09/03/2016 17:13
Sara Pereira¹
O dia 8 de março foi marcado pelo banzeiro² feminista nas ruas de Santarém. As mulheres são como as águas, crescem quando se juntam. Esse foi o mote da marcha que levou as mulheres de Santarém e Belterra a ocuparem a rodovia mais movimentada da cidade, a Santarém-Cuiabá.
Quilombolas, indígenas, pescadoras, agricultoras familiares, trabalhadoras urbanas e estudantes uniram-se numa onda de resistência para dizer não aos portos no Maicá, às hidrelétricas no Rio Tapajós e ao agronegócio. Os pronunciamentos das mulheres durante a caminhada deixaram claro que o desenvolvimento que se quer para região é que sejam feitos investimentos em políticas públicas que potencializem a produção regional, centrada na agricultura familiar agroecológica, na horticultura, na pesca, no turismo, na valorização das tradições culturais e na garantia dos direitos territoriais das populações tradicionais.
No horário de pico no trânsito, as carretas de soja tiveram que seguir lentamente atrás do ato público em defesa do Lago do Maicá – ameaçado pela construção de portos graneleiros. Com faixas, cartazes, palavras de ordem, batuque e cantoria, as mulheres manifestaram sua indignação e protesto contra esse modelo de desenvolvimento que privilegia o agronegócio (centrado na política de exportação) em detrimento dos sistemas produtivos locais, deixando na região um lastro de danos ambientais e sociais e graves violações de direitos.
É esse modelo de desenvolvimento que vem dando certo secularmente na região, só precisa receber investimentos públicos para se consolidar. Mas, quando será que a prioridade dos governos deixará de ser a política de exportação, que privilegia o agronegócio, para focar nos sistemas produtivos regionais?
Essas questões nortearam o debate feito pelas mulheres antes da Caminhada. Pescadoras, agricultoras e lideranças feministas socializaram suas experiências, destacando como os impactos dos grandes projetos recaem sobre as mulheres, violando seus direitos e ferindo sua dignidade.
O ponto alto da manifestação foi a parada em frente ao porto da Cargil, símbolo do saque do capital na região, da destruição ambiental, das mazelas sociais e da agressão aos direitos territoriais. No cruzamento das Av. Tapajós e Cuiabá, o Ato Público parou para os depoimentos e repúdio das mulheres e apresentação teatral de jovens. Com muita animação, a banda composta só por mulheres fazia ressoar o batuque dos protestos. Por cerca de 45 minutos o trânsito ficou totalmente paralisado, fazendo com que os motoristas das carretas de soja explodissem as buzinas. O que não intimidou as mulheres que responderam em coro: “não adianta buzinar que aqui não vai passar…. não vão passar, não vão passar os portos no Maicá”.
O programa da FASE na Amazônia se uniu a organização e realização do ato, que contou com a participação de diversos movimentos sociais da região.
[1] Educadora do programa da FASE na Amazônia.
[2] Como onda e maresia são chamados no Pará.