30/01/2009 15:53

Fausto Oliveira

Na atividade organizada pelo Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) no Fórum Social Mundial, dois representantes de grupos tradicionais foram convidados a expor um pouco da situação de vida de suas comunidades. O indígena de Tocantins, Antonio Apinagés, e a quebradeira de coco-babaçu do Maranhão, Maria Adelina, terminaram fazendo análises bastante completas sobre os principais problemas que vive hoje a região amazônica. Uma oportunidade de ouvir diretamente a fala dos povos.

Antonio Apinagés, exemplificando os impactos reais e dolorosos dos grandes projetos de infra-estrutura sobre famílias do meio rural, disse que “quando uma pessoa perde sua terra por causa de uma hidrelétrica, ela perde o rumo da sua vida. Queremos dizer ao governo que esse modelo não é bom. A vida tem um limite e nós não podemos ficar calados”.

Ele também jogou muita força na defesa da agricultura familiar indígena como condição para sobrevivência dos povos originais. “É a nossa cultura. Sabemos trabalhar a agricultura familiar indígena, que é estratégica porque nos dá independência, mas a falta de demarcação da terra pode pôr uma ameaça à sobrevivência dos indígenas”.

Em seguida, ele comentou um famoso argumento contrário às demarcações de terras indígenas no Brasil: a extensão das reservas. “Muitas vezes se fala que as terras indígenas são grandes demais, mas quem critica não se dá conta de que ele próprio vai ser beneficiado, porque terra indígena ajuda a manter o ambiente saudável. Os indígenas prestam um serviço ambiental”.

A quebradeira de coco-babaçu maranhense Maria Adelina fez coro com Apinagés ao criticar o agronegócio. “O agronegócio me tira o sono. O governo anuncia, por exemplo, que está estudando a cadeia produtiva de dez produtos, e o babaçu está entre eles. O que acontece? Existe a possibilidade de fazerem uma máquina de quebrar coco-babaçu. A máquina é vendida e quem ganha é o industrial. E eu fico como aquela que é contrária à tecnologia porque sei quebrar coco, e vejo que a máquina não está fazendo direito. Sou a favor da tecnologia, mas desde que esteja sob nosso controle. Ela tem que nos ajudar a viver, para que nós não vamos engrossar as periferias das cidades”.