17/11/2006 13:52
Fausto Oliveira
Uma das maiores e mais importantes redes de organizações sociais fez sua assembléia em São Paulo no último fim de semana. Trata-se das Owinfs, ou Nosso Mundo Não Está à Venda (Our world is not for sale, daí a sigla em inglês). A Owinfs congrega organizações de todos os continentes numa intensa agenda de lutas sociais contra, principalmente, a Organização Mundial do Comércio (OMC). Porém, a assembléia de São Paulo definiu ums ampliação do rumo da organização: além do foco na OMC, agora a rede também vai se concentrar numa grande preocupação dos movimentos sociais, ou seja, os tratados bilaterais e regionais de livre comércio.
Um exemplo é a América Latina. Na nossa região, alguns tratados bilaterais e regionais já estão sendo firmados com os Estados Unidos, como o Tratado de Livre Comércio Andino, que reúne Colômbia e Peru, ou como o tratado bilateral entre Chile e Estados Unidos. São iniciativas que tentam reproduzir, em escala menor, o mesmo que a OMC tenta fazer em escala global. O plano do livre comércio é muito simples: barganhar com as elites nacionais do sul pequenas vantagens no acesso a mercados do norte. Em troca, os governos do sul se comprometem a abrir de forma irresponsável setores ainda não consolidados de suas economias. O resultado disso é fácil de prever: desemprego, dependência econômica, falta de perspectivas de desenvolvimento, danos socioambientais.
Contra isso a rede Owinfs joga toda sua força há vários anos. Mas, com a assembléia em São Paulo, houve acordo quanto ao fato de que a luta contra o livre comércio deve ser travada regionalmente, e não apenas em escala global. Uma das maiores razões para isso é exatamente a vitória que representa a paralisia das negociações na OMC. Para Fátima Mello, diretora de relações internacionais da FASE, “obviamente a Owinfs não deixou de tratar de OMC, que é uma agenda central, mas conseguimos incluir na agenda esses processos que mobilizam tanto os povos no sul, que são esses tratados regionais e bilaterais”.
A mudança vem acompanhada, necessariamente, de uma nova abertura aos movimentos sociais. Em quase todo o mundo, há movimentos de pequenos agricultores, sindicatos, trabalhadores de diversos setores, que sentem as ameaças do livre comércio. São eles que, com suas mobilizações, forçam a correlação de forças em suas sociedades para um lado, obrigando seus governos a ouvi-los. A Owinfs, em São Paulo, decidiu que vai dar mais força a estas mobilizações locais. Afinal, viu-se que são estas mobilizações que geram mudanças nas atitudes dos governos ao negociar o comércio internacional.
Fátima Mello afirma que a assembléia teve quem defendesse que basta tornar os governos conscientes dos malefícios da abertura irresponsável das economias. Mas apenas isso não parece ser o suficiente. “Existe uma grande cobrança em relação ao Brasil de que nós fôssemos capazes de dizer ao Lula quais os males que vêm desse tipo de acordo, quando na verdade ele está cansado de saber. A questão é: qual é a correlação de forças que existe hoje na sociedade brasileira, à qual ele tem que repsonder? Até agora, a correlação de forças é favorável às exportações do agronegócio, e por isso o governo tem dito que aceita abrir a economia nos setores de indústria e serviços. Não se trata de contar para o Lula. Trata-se de gerar processos nas sociedades que possam alterar os jogos de força para produzir mudanças”, diz ela.