10/08/2017 12:01
O Festival Latinidades é um espaço de aprendizado, troca e fortalecimento¹. É um evento que em 2017 completou 10 anos e isso não é qualquer coisa. Ter um festival que reúne pessoas tão importantes e que mobiliza gente pelo Brasil inteiro é algo que deve ser valorizado. Só estando presente para compreender a dimensão de sua importância. Conhecer mulheres de todos os cantos do Brasil, conhecer o que elas estão fazendo em seus territórios e círculos é muito enriquecedor.
Utopias Coletivas e projetos de futuro
Helen Nzinga²
Compor uma mesa com Lúcia Xavier³ e Eloá Rodrigues foi algo maravilhoso. Duas mulheres que pra mim são referências incríveis falando bem do meu lado, inspirando a todos e todas com suas experiências e reflexões coerentes, sinceras e emocionantes. Na verdade, emoção foi um sentimento que esteve presente comigo durante todo o evento, e mais ainda nesse encontro em que tive a honra de contribuir com algumas perspectivas ao lado dessas duas mulheres incríveis.
Provocando-nos com seus questionamentos a respeito do futuro que queremos para o país e para nós mesmas, Lúcia iniciou a reflexão daquela manhã de sexta. Reflexão coletiva em tom de conversa que ia desde perspectivas de futuro à estratégias de organização e ocupação de espaços.
Houve de tudo. Todas que quiseram contribuir assim fizeram, por meio de crítica à postura de letargia de parte da militância negra, que parece deslumbrada com algumas conquistas, ou através do canto, evocando o sentimento de ancestralidade em músicas cujas letras falavam de nós. Foi emocionante!
Ao final, Lúcia voltou com a fala trazendo os princípios da marcha de mulheres negras que, este ano, teve sua terceira edição em Copacabana, no Rio de Janeiro. Lúcia trouxe-nos pilares norteadores que são essencialmente lemas da marcha: contra o racismo, a violência e pelo bem viver. Nossos passos vêm de longe, uma puxa a outra.
Ocupando espaços
Eloá Rodrigues4
Refletir sobre minha participação no Latinidades é analisar o quanto, infelizmente, os espaços de visibilidade, ainda são elitistas e brancos. Porém há uma incessante luta para enegrecer e dar representatividade a quem ainda não se contempla com as representações já postas.
O Latinidades é uma porta de acesso para dar visibilidade a quem ainda não consegue alcançar alguns espaços, e, para mim, foi uma experiência única e especial. Principalmente por poder compartilhar minhas vivências e minha história com tanta pessoas incríveis.
Foi construído um espaço seguro e confortável para dialogar sobre nossas questões e para criarmos e compartilharmos nossas estratégias de existência e resistência nesta estrutura da nossa sociedade patriarcal, machista, misógina, LGBTfóbica, eurocêntrica e racista.
Entretanto, o Latinidades ainda é direcionado para um determinado público, o que facilita a comunicaçãoe o entendimento dos debates, o que faz com que muitas outras histórias e vivências de pessoas que tem muito a contribuir ainda fiquem de fora destes espaços de visibilidade e trocas. Contudo, mesmo frente aos retrocessos é preciso acreditar, criar possibilidades e dar condições para que estes espaços se tornem menos elitistas e academicistas. E que realidades pretas, periféricas, LGBTs e tantas outras marginalizadas, passem a ter reconhecimento, autenticidade e o devido protagonismo para que cada vez mais ocupem estes espaços de visibilidade e de privilégios.
[1] Publicado originalmente no Canal Ibase.
[2] Estudante de Ciências Sociais na UFRRJ, educadora popular do Instituto de Formação Humana e Educação Popular (IFHEP) e rapper.
[3] Coordenadora da organização Criola, atuando com temas como raça, gênero, direitos humanos, políticas públicas, saúde da mulher negra e antirracismo. Integra o Conselho da FASE.
[4] Estudante de Ciências Sociais-UFF e Integrante do Afrohub-Rio de Janeiro.