Martina Medina
29/02/2024 16:05

Em 2023, a cidade do Rio de Janeiro foi reconhecida, pela quarta vez, como referência em gestão ambiental, recebendo nota A da organização inglesa Carbon Disclosure Project. Tecnologias em parceria com a Nasa, como o LHASA Rio, que avalia riscos de deslizamentos, e o Rio Flood Model, que prevê enchentes, são algumas das responsáveis pelo destaque carioca em ações climáticas pelo mundo. No estado do Rio, foi destinado R$1 bilhão a novas tecnologias, incluindo sonares que captam imagens de alta definição em buscas subaquáticas. A previsão é que o gasto totalize R$ 3 bilhões até 2024.

Ainda assim, a Região Metropolitana do Rio foi palco de novas tragédias causadas pelas chuvas em janeiro deste ano. A Baixada Fluminense foi a mais afetada pelos 200 mm que caíram em apenas seis horas. O local, que fica abaixo do nível do mar, teve a situação agravada pela maré alta, impedindo o escoamento das águas para a Baía de Guanabara e prolongando alagamentos por dias. No total, 100 mil pessoas foram afetadas, incluindo 12 mortas e 25 mil desalojadas – quatro mortes aconteceram na cidade do Rio, três em Duque de Caxias, duas em São João de Meriti, duas em Nova Iguaçu e uma em Belford Roxo.

Além do investimento em tecnologia, municípios e o estado do Rio afirmam executar medidas preventivas, incluindo drenagem e desassoreamento de rios, limpeza das caixas de ralo, contenção de encostas, construção de piscinões, urbanização de favelas, monitoramento meteorológico e de áreas de riscos, além de sistemas de alertas, capacitação de técnicos e da população em simulados e estabelecimento de abrigos.

Mas, afinal, por que, apesar de todas essas medidas, as tragédias seguem acontecendo? Especialistas ouvidos por Um Só Planeta afirmam que as ações são insuficientes e apontam as soluções necessárias no curto, no médio e no longo prazo para enfrentar uma questão que segue afetando o estado ano após ano com desastres já anunciados.

Sinais de alerta

Os especialistas alertam para a falta de continuidade e integração entre as medidas tomadas diante de um regime de chuvas mais intenso do que nunca. “Medidas desvinculadas podem até ter um impacto positivo local, mas, sem uma visão sistêmica, limita-se o potencial em reduzir os danos e prejuízos”, afirma o engenheiro civil Osvaldo Rezende, especialista em recursos hídricos da Escola Politécnica da UFRJ.

A geógrafa Ana Lúcia Britto, professora de Urbanismo da UFRJ e pesquisadora do Observatório das Metrópoles, acrescenta que as ações de desassoreamento e recuperação de margens de rios deixam a desejar na capital carioca, onde a urbanização de favelas anda a passos lentos. A situação seria ainda pior nos demais municípios metropolitanos.

Drenar e desassorear os rios é um processo complexo e custoso, que exige técnicos e equipamento pesado, que deveria ser combinado com aumento da permeabilidade do solo e realocação de moradores. “Uma cidade como o Rio teria recursos para investir, mas a maioria da região metropolitana, não”, diz Aercio Barbosa de Oliveira, coordenador da ONG FASE RJ (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional).

Leia a matéria publicada no site Um Só Planeta

Leia a entrevista do coordenador da FASE Rio na íntegra.

*Jornalista do site Um Só Planeta