12/06/2020 10:18

Equipe da FASE em Pernambuco

“Eu quero o sol que é de todos. Ou alcanço tudo o que eu quero ou gritarei a noite inteira, como gritam os vulcões, como gritam os vendavais, como grita o mar e nem a morte terá força para me fazer calar”. Inspirada na poesia de Carlos Assumpção, a equipe do programa da FASE em Pernambuco tem se perguntado como seguir sendo uma organização de educação e de solidariedade em meio a uma pandemia que nos obriga o isolamento social, que restringe o acesso a públicos, movimentos sociais, lideranças populares, parceiros e seus territórios de vida? Interromper um trabalho de educação popular em curso? Luiza Marilac, coordenadora da FASE no estado responde que não. “Pelo contrário. Cuidar e ajudar a salvar vidas resume como temos atuado durante a pandemia, mesmo em trabalho home office, procurando nos colocar ainda mais ao lado daqueles e daquelas que agora se deparam com uma ampliação dos efeitos perversos das desigualdades em seu cotidiano. Apesar do caos que vive o país e apesar do vírus, ‘querer para todos’ e ‘gritar coletivamente’ para romper o risco do silenciamento permanecem ativos em nossa missão! ”.

De acordo com Luiza, essa nova forma de trabalho tem afirmado cada vez mais os sentidos e a importância de uma prática de educação popular lado-a-lado com práticas de ajuda humanitária, de apoio emergencial e solidário. “Em Pernambuco, distribuímos alimentos, material de limpeza e máscaras, e realizamos ações de incidência política contra a invisibilidade de segmentos sociais como trabalhadoras e trabalhadores informais, ambulantes, artistas, pescadoras, movimentos sociais e pessoas sem teto, catadoras de material reciclado, costureiras, jovens e mulheres negras, além de suas comunidades ou seus Terreiros, visando a defesa de seus direitos e de políticas públicas no contexto de crise social e sanitária”.

Ao todo, em cerca de dois meses foram doados quase 3mil kits de higiene e alimentação para pessoas, movimentos sociais e territórios vulneráveis. Regiões periféricas como a Ocupação Carolina de Jesus, Sítio dos Pescadores, Ocupação Pocotó, Palha de Arroz, Alto José do Pinho, Cidade Tabajara, Coqueiral, Córrego do Euclides, Santa Luiza, comunidade Tururu, além de localidades da Região Metropolitana do Recife foram áreas onde essa doação conseguiu chegar. Além disso, 40 jovens acessar auxílio financeiro direto.

Jaqueline Maria, agricultora familiar da comunidade Glória do Goitá, é uma das produtoras que vendeu seus produtos para a FASE doar a famílias de Aliança com Cristo, Coqueiral e Fazendinha. “Essas compras estão ajudando as famílias que precisam e os agricultores.  Foi de grande aprendizagem poder conhecer mulheres do acampamento Aliança com Cristo, mulheres fortes e corajosas. Aproveito para dizer que nós baixamos os preços para que a FASE pudesse comprar mais produtos orgânicos, assim o número de famílias que receberam foi maior, essa foi uma contribuição nossa para essas famílias que luta para ter direitos a uma moradia”.

“Toda essa ação só foi possível a partir da mobilização de parceiros, articulações de movimentos e de ONGS de defesa do direito à cidade, implementando campanhas coletivas para arrecadação de recursos financeiros na sociedade local, junto a artistas, junto a parceiros da cooperação internacional, junto a amigas e amigos de outros países, com nossos próprios recursos ou mesmo orientando movimentos sociais, grupos e comunidades nessa mobilização”, explica Luiza. Até 15 de maio, a FASE em Pernambuco mobilizou emergencialmente quase R$ 82 mil em favor dessas pessoas, movimentos e comunidades. “Esse esforço está fazendo com que a FASE compre alimentos de agricultoras e agricultores familiares locais e os distribua para famílias de áreas de ocupação urbana, fortalecendo a economia popular e local e assegurando o auxílio financeiro a 40 jovens de periferias até agosto”.

“Durante esse período de pandemia mundial, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Pernambuco, com apoio da FASE Pernambuco, conseguiu fazer uma ampla ação de apoio aos quatro territórios que o grupo atua. Foram distribuídos 150 kits de higiene, 150 cestas agroecológicas e 100 cestas básicas. Além dessas ações de cuidado alimentar e com a higienização das/os ocupantes, também foram realizadas ações específicas para as crianças com a intermediação de 216 kits educativos pra 4 territórios de ação do movimento e 50 kits de lanches para crianças e adolescentes da Ocupação Carolina de Jesus. Assim, reforçamos que – dentro das possibilidades do período – atuamos conjuntamente na tentativa de garantirmos alimentos e materiais que possibilitassem às famílias moradoras de ocupações urbanas um período mais digno de isolamento social”, Amanda Montenegro, coordenadora MTST/Pernambuco.

Como organização de educação popular e de solidariedade, a FASE segue fortalecendo organizações, coletivos e movimentos sociais na defesa de seus direitos, orientando famílias e seus territórios para a proteção a Covid-19, mas, especialmente procurando fazer com que mantenham ativas suas capacidades de incidência e de luta política na defesa de seus direitos, pois, essa solidariedade vai transformar a todas e todos nós e vai nos fortalecer para que, juntas e juntos, transformemos a palavra de hoje em um grito, tal qual disse o poeta: “sou eu quem grita sou eu, o enganado no passado, preterido no presente. Sou eu quem grita sou eu” para ajudar a salvar e a cuidar de vidas.