31/07/2019 17:43
Fernanda Couzemenco¹
A construção de uma sociedade pós-petroleira exige esforços diversos e, no momento político atual, de criminalização dos movimentos sociais, ambientalistas e defensores de direitos humanos, é muito importante prestar o devido reconhecimento a quem não se deixa intimidar e faz da luta por uma sociedade melhor o seu dia a dia.
Nesse sentido, 28 pessoas e duas instituições foram homenageadas pelo Prêmio Guardiãs e Guardiões da Natureza, promovido pela Campanha Nem Um Poço a Mais, do qual a FASE é parte, na noite dessa segunda-feira (29) no Museu Capixaba do Negro (Mucane), Centro de Vitória, no Espírito Santo (ES).
Os organizadores ressaltam que os homenageados são homens e mulheres, jovens e anciãos, que atuam de norte a sul e de leste a oeste do estado, em defesa dos direitos das comunidades e segmentos da sociedade mais impactados pela indústria petroleira e “mais ameaçados pela petrodependência”. “São defensores das águas e dos territórios livres para a vida!”, resumem. As comunidades pesqueiras, quilombolas e indígenas e os espaços de educação popular e economia solidária são as principais áreas de atuação dessas guardiãs e guardiões.
Veja a lista completa de homenageados:
S. Bi (Benedito Matias Porto) – pescador sábio e ancião em Conceição da Barra, membro fundador de várias organizações representativas da pesca.
Nego da Pesca (Manuel Bueno dos Santos) – presidente da Federação Estadual de Pescadores e da Associação de Pescadores de Jacaraípe/Serra.
Simião Barbosa dos Santos – presidente da Associação de Pescadores de Povoação, comunidade de pesca artesanal na foz do Rio Doce, em Linhares.
Jamilson – pescador na região de Linhares e entorno do Rio Doce.
Gessi Cassiano – quilombola da Comunidade de Linharinho, em Conceição da Barra, agroecologista e liderança entre mulheres e jovens, grupos de jongo e religiosidade africana.
Sapezeiro (Antônio Rodrigues de Oliveira) – liderança quilombola na Retomada de Linharinho, onde desenvolve preciosos experimentos de bioconstrução e agroecologia.
Ana Paula – pescadora artesanal da comunidade do Pontal de Marataízes.
Neia (Rosinea Pereira Vieira) – liderança da pesca artesanal e presidente da Associação de Pescadoras de Porto de Santana, em Cariacica.
Lucila da Rocha Lopes – importante liderança da pesca artesanal no Sul do Espírito Santo. Pescadora e marisqueira de raiz, Lucila também é presidente da colônia de Itaipava.
Joice Lopes – defensora de várias causas e povos, a partir de Barra do Riacho/Aracruz.
Herval Nogueira Junior – também na Barra do Riacho, é veterano defensor dos direitos humanos e da natureza. Ex-diretor do Sindicato dos Portuários, fundador da Rede Alerta contra o Deserto Verde.
Ricardo Sá – cineasta, produtor, cameraman, roteirista e diretor capixaba, autor de obras como “Cruzando o Deserto Verde”, “A Retomada de Linharinho”, “Nem um poço a mais”, exibidos nos territórios e em muitos países.
Rogério Medeiros – um dos mais importantes jornalistas do Espírito Santo. Sua fotografia singular e seus textos são fontes preciosas para compreender a devastadora chegada dos grandes projetos que destruíram a natureza e os territórios.
Ivny e Kathiuska – duas jovens artistas, ativistas do teatro popular, dos saraus de música e poesia, da economia solidária, criadoras do Coletivo Arte e Cultura, em Itapemirim, no sul do Estado.
Luzia (Luzinete Serafim Blandino) – quilombola da Comunidade de São Domingos, em Conceição da Barra.
João Batista Guimarães – quilombola do Angelim 1, em Conceição da Barra, técnico agrícola e educador popular, tendo lecionado em assentamento do MST e atuado na equipe da FASE no Espírito Santo.
Katia dos Santos Penha – quilombola da comunidade de Divino Espírito Santo, em São Mateus, fundadora da Comissão Quilombola de São Mateus, da Comissão do Sapê do Norte, da Comissão Estadual Quilombola Zacimba Gaba e dirigente da Coordenação Nacional de Quilombos (Conaq).
Silvia Lafaiet Pires – mulher marisqueira, caranguejeira, pescadora, cozinheira, criadora de abelhas que vive em São Miguel, em São Mateus.
Neia (Edineia Rosa Neves) – militante do MST no Espírito Santo. Acampada, enfrenta reintegrações de posse da Petrobras e da Suzano, e é uma importante referência da luta das mulheres sem terra contra a monocultura do eucalipto e a expansão petroleira no estado.
Gal (Galdene Santos) – tem trajetória de luta em fóruns, conselhos, movimentos, comissões e grupos de defesa de causas diversas. Hoje coordena o CDDH da Serra e articula o MNDH no Espírito Santo.
Gabriel Lavinsky e Yolanda Faustini – criadores da Oficina do Lixo. E ensinam experimentos de redução do uso, de re-uso e descarte responsáveis com a natureza.
Curso Risoflora – uma fantástica experiência de educação popular em Maria Ortiz, Vitória (ES). Com arte e cultura, debate as questões de raça, de gênero, sexualidade, meio ambiente.
Vitor Taveira Rocha – jornalista do rádio e da música, do vídeo e do cineclubistmo, do texto e da internet. Fundador de Soy Loco por Ti e do Cineclube El Caracol, articulador da agroecologia no CSA do Sapê do Norte/Região Metropolitana de Vitória.
Cacique Zé Barcelos – Rio Doce, em Linhares. Luta contra a Petrobras em defesa dos direitos indígenas e da natureza.
IAOTO – coletivo cultural localizado em Fundão, vinculado às religiões de matriz africana, especialmente o Candomblé. Exemplo de sustentabilidade ecológica e econômica através das suas práticas, vivências e ritos.
Rosa Maria Nascimento Miranda – junto ao grupo Kisile, trabalha pela igualdade e pelos direitos das crianças, dos jovens, das mulheres, dos negros, pelo acesso à cultura e à alimentação de qualidade para o corpo e a alma.
Emil Schubert – Sábio ancião, educador popular, pastor ativista, orador excepcional, Emil é uma referência para os movimentos sociais capixabas.
Dona Dora – mulher, negra e artesã do mar, habitante na Praia das Neves, em Presidente Kennedy, no extremo Sul do Espírito Santo. Uma referência para o artesanato, para a economia solidária e popular, para as lutas das mulheres negras capixabas.
A Campanha
A Campanha Nem Um Poço a Mais² tem apoio da União Europeia, da Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA), do Fórum Suape, da organização OilWatch, do Fórum dos Atingidos pela Indústria do Petróleo e Petroquímica nas Cercanias da Baía de Guanabara, do programa da FASE no Espírito Santo, entre outras entidades e coletivos ligados a comunidades tradicionais impactadas pela indústria petroleira.
[1] Matéria publicada originalmente no Século Diário.
[2] O conteúdo deste artigo não pode, em caso algum, considerar que reflita a posição da UE.