Júlia Motta
30/03/2023 15:13
Nesta segunda-feira (27), o programa Bate-papo na Saúde convidou a educadora do Grupo Nacional de Assessoria da FASE, Maiana Maia, e o coordenador do Programa de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Guilherme Franco Netto, para debater o ecocídio nos cerrados brasileiros.
A Fundação está realizando uma pesquisa com a Universidade de Coimbra sobre “Ecocídio e Globalização dos Cerrados Brasileiros: Resistências e Lutas dos Povos Originários e Tradicionais pelo Direito à Saúde e à Vida”, que tem como objetivo ouvir as reivindicações dessas populações para construir políticas públicas de preservação à vida.
Guilherme Franco afirma que o que está sustentando o interesse nesta pesquisa é que há diversas manifestações de vulnerabilidade socioambiental no território do cerrado e também nacionalmente. “E para podermos ter instrumentos que apoiem as nossas ações, buscamos novas compreensões da realidade”, diz.
“O cerrado hoje é uma zona de sacrifício. A gente tem a expansão da soja que nos últimos 40 anos cresceu dez vezes no território nacional, geralmente sobre os cerrados, que também tem sido alvo dos projetos minerários”, esclarece Maiana Maia, educadora da FASE que também faz parte da Secretaria Executiva da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado.
Maiana defende que para proteger o cerrado, é preciso além de ouvir, conhecer e o bioma e as populações que o habitam. “Tem um termo emblemático, do agricultor Edilson, que é ‘olhar que olha e não vê’”, conta. Ele se refere a quando os engenheiros chegavam para fazer estudo de impacto ambiental e falavam que os empreendimentos do agronegócio podiam chegar porque não tinha nada, só uma ou duas comunidades.
Outro ponto destacado pela assessora é a importância do cerrado para o abastecimento hídrico do país. O bioma conta com três grandes aquíferos no seu subsolo, o Guarani, o Urucuia e o Bambuí. “Sem o cerrado, a gente compromete sistemas de abastecimentos urbanos. Não é à toa que o cerrado é conhecido como o berço das águas, a caixa d’água do Brasil”, ressalta.
Essa riqueza, no entanto, está sendo ameaçada pelos grandes projetos desenvolvimentistas. “A cada ano, dez rios secam a ponto de morrer nos cerrados brasileiros”, alerta Maiana. “Os aquíferos são explorados de uma forma tão intensa que a natureza não consegue repor.”
A assessora fecha o programa ressaltando a importância do envolvimento com os povos do cerrado. “Quando a gente dá um passo pra trás e valoriza aquilo que existe e resiste, a gente vê que a necessidade de proteção do cerrado é uma necessidade que repactua esse olhar colonizador”, reflete. “Aqueles povos que são invisibilizados se transformam em guardiões e a gente reposiciona o olhar racista que recai sobre esses povos”, conclui.
Assista o programa na íntegra aqui.
*Júlia Motta é estagiária de comunicação da FASE