sul do Pará, que não aceita o “belo monstro” pelos riscos que traz e as mentiras que conta.
A resistência vem se reforçando a cada dia. No dia 16 de novembro, cerca de 1 mil pessoas se reuniram em uma grande manifestação no município de Altamira. Em Belém, um comitê metropolitano foi formado, reunindo diversas organizações e movimentos sociais que apontam a grande falácia da usina. Além disso, o grupo de professores especialistas de unibersidades como UFPA, UFRJ e USP continuam produzindo relatórios em que contestam as informações do processo de licenciamento ambiental .
E quais as razões de tanta resistência contra este projeto de usina hidrelétrica? Como justificar oposição a este projeto de produção de energia elétrica exatamente agora que o país sentiu novamente o drama de um apagão na maioria de seu território? Belo Monte está envolta em acusações de problemas socioambientais gravíssimos. Projetada para o rio Xingu, um dos principais afluentes do Amazonas, ela poderá desviar o curso do rio e ainda secar rios menores que se conectam com o Xingu. Cidades como Altamira, aldeias indígenas, assentamentos rurais, comunidades ribeirinhas, áreas florestais de reserva, todos estes territórios serão alagados com as barragens previstas sobre o Xingu. E é aí que o projeto de Belo Monte guarda uma informação que muda tudo de lugar.
O governo federal defende o projeto apresentando o seguinte número: o alagamento da barragem será de 400 quilômetros quadrados, o que é pouco se comparado a outras usinas hidrelétricas de pequeno porte. Mas o governo não diz o seguinte: com apenas uma barragem, Belo Monte só poderá funcionar 6 meses por ano. E seguramente o investimento de R$ 30 bilhões não seria feito por um fornecimento de energia que fica 6 meses paralisado. Está claro que o governo terá que constuir outras barragens para que Belo Monte funcione o restante do tempo. Todas elas no rio Xingu, todas elas alagando muito mais do que o informado.
Fica fácil, desta maneira, entender por que a população do sul do Pará está absolutamente contrária à instalação da usina. No momento em que o mundo discute a crise climática e a necessidade de preservar florestas, usinas hidrelétricas de grande porte como Belo Monte remam contra a maré. Não bastasse o aniquilamento de grande parte de floresta, os lagos destas usinas são grandes emissores de metano (CH4), um gás de efeito estufa que, tal como o gás carbônico, provoca o aquecimento da atmosfera.
A viabilidade moral de Belo Monte e outras usinas projetadas sobre territórios florestais fica ainda mais complicada de atestar quando refletimos acerca de suas reais motivações. A energia projetada para Belo Monte, de 11,2 mil megawatts por ano, não está sendo pensada para garantir o conforto das famílias do norte. Estas precisam de muito menos energia em suas vidas e suas cidades. A energia destes grandes projetos tem uma clara finalidade: garantir as exportações de grandes corporações poluidoras e exploradoras, principalmente dos ramos de mineração, siderurgia e celulose, a fim de que o país cresça a 5% ao ano. Mas a custa da sustentabilidade da Amazônia e da sobrevivência de parte do seu povo? Esta é a escolha.