24/04/2006 12:31
Fausto Oliveira
Nas ruas de Recife, nos espaços abertos da universidade, em tendas montadas no jardim, ou às vezes à beira de um lago, jovens insuflaram de espírito o Fórum Social Brasileiro. Com música, teatro, circo, dança, pinturas, ou ainda com a mistura de tudo isso em diversos formatos diferentes, eles conseguiram juntar o tradicional e o novo, o regional e o universal. E deram poesia e vigor ao evento com sua presença alegre. Assim foi a Jornada Cultural, uma série de acontecimentos que se desenrolaram durante todos os dias do fórum.
Havia forte presença de grupos de Pernambuco, Rio de Janeiro e Pará. Eles vieram a Recife para discutir cultura, arte, política e seu papel no mundo. Como vários destes grupos são apoiados pela FASE, a instituição esteve muito próxima deles em toda sua participação no FSB.
Parte de sua participação foi no formato tradicional. No debate Arte contra o Neoliberalismo, Ronaldo Cescone, da Casa da Cultura da baixada Fluminense, disse que “a cultura é um direito universal, como a saúde e a educação. Os grupos culturais devem exigir esse direito. Se eu tenho gripe, preciso de um médico por perto. Se eu tenho necessidade de arte, preciso de um ponto de cultura por perto. Mas a maior parte das periferias brasileiras não têm isso”.
Ali foi anunciado um programa de intercâmbio de grupos culturais juvenis entre Brasil, Uruguai e Alemanha. Organizações nos três países vão supervisionar viagens de troca de experiências que serão feitas com os grupos. Serão três grupos do Uruguai, dois da Alemanha e pelo menos seis do Brasil a fazer um compartilhamento internacional de visões de mundo.
O ponto alto da Jornada Cultural aconteceu numa periferia de Recife chamada Alto José do Pinho. O bairro era associado exclusivamente à violência urbana e à carência de serviços públicos. Isso se refletia no orgulho dos moradores, que tinham vergonha de dizer que moravam em Alto José do Pinho. Isso mudou depois que grupos culturais começaram a agir na comunidade. Para celebrar o poder da ação cultural sobre a cidade, reuniram-se ali todos os grupos que participavam do FSB para um dia de apresentações.
Foi verdadeiramente uma festa do povo. A comunidade compareceu para ver a expressão genuína de jovens entusiasmados pelas várias linguagens que exploram. Ao final, já noite alta, crianças de menos de dez anos se aglomeravam à frente dos artistas que se apresentavam e começaram, por conta própria, um coro que dizia: “uh, é o Alto aê, uh, é o Alto aê”. Evidentemente felizes por verem seu bairro, outrora marcado pela desordem e a violência, cantado em versos de beleza e animação.