22/01/2014 16:36

Lívia Duarte

Cicloativistas sairão de Vitória e do norte do Estado em direção a Linhares. O destino do III Pedal contra o Pré-sal é cenário de impactos da indústria do petróleo.

Paulo Henrique Oliveira, técnico ambiental da FASE, explica que o encontro no distrito de Regência também tem o objetivo de fortalecer a luta das famílias da Comunidade Caboclo Bernardo. Por lá, cinco casas foram destruídas e 25 famílias estão ameaçadas pela empresa União – Engenharia, Fabricação e Montagem. O conflito está sendo acompanhado pela Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo. Os comunitários questionam a atuação da indústria do petróleo, celulose e infraestrutura industrial na região por ameaçarem seus modos de vida tradicionais, baseados na pesca e na agricultura.

Segundo o cicloativista, que participou de todas as edições do evento, o principal objetivo do Pedal contra o pré-sal é denunciar os problemas ligados à ampliação da indústria, que tende a intensificar impactos territoriais com a exploração do pré-sal.

Além do mapeamento contínuo, pedalar na região tem garantido ampliar o contato e o diálogo, tanto com os impactados nas comunidades quanto com outros grupos. Tanto é que este ano, surfistas, estudantes e pesquisadores, sindicalistas trabalhadores da indústria da celulose, associações de pescadors, grupos que lutam pelas bicicletas no espaço urbano e contra o pedágio nas pontes de Vitória, estão construindo a ação com o Fórum dos Afetados pelos projetos de instalações de Petróleo e Gás no Espírito Santo.
Outra novidade são os vínculos internacionais da pedalada, que se soma à rede Oilwatch na campanha por áreas livres de petróleo.

Percurso

O ponto de encontro dos ciclistas é a sede da Petrobras em Vitória, de onde parte rumo ao norte no dia 23 de janeiro, às 9h. Nos 130km até Regência farão uma série de paradas para conversas com comunidades – como os indígenas guaranis que retomaram territórios na região de Três Palmeiras – e protestos, com panfletagem e cineclube na praça, a exemplo da organizada para Barra do Riacho, onde está sendo construído um estaleiro.

Outro grupo começa a pedalada de 100km no norte, na cidade de Conceição da Barra.

Todos se encontrarão em Linhares, no dia 26, para apoiar as comunidades de Regência.

A comunidade Caboclo Bernardo

Na comunidade Caboclo Bernardo, localizada no distrito de Regência, em Linhares, 25 famílias denunciam ameaças diretas da empresa União Engenharia, Fabricação e Montagem, conforme ata da 557ª Reunião da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, realizada em outubro, em Vitória. A comunidade afirma que cinco casas foram derrubadas por funcionários da empresa. As denúncias, publicizadas também pelo Movimento de Pequenos Agricultores, dão conta de que a empresa colocou cercas, portões e cadeados limitando o direito de ir e vir das famílias. Também soltaram gado na área de roça das comunidades. Seus funcionários ostentam armas na região e atiram em aves, segundo os moradores. A empresa nega, mas o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), João Cândido Rezende, que esteve na comunidade, garante que há casas antigas na localidade. “Realmente está havendo uma pressão da empresa sob esta comunidade”, explicou ao Século Diário, em reportagem publicada no daí 16 de agosto.

A CARTA CONVITE do III Pedal Contra o Pré-sal

Participe! Traga sua bicicleta e a vontade de pedalar por outro mundo!

O Fórum dos Afetados pelos projetos de instalações de Petróleo e Gás no Espírito Santo, em parceria com a FASE/ES e OILWATCH, realiza a 3ª edição do “Pedal contra o pré-sal”. O Pedal vem alertar para a ordem de impactos em torno dessas atividades, que degrada diretamente a biodiversidade, viola direitos socioambientais de comunidades tradicionais, configura um mundo urbano baseado na hegemonia do transporte automobilístico e consequentemente na queima de combustível fóssil. Esse conjunto arquitetônico oferece: Poluição sonora e visual, do solo, da água e do ar; extermínio da pesca artesanal e alteração dos alimentos e da culinária local; aumento de acidentes de trânsito, com maior taxa de mortalidade para motociclistas, pedestres e usuários de veículos de propulsão humana; e o mais grave e absurdo que são violações socioambientais de grandes empresas com consentimento de órgãos públicos, como as que têm afetado pescadores, ribeirinhos e surfistas em Regência – Linhares (ES). A repressão estatal contra os manifestantes nos últimos leilões de petróleo no país demonstra que mais que entrega de recursos naturais a multinacionais, o governo não está interessado em diversificar as fontes de matriz energética, e tempera todo ar com pimenta e desce a borracha em quem traz alguma posição contrária. O Fórum do ES vem através de debate e ação direta suscitar a necessidade de superação da sociedade petroleira a qual vivemos, e denunciar e unir forças para paralisar arbitrariedades, abusos e crimes ambientais no solo e mar capixabas. Desmafializar é preciso, reinventar é necessário.

A recente primavera brasileira com toda sua heterogeneidade, contradições, diversidade, limites, abusos, retrocessos e avanços, trouxe uma questão fundamental do modo de ser fazer política: Não somos obrigados a sacrificar uma população inteira para o lucro de poucos. Portanto não somos obrigados a engolir acordos das máfias petroleira e automobilística, que pretendem nos fazer crer que este mundo é absoluto. Neste sentido, as demandas de garantia dos direitos socioambientais de comunidades tradicionais e de áreas naturais, e a luta por outra mobilidade urbana na cidade dominada por acordos legais e ilegais da iniciativa privada, se torna uma só luta, e o pedal vem convidar tod@s para esta aderência campo/cidade.

No dia 23 de janeiro às 8h, ciclistas partirão com suas “máquinas” e desejos de dois pontos diferentes: no norte do estado, em Itaúnas/Conceição da Barra, e em Vitória onde será realizado um ato público em frente à sede da Petrobrá$ na Reta da Penha. Tod@s se encontraram em Regência no dia 26 de Janeiro e retornam no dia 27. O pedal terá um automóvel de apoio em cada trajeto, e os ciclistas contarão com estadia, alimentação e água garantidas pela organização do evento. O transporte que é por sua conta! Participe! Traga sua bicicleta e a vontade de pedalar por outro mundo!