Marina Malheiro
13/11/2024 13:27

Com o intuito de denunciar a destruição do Rio Tapajós e celebrar a resistência indígena na região, o povo Tupinambá do baixo Tapajós (oeste do Pará) organiza, entre os dias 15  e  17 de novembro, o 7º Grito Ancestral. Este ano, o evento reivindica o cancelamento do projeto da Ferrogrão, mega-ferrovia que visa aumentar o escoamento da produção de soja do Mato Grosso e do Pará pelo Rio Tapajós.

Reunidos em um banco de areia no rio, formado no período da seca no Território Tupinambá, na Reserva Tapajós-Arapiuns (PA), os manifestantes pretendem chamar atenção ao impacto do corredor logístico do Arco Norte, cujos comboios de balsas, portos e terminais afetam negativamente o rio e os habitantes da região. “Estão nos impedindo de pescar e matando o Rio Tapajós para exportar soja para a China e para a Europa. Se a Ferrogrão for construída, a situação vai piorar ainda mais”, explica Raquel Tupinambá, coordenadora do Conselho Indígena Tupinambá do baixo Tapajós Amazônia (CITUPI).

A programação se inicia no 2º Festival Tapajós Vivo, uma celebração da cultura e da defesa ao Rio Tapajós realizada na Praça Tiradentes, em Santarém, a partir das 18h do dia 15, Dia da Proclamação da República. Com apresentação gratuita de diversos artistas da região, como Andrew Só, Priscila Castro, Os Encantados, DJ Allana, DJ Robacena, Dan Selassie, Livaldo Sarmento, Mestre Chico Malta & Grupo Cobra Grande, Marcelle Almeida e Sambatuque, o evento organizado pelo Movimento Tapajós Vivo arrecada doação de alimentos às comunidades impactadas pela seca extrema.

As ações de protesto no Tapajós ocorrem simultaneamente à COP 29, a Conferência da ONU sobre o Clima, no Azerbaijão. Segundo Pedro Charbel, coordenador de campanhas da Amazon Watch, é fundamental chamar a atenção do mundo à ameaça que a expansão da soja e Ferrogrão representam. “Nosso país será sede da COP no ano que vem e os olhos do mundo estão voltados para o Pará. Não podemos ceder aos interesses da Cargill e outras grandes empresas, temos que cancelar o projeto da Ferrogrão pelo bem do futuro do planeta”, afirma.

Ferrogrão e os impactos no Rio Tapajós

Desenvolvido por demanda da Cargill e outras grandes tradings do agronegócio, o projeto da Ferrogrão (EF-170) visa aumentar e escoar a produção de soja e milho do centro-oeste do Brasil através do Rio Tapajós. De acordo com estudos preliminares apresentados pelo Ministério dos Transportes, os quase mil quilômetros de trilhos entre Sinop (MT) e Miritituba (PA) aumentariam o volume de exportação de grãos pelo rio em mais de 6 vezes até 2049.

Raquel Tupinambá teme que para aumentar o trânsito e navegabilidade de balsas no rio sejam feitas obras de dragagem e explosão dos pedrais que são sagrados para os povos indígenas. “A Ferrogrão vai aumentar o desmatamento para produzir mais soja e vai também aumentar a destruição do rio porque querem escavar o seu leito e explodir os pedrais, que são espaços importantíssimos para nós. A ferrovia vai aumentar os impactos do corredor logístico que já nos afeta, e até agora não fomos consultados”, denuncia.

Para a advogada Bruna Balbi, da organização Terra de Direitos, o Governo precisa realizar a consulta prévia com urgência e analisar os impactos da Ferrogrão de modo relacionado com os demais empreendimentos do corredor logístico do Arco Norte. “Esse corredor envolve mais de 40 portos de transporte de carga, a hidrovia do Rio Tapajós e os passivos da BR-163. É urgente analisar os impactos cumulativos e sinérgicos dessa rede logística na região e, acima de tudo, respeitar o direito à consulta de todas as comunidades e povos afetados, conforme estipula a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho ”, explica Balbi.

Rio Tapajós

O rio Tapajós nasce no estado do Mato Grosso, banha parte do estado do Pará e deságua no rio Amazonas, próximo a Santarém (PA), a cerca de 695 quilômetros de Belém.  Sua  bacia abrange 6% das águas da bacia Amazônica e nas suas margens habitam diversos povos indígenas, comunidades quilombolas e ribeirinhas. Ainda que cruze duas importantes Unidades de Conservação, a Reserva Extrativista Tapajós- Arapiuns, e a Floresta Nacional do Tapajós, muitos projetos se instalam aos arredores do rio irregularmente.

“Até a cor do rio já mudou por causa da soja e da mineração. Existe muita extração de madeira, garimpo e escoamento de produção agrícola da monocultura no Tapajós. Estão matando o nosso rio para um grupo de pequenas empresas lucrar ainda mais, isso tem que acabar, queremos o Tapajós vivo”, afirma Kamila Sampaio, do Movimento Tapajós Vivo.

Ponto de saída de Santarém à Ilage: Porto da Praça da Matriz
Horário: 00h do dia 16
Retorno: 08h00 do dia 17
Contato: 91 982474410 (Daleth Oliveira, Amazon Watch)

*Estagiária da Comunicação, sob supervisão de Isabelle Rodrigues