05/05/2021 17:02
O fantasma da fome, que voltou a assombrar milhares de brasileiros mesmo antes da pandemia, não assusta a educadora Débora Aguiar, de Pernambuco — ao menos enquanto a ajuda durar. “Está sendo possível ter comida na mesa, manter o consumo de carne, ter um alimento para poder pensar no alimento para o outro”, comemora a ativista e mobilizadora da Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (RENFA). Débora é uma das 114 jovens atendidas pela FASE no Rio de Janeiro e em Pernambuco, e recebe um cartão alimentação no valor de R$ 300 — apoio garantido a partir da parceria com a Oxfam.
Iniciativas como a da FASE Pernambuco minguaram em 2021. No fim do ano passado, vimos as ações de solidariedade diminuírem por todo o país. Se por um lado as elites naturalizam as mais de 400 mil mortes pela Covid, de outro a grande massa de trabalhadores da cidade e do campo precisa escolher entre a fome, o desemprego e o vírus. Na dúvida, a população, principalmente a mais jovem – que ocupa cada vez mais leitos e conta cada dia mais mortes – enfrenta transportes públicos lotados em busca do alimento ou de uma chance de trabalho. De acordo com o IBGE, a projeção do desemprego do país ficará em torno dos 14% este ano, a maior taxa desde 2012. A volta do Brasil ao Mapa da Fome é outro fator que acende o alerta de organizações que atuam na área da segurança alimentar. Em 2018, dez milhões de brasileiros estavam em níveis graves de insegurança alimentar, segundo o IBGE. A FASE, assim como diversas organizações da sociedade civil, tem se mobilizado desde o início da pandemia para enfrentar o vírus nas comunidades e territórios onde atua. Só este ano, as unidades do Espírito Santo e Pernambuco investiram R$179 mil na compra de alimentos de agricultores familiares. Os produtos são distribuídos para as famílias mais necessitadas em cada região, fortalecendo tanto o produtor, que perdeu as oportunidades de vender seus alimentos, quanto quem recebe as doações. Desde o início da pandemia, a FASE mobilizou cerca de R $1,2 milhão para apoiar ações de solidariedade pelo país. Comunidades tradicionais, quilombolas, de periferias urbanas e do campo foram atendidos, principalmente mulheres e jovens.
Dois exemplos de ação direta da FASE
Além da entrega de cerca de 300 cestas agroecológicas, o programa da FASE capixaba está apoiando o monitoramento do serviço de vacinação nas comunidades quilombolas de Conceição da Barra, São Mateus, Montanha e Jaguaré, no norte do estado. Até o dia 19 de abril, 4.176 pessoas já foram vacinadas com a primeira dose. Essas ações são apoiadas financeiramente pela Misereor e realizadas em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Associação de Pescadores, Marisqueiros e moradores de São Miguel- São Mateus, Associação de Pescadores Artesanais de Porto Santana e Adjacências (APAPS) e Federação das Associações de Pescadores profissionais, artesanais e agricultores do Espírito Santo (FAPAES), além da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Espírito Santo Zacimba Gaba e CONAQ.
Em Pernambuco, as ações de apoio também chegam a cerca de 80 famílias moradoras da ocupação Carolina de Jesus, Aliança com Cristo, Sítio dos Pescadores e Pocotó, além de 18 lideranças urbanas moradoras das comunidades de Passarinho; Santa Luzia, Palha de Arroz, Paulista, Ocupações: Aliança com Cristo, Carolina de Jesus, Pocotó, Sítio dos Pescadores, Cavaleiro, Jardim Resistência, Ibura. Outras 20 mulheres lideranças pescadoras: Itapissuma, Goiana (Baldo do Rio, Tejucupapo, Povoado de São Lourenço/quilombo, Carne de Vaca), Sirinhaem, Rio Formoso, Jaboatão, São José da Coroa Grande, Olinda e Lagoa do Carro e 15 mulheres negras da Feira das Pretas, moradoras da periferia do Recife e Região Metropolitana, também são apoiadas.
Em Mato Grosso, onde já foram doadas mais de 1 tonelada de sementes e mudas a agricultores familiares impactados pelas queimadas em 2020, está prevista para os próximos meses a aquisição de alimentos da agricultura familiar local. Serão cerca de R$ 100 mil empregados nesta ação. A iniciativa também marca a retomada do diálogo com os parceiros da rede de comercialização Caminhos da Agroecologia, e será viável a partir do apoio da Misereor.
A pandemia no Brasil não só continua, mas acelera em um ritmo descontrolado. Mesmo quando tudo terminar e toda a população estiver vacinada, teremos um imenso contingente de brasileiros em situação de vulnerabilidade social e abaixo da linha da pobreza. A FASE reforça o compromisso de intensificar a mobilização das organizações da sociedade civil na busca por democracia, segurança alimentar e justiça social.