15/04/2019 16:02

Levantamento realizado anualmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), revela que aproximadamente um milhão de pessoas estiveram envolvidas em conflitos no campo no Brasil em 2018. Foram 960.630, contra 708.520, em 2017. Um aumento de 35,6%. Nos conflitos especificamente por terra, foram 118.080 famílias envolvidas, em 2018, contra 106.180, em 2017. Todos os dados podem ser acessados no site da CPT

O patamar de famílias envolvidas em conflito tem aumentado significativamente a partir de 2013, quando foram registradas 87.889 ocorrências. Totalizando uma média anual de 127.188 conflitos  por terra no período da chamada ruptura política (2015-2018). Entretanto, o aumento do número de pessoas envolvidas em conflitos não foi homogêneo no Brasil. Sendo assim, foi o aumento exponencial do número conflitos na região Norte – de 119,7% em 2018 em relação a 2017 – o maior responsável pelo aumento geral do número de pessoas envolvidas em conflitos no país. Sendo assim, o Norte passou a predominar entre todas as regiões brasileiras quanto ao número de pessoas envolvidas com uma proporção maior que todas as regiões somadas, ou seja, 51,3% de todas as pessoas envolvidas em conflitos no Brasil etão nessa região. O que reforça a teoria de que o avanço/invasão da Amazônia, será corroborado pelos demais indicadores dos conflitos. 

Acirramento da violência faz explodir o número de famílias expulsas

Somente em 2018, o poder privado foi o responsável pela expulsão de 2.307 famílias e o poder público por 11.235 famílias. Um dos registros que melhor capta as ações violentas do poder privado é o registro das ocorrências de expulsão, das ameaças de expulsão e do número de famílias expulsas.

O número de famílias expulsas pela ação do poder privado no campo aumentou 59% em relação a 2017.  Três regiões foram responsáveis pela maior parte das expulsões: Norte, com 36,3%; Sudeste, com 35,6 % e; Centro-Oeste com 24,9%.

Conflitos por terra

2018 registra que as ocorrências de conflitos no campo aumentaram em relação a 2017, passando de 1.431 para 1.489. As ocorrências dos conflitos específicos por terra apresentaram um aumento expressivo a partir de 2016, já no período da ruptura política (2015-2018). 

A CPT chama atenção para o ano de 2015, quando se inicia o período de ruptura política, e viu a área em disputa em conflitos no campo aumentar em 163% em relação a 2014, passando de 8 milhões e 134 mil hectares para 21 milhões e 387 mil hectares em conflito.

Entre 2016 e 2017, o aumento na área em disputa foi de 56% e essa tendência se manteve em 2018, ainda que com um aumento menor, de 3%. A região Norte teve 92% da extensão de terras implicadas em conflito no total do país, o que indica, de modo incontestável, a invasão que a região vem sofrendo. 

2019 e o já aparente aumento dos assassinatos

Houve uma queda substancial no número de assassinatos. Caiu de 71, em 2017 quando tiveram cinco massacres, para 28, em 2018. A CPT analisa que anos eleitorais tendem a ter uma diminuição nesse tipo de violência. Contudo, 2019 já aponta o retorno do aumento dos assassinatos. Nos quatro primeiros meses do ano, a organização já registrou 10 mortes em conflitos no campo, e esse número pode ser ainda maior.

Num ataque ocorrido no Amazonas no dia 30 de março, 1 pessoa foi assassinada e 3 ou mais pessoas podem estar desaparecidas, conforme relatos de moradores, já que as famílias ainda não se sentiram seguras para retornar às suas casas. O total registrado até o momento já representa 36% das mortes registradas em 2018. 

Nas rotas dos conflitos

Diana Aguiar, do Grupo Nacional de Assessoria da FASE, contribuiu para a publicação com um artigo “Nas rotas dos conflitos“. A assessora apresenta como a bacia do Tapajós (PA), região de ocupação ancestral do povo indígena Munduruku, se tornou alvo de inúmeros projetos logísticos nos últimos anos. “Diversas empresas transnacionais de comercialização de commodities agrícolas (as chamadas tradings) compraram terrenos cujos títulos apresentam indícios de grilagem, alimentando a especulação, bem como os conflitos pela terra na região”. No documento, Diana reforça que não é somente sobre o Tapajós que incidem projetos de corredores logísticos, que implicam na apropriação privada da terra em territórios indígenas e de ocupação tradicional e camponesa. “A lógica é encontrar rotas mais rápidas entre as zonas de expansão dos monocultivos e o novo destino prioritário da soja, a China”.